Em uma temporada de duras penas para o setor etílico, bares de São Paulo se uniram para assinar uma carta aberta com a intenção de “assegurar a saúde e a confiança dos clientes”.
No meio da crise causada pela venda de destilados adulteradao, que causaram ao menos cinco mortes em São Paulo pela intoxicação por metanol, os estabelecimentos garantem a compra 100% legal e rastreável das bebidas e afirmam ter equipes treinadas para evitar fraudes ao inspecionar lacres, selos e rótulos.
“A ideia é combater a desinformação”, diz Gabriel Santana, do Santana Bar, que reuniu os estabelecimntos. “O vilão não é o destilado, mas o falsificador.”
A carta soa como um pedido de apoio num momento difícil, em que os bares, principalmente os dedicados aos coquetéis, que têm como base bebidas destiladas, enfrentam uma brusca queda de movimento.
No Fifty Fifty, houve redução de cerca de 20% de público. “Estamos apostando na comida, nas sobremesas e clientes fiéis”, diz a sócia Stephanie Marinkovic. O faturamento semanal do Regô está menos que a metade do que entra numa semana normal. Na última quinta (9), Gabriel Santana, do Santana, postou um vídeo de desabafo: “não veio nenhum cliente.”

Assinam a carta aberta alguns dos principais endereços de coquetelaria na capital paulista: Boca de Ouro, Caledonia, Cascasse il Mondo, Cordial, Exímia, Fifty Fifty, Guarita, Guilhotina, Lágrima, Matiz, Opalina, Picco, Regô, Santana, SubAstor e The Punch, além dos bartenders Marco de La Roche e Michelly Rossi. Novos integrantes devem aderir à carta.
Os signatários garantem também que “a coquetelaria de excelência e o preço de nossos produtos refletem o custo de insumos originais, legalizados e seguros”. “Convidamos a imprensa e os clientes a questionarem a procedência de qualquer bebida em nossas casas. Estamos prontos para apresentar as notas fiscais e detalhar nossos procedimentos”, diz o documento.
O país soma 213 notificações de pessoas com intoxicação por metanol após tomarem bebidas alcoólicas, com 32 confirmações e 181 em investigação. Há cinco mortes confirmadas em São Paulo.
Na manhã desta terça-feira (14), a Polícia Civil realizou uma operação contra uma rede criminosa suspeita de envolvimento na produção e comercialização de bebidas adulteradas com metanol em São Paulo e prendeu seis pessoas.

O que é o metanol?
O metanol é um álcool utilizado como adulterante de combustível de automóvel e de bebidas alcoólicas, por fábricas clandestinas e falta de controle rigoroso na fabricação. Também é encontrado em fluido limpador de para-brisas e é matéria-prima para a fabricação de biodiesel.
Embora o metanol em si não seja tóxico, a toxicidade surge da metabolização no corpo, que forma metabólitos tóxicos para o organismo, especialmente para o sistema nervoso central.
Quando o metanol é ingerido, ele é metabolizado por uma enzima chamada álcool desidrogenase e vira um formaldeído. Posteriormente, é transformado em ácido fórmico por outra enzima chamada aldeído desidrogenase. Os produtos dessa transformação são responsáveis pelas alterações gastrointestinais, neurológicas e pelo depósito direto do álcool no aparelho ocular.
Sintomas de intoxicação por metanol
As manifestações clínicas da intoxicação por metanol começam a acontecer de 12 a 24 horas após a ingestão da substância e incluem:
- alterações de comportamento;
- sonolência;
- incoordenação;
- dor abdominal;
- enjoo;
- vômito;
- dor de cabeça;
- alterações visuais, como visão dupla, turvação visual, redução da acuidade visual e até cegueira;
- em alguns casos, alterações hemodinâmicas, como queda da pressão arterial e aumento dos batimentos cardíacos.
Diagnóstico de intoxicação por metanol
O diagnóstico começa com a avaliação epidemiológica e a história de exposição. “Não é comum uma pessoa jovem, previamente saudável, desenvolver subitamente esses sintomas. Quando a gente começou a ter um aumento de casos, foram justamente em pessoas sem qualquer fator de risco ou qualquer outro agravo que justificasse”, analisa o médico emergencista, Felipe Liger, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “De certa forma, a gente acaba atuando um pouco como detetive.”
Em paralelo, outras causas são excluídas. A dosagem de metanol no sangue e a gasometria arterial são realizadas para confirmar a intoxicação. “A intoxicação por metanol é uma das grandes causas de alteração no pH do sangue, que pode ser avaliada por gasometria arterial.”
A equipe médica é alertada para avaliar obrigatoriamente a possibilidade de intoxicação por metanol em pacientes com idade compatível, história epidemiológica compatível de exposição e manifestações gastrointestinais ou neurológicas e visuais.
Tratamento de intoxicação por metanol
O tratamento envolve primeiramente o suporte orgânico, que inclui manter o paciente respirando e o coração funcionando adequadamente. O processo para reverter a toxicidade do metanol consiste em saturar a enzima que metaboliza o metanol em metabólitos tóxicos. Para isso, o antídoto disponível no Brasil é o próprio etanol, que satura a enzima álcool desidrogenase e diminui a formação dos metabólitos tóxicos do metanol.
“A dose tem relação direta com a gravidade dos sintomas”, afirma Liger. “Outro fator é o diagnóstico e tratamento precoce. Como é uma substância rapidamente absorvida e os sintomas podem começar com enjoo e dor abdominal, postergar a ida ao pronto-socorro gera uma cascata de eventos.”
As alterações visuais podem ser leves e transitórias, mas em casos graves chega a cegueira permanente, uma vez que os metabólitos tóxicos gerados pelo metanol no organismo ocasionam lesões no nervo óptico (“nosso segundo par craniano responsável por transmitir informações ao córtex visual”).
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Fonte.: Veja SP Abril