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19 de outubro de 2025

USP vira palco de guerra entre direita e esquerda

USP vira palco de guerra entre direita e esquerda

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Uma série de confrontos nos últimos meses, entre membros do grupo União Conservadora e estudantes da Universidade de São Paulo (USP) ligados à militância de esquerda, têm evidenciado o escalonamento da guerra cultural dentro das instituições públicas de ensino superior.

As hostilidades tiveram início em maio, quando representantes do grupo conservador estiveram em prédios da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP pedindo assinaturas para um projeto de lei que propõe exame toxicológico nas universidades públicas como condição para que os estudantes mantenham suas matrículas.

No entanto, o grupo começou a retirar e rasgar enormes cartazes com temática política, colocados por coletivos estudantis, no vão do prédio de Geografia e História. Um dos maiores, com cerca de cinco metros de altura, exibia a frase “No Brasil e no mundo derrotar pelas ruas a extrema-direita”. O cartaz estava assinado por um grupo de estudantes de extrema-esquerda que integra a corrente internacional Socialismo ou Barbárie (SoB).

Na ocasião, os membros da União Conservadora foram expulsos por estudantes com empurrões e gritos de “argumento para fascista é porrada”. Mesmo assim, voltaram seguidas vezes à USP gravando vídeos que os mostram retirando cartazes e discutindo com estudantes e professores da instituição.

O deputado estadual Lucas Pavanato e o ex-vereador de São Paulo Fernando Holiday, ambos do PL, também estiveram no local em algumas ocasiões. Em uma delas, uma bandeira de Israel levada pelos conservadores foi tomada e queimada por estudantes.

A tensão foi escalando até que, no último dia 2, Adrián Fanjul, diretor da FFLCH, promoveu o ato “Em defesa da FFLCH: a universidade pública é do povo”. O encontro, segundo o diretor, teve como objetivo defender a USP de “invasões da extrema-direita, que busca afastar o povo das universidades públicas do país”.

Os confrontos já foram levados à Justiça pelos dois lados: o deputado estadual Guilherme Cortez (PSOL) apresentou representação ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) em que pede a abertura de inquérito criminal para apurar a conduta de Pavanato e membros da União Conservadora. Pede também que todos sejam proibidos de entrar nas dependências da USP.

Em paralelo, os representantes conservadores já apresentaram queixas de agressão física contra estudantes e articulam uma denúncia ao MP-SP pedindo o afastamento do diretor da FFLCH que, segundo o grupo, incentiva o uso político-ideológico da universidade.

FFLCH sofre ampla influência de alas radicais da esquerda

Segundo representantes da União Conservadora ouvidos pela reportagem, a escolha por atuar especificamente na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP tem a ver com a influência que o setor recebe de militantes radicais de esquerda.

O ato do dia 2 de setembro é um exemplo disso. O evento foi organizado e apoiado por militantes de esquerda, incluindo ao menos nove deputados estaduais do PSOL e uma do Partido dos Trabalhadores (PT). O ato, que inicialmente mirava a União Conservadora, acabou se tornando um manifesto contra Israel. Isso porque no dia anterior, o Exército de Israel interceptou dezenas de barcos com bandeiras palestinas que tentavam furar o bloqueio a Gaza.

Uma série de ativistas políticos, incluindo brasileiros, estavam na flotilha – entre eles um funcionário da própria FFLCH, que, segundo a Faculdade, teria integrado a flotilha por determinação própria, “em um período que articulou férias com afastamento”.

O próprio diretor da FFLCH manifesta publicamente sua visão política. Ele é presença recorrente em atos da esquerda e crítico ferrenho da direita.

Em paralelo, docentes da Faculdade frequentemente organizam ou participam de atos “contra a direita”. Uma semana antes do evento que tinha como alvo a União Conservadora, o movimento Socialismo ou Barbárie organizou uma mesa de debate, no vão do prédio de Geografia e História, com o tema “Desafios e tarefas para derrotar a extrema-direita”. Um dos debatedores foi o professor de história da FFLCH, Henrique Carneiro.

Mas o ativismo político exacerbado não parece incomodar Adrián Fanjul. Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, o diretor defende os atos político-partidários e as bandeiras com temáticas de esquerda nos prédios da Faculdade: “As práticas culturais e políticas na universidade são necessárias e formativas, integram seu caráter público e seu ambiente”.

FFLCH da USPAdrián Fanjul discursa em ato contra presença de ativistas de direita na USP (Foto: Renan Braz/Comunicação Social FFLCH-USP)

União Conservadora priorizará ações “jurídicas e políticas” na USP

À Gazeta do Povo, um dos líderes da União Conservadora – Jesse Henrique Barbosa – afirmou que o grupo priorizará atuações na esfera política e jurídica em relação à USP. Segundo ele, as ações presenciais na FFLCH diminuirão, mas devem ser estendidas a outras universidades.

“Em relação à USP, por enquanto a gente vai fazer uma briga mais jurídica e política. A partir de agora, seremos mais ativos politicamente nessa pauta dentro da Assembleia Legislativa”, declara.

O principal aliado do movimento dentro da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) é o deputado Tenente Coimbra (PL), mas há outros, como o próprio Lucas Pavanato, que também já esteve na USP debatendo com estudantes.

Barbosa afirma também que uma das prioridades da União Conservadora é avançar com o projeto de lei que exige exame toxicológico para permanência nas universidades do estado. “Nosso objetivo sempre foi acabar com as drogas na universidade. Fomos para discutir com os alunos esse projeto de lei. A FFLCH, por ser da faculdade de Filosofia, em tese deveria ser mais aberta ao diálogo, mas isso se provou o contrário”, afirma.

Advogado pedirá afastamento de diretor da FFLCH

O advogado Ronald Todorovic, que defende Victor Ruiz, um dos primeiros representantes da direita que estiveram nas ações dentro da USP, ainda em maio, informou à Gazeta do Povo que nos próximos dias apresentará uma denúncia ao Ministério Público contra o diretor da FFLCH, pedindo seu afastamento imediato, e contra a USP.

Todorovic avalia que as tentativas de cercear a entrada dos jovens conservadores dentro da USP é inconstitucional. “Eles cumprem uma função jornalística, ainda que de forma indireta. Quando alguém tenta mostrar o que está acontecendo dentro de uma universidade, o que a instituição deveria fazer? Abrir as portas para mostrar”, diz.

“No momento em que eles tentam ficar num cerco fechado e não querem mostrar isso para o público, é sinal de que entendem que aquilo é errado”, declara o advogado, apontando que o grupo identificou consumo excessivo de drogas e bebidas alcoólicas dentro do campus durante as visitas.

Posicionamento da FFLCH e da USP

A assessoria de imprensa da USP informou à reportagem que a Reitoria não iria se pronunciar sobre o caso.

Já o diretor da FFLCH disse, em nota, que “grupos alheios à universidade irrompem em um espaço semiaberto, arrancam faixas de coletivos estudantis, insultam alunas e alunos, gravam imagens sem autorização das pessoas; e outras provocações, esperando respostas violentas, para registrar e divulgar vídeos manipulados”, afirmou.

“Como parte da encenação para as redes, os provocadores perguntam, olhando para a câmera: ‘A instituição não faz nada? Permite essas faixas aí?’. Se a resposta do diretor interessar, aqui está: permitimos, estimulamos e defendemos toda expressão de setores da comunidade que não ofenda os direitos humanos e a dignidade das pessoas”, disse Adrián Fanjul.

Quanto às medidas tomadas para coibir as ações dos conservadores, ele cita boletins de ocorrência, ofício à Secretaria de Segurança Pública do Estado, representações no Ministério Público de São Paulo e reunião com o Subprocurador-Geral de Justiça do órgão.

Posicionamento do governo de São Paulo

A reportagem também pediu posicionamento ao governo de São Paulo, ao qual a USP está vinculada. A Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) informou que “recebeu um ofício com solicitações da comunidade universitária e intensificou a atuação das forças policiais na região do campus. A pasta também mantém contato constante com a Guarda Universitária, a Reitoria e o corpo docente da instituição”.



Fonte. Gazeta do Povo

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