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15 de outubro de 2025

Morre Carlos Cabral, que ajudou democratizar o vinho – 14/10/2025 – Isabelle Moreira Lima

Morre Carlos Cabral, que ajudou democratizar o vinho – 14/10/2025 – Isabelle Moreira Lima

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Vinho bom é aquele de que você gosta.” Você já deve ter ouvido essa frase. Eu a ouvi muitas vezes e também piadas com ela. Mas sou a favor da declaração: é libertadora, pois diz que o esnobismo vale menos que o seu paladar e o seu prazer.

O autor da frase (ou quem a celebrizou, no rádio) é Carlos Cabral, um homem que fez muito para democratizar a bebida no país. “Democratizar o vinho” virou clichê, de tão usado por “enomalas” de norte a sul do país que fizeram pouco (ou nada) para a difusão da bebida, até me arrepio ao juntar as duas palavras.

Mas no caso de Cabral vale usá-las juntas, sim, porque foi ele quem levou um acervo bem garimpado a lojas de todo o Brasil da rede Pão de Açúcar quando aquele era um dos mercados mais onipresentes no mapa brasileiro.

Se você descobriu, no supermercado, alguma uva de que gosta muito, alguma região preferida, algum rótulo impressionante para o preço, também a mão de Cabral estive ali. Conhecedor profundo da bebida, viajante e bom degustador, encontrou rótulos interessantes que passaram a ter importação direta e, portanto, preço.

O espanhol Clos de Torribas e o português Quinta da Lixa são dois que não me deixam mentir. Era também um apaixonado pelo vinho do Porto e colecionava rótulos.

Carlos Cabral foi responsável pelo treinamento de muitos vendedores que abordavam clientes que ficavam minutos (ou horas) plantados e perdidos em frente às prateleiras. Com jeito, linguajar direto e fácil e simpatia, sugeriam garrafas e encerravam a agonia. Já estive lá, já vivi isso. Ficaram conhecidos como “cabralzinhos”.

Também escreveu livros que apontavam para a importância cultural e histórica do vinho no país. São dele “Presença do Vinho no Brasil, um Pouco de História” (De Cultura, 2007), em que fala sobre a bebida desde os tempos em que éramos colônia, do consumo milionário pela Casa Real no Segundo Império às primeiras sociedades de amigos do vinho.

Também foi autor de “A Mesa e a Diplomacia —o Pão e o Vinho da Concórdia” (De Cultura 2009), que explora os documentos do Museu Histórico e Diplomático do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, do Itamaraty, no Rio de Janeiro, e apresenta menus e cartas de vinho que também

nos ajudam a contar a nossa história.

Foi fundador da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho (SBAV) e um pioneiro das confrarias. Nos últimos anos, atuava como consultor e fazia vídeos na sua conta de Instagram, a @cabralvinhos. Nos deixou nesta segunda-feira (13) aos 75 anos, vítima de um infarto.

Há uma outra frase de Cabral, que vale ser notada aqui. Traz uma leve alteração na que abre esse texto: “O melhor vinho do mundo é aquele que tomamos ao lado de quem amamos”. Vinho é história, é cultura, é experiência sensorial, mas é também um ato comunal e pode ser profundamente emocional. É melhor beber acompanhado do que só e, quando estamos com quem amamos, o vinho deixa de ser uma bebida e vira uma celebração.

Vai uma taça?

Em homenagem a Cabral, que tal três vinhos de supermercado abaixo de R$ 100? O Clos de Torribas (R$ 69 no Pão de Açúcar), durante muito tempo, era meu vinho de segurança, um tempranillo “de casamento”, cheio de fruta e tanino macio que agrada gregos e troianos.

Já chileno o Errazuriz 1870 Chardonnay (R$ 69 no site do St. Marché) traz frescor e aromas tropicais. Já o Caminhos Cruzados Titular Rose (R$ 59 no Oba) vale para receber os amigos e bebericar enquanto prepara o jantar.


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Fonte.:Folha de São Paulo

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