O auditor fiscal Jair Rosa entrou na Sefaz (Secretaria da Fazenda) do estado de São Paulo em 2014, aos 50 anos, após ser aprovado em um concurso público. Logo passou a ser conhecido pelos colegas por iniciativas que aproximavam a pasta da população.
Em 2023, a repercussão da dedicação do funcionário público ganhou outra dimensão após a Folha contar o resultado de suas buscas por sorteados da Nota Fiscal Paulista que não recebiam os prêmios por não atualizarem os cadastros.
O então chefe do posto fiscal de Marília, no interior de São Paulo, procurou os contemplados com afinco, conseguiu localizar 36 sorteados e isso possibilitou a entrega de R$ 7,2 milhões em prêmios.
O auditor usava diversas estratégias para localizar os contribuintes: consultava dados do IPVA, verificava registros em eventuais aberturas de empresas e realizava buscas pelo Google. Fazia tentativas de contato por telefone, WhatsApp, email e cartas.
Nas mensagens, apelava: “Se você acha que isso é um trote, desconsidere o aviso, perca o prêmio e jamais lamente que a sorte não está a seu favor”.
Rosa morreu no domingo (12), aos 63 anos, de pneumonia. “Há pessoas que transformam o ambiente à sua volta com gestos simples, empatia e dedicação. Jair Rosa foi uma delas”, diz trecho de homenagem feita pela Sefaz.
Recentemente, o fiscal liderou projeto que ampliou a inclusão e a acessibilidade às pessoas surdas nos postos fiscais de atendimento.
“Ele se dedicava em tudo, se esforçava ao máximo”, diz o filho Bruno, 24. “Nunca se negava a atender um telefonema para tirar dúvidas ou auxiliar quem fosse”.
Em casa, dificilmente o servidor parava para descansar ou assistir à TV. Estava sempre resolvendo questões do trabalho.
Nascido em São José do Cedro, no extremo oeste de Santa Catarina, Rosa era descendente de italianos e costumava dizer que as unidades fiscais no interior muitas vezes funcionam como “posto Ipiranga”, diante das demandas variadas que chegam para ser atendidas.
Antes do trabalho como auditor, foi funcionário do Banco do Brasil e morou na Bahia e no Paraná, além de Santa Catarina. A vida de gerente de banco proporcionou traquejo para lidar com o público e experiência na busca das metas.
Como bancário, chegou a ser vítima de sequestro para roubo a uma agência e temeu as ações violentas do chamado “novo cangaço”, que costumam acontecer em cidades pequenas.
Se preparou para novos concursos públicos, conquistou o cargo em Marília e, após os 60 anos, continuava “ligado no 220”, como costumava dizer.
Estudava italiano, colaborava com causas sociais e era próximo da mulher e do filho. Também atuava na educação fiscal em escolas da cidade, por meio de palestras.
Gostava de bater-papo e da convivência com os três pets da casa. A favorita era a gatinha Bela. Em entrevista ao podcast da Sefaz, escolheu a música “O Sol”, do Jota Quest, como sua preferida. Apreciava a mensagem sobre a vida que segue.
“Meu pai se sentia realizado com as pequenas coisas. O sentimento de dever cumprido lhe dava satisfação pessoal”, diz o filho.
O auditor deixa o filho, a mulher, Maria Terezinha, e o exemplo para os servidores públicos.
Fonte.:Folha de S.Paulo