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21 de outubro de 2025

Ambipar pede recuperação judicial e prolonga crise – 21/10/2025 – Mercado

Ambipar pede recuperação judicial e prolonga crise – 21/10/2025 – Mercado

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A Ambipar informou nesta segunda-feira (20) ter entrado com pedido de recuperação judicial na 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, confirmando expectativas de mercado que davam a alternativa como inevitável. Em 26 de setembro, a Justiça já havia concedido medida cautelar que suspendeu execuções e cobranças por 30 dias, prorrogáveis por mais 30, para proteger a companhia de cobranças antecipadas.

Ao recorrer ao tribunal, a Ambipar havia alegado que o potencial de perdas passava de R$ 10 bilhões com a cobrança antecipada e cruzada de suas dívidas.

Segundo a Folha apurou, o BR Partners, que havia sido contratado para negociar com os credores, defendeu um caminho sem recuperação judicial, mas foi voto vencido. Os advogados do escritório Galdino e Salomão, que atendem a Ambipar, insistiram na entrada da consultoria Álvares Marsal, especializada em reestruturação.

A crise da Ambipar começou em setembro, quando os seus green bonds (títulos verdes) começaram a ser vendidos e a perder valor. Os títulos lastreavam operações financeiras e deflagraram cobranças do alemão Deutsche Bank, que se alastraram por outros credores —Santander, Itaú, Bradesco, Banco ABC, Banco do Brasil e Sumitomo Mitsui, para citar os maiores. Estimativas apontam que o grupo teria a receber cerca de R$ 2 bilhões.

Em comunicado ao mercado, a empresa atribui a crise a uma “sequência de eventos deflagrada

após a descoberta de indícios de irregularidades na contratação de operações de swap pela

diretoria financeira e a renúncia abrupta do antigo diretor financeiro”.

Como a Folha mostrou, a Ambipar acusa ex-executivos, entre eles o ex-CFO João Daniel Piran de Arruda de, sem consulta ao conselho de administração, transferir contratos e assinar aditivos com o banco alemão Deutsche, sem conhecimento da empresa —o que levou a perdas para a companhia e ao risco de cobranças cruzadas de seus débitos.

Em janeiro do ano passado, a Ambipar Lux, uma subsidiária em Luxemburgo, fez a sua primeira emissão de green bonds (títulos verdes). Para se proteger da variação da moeda estrangeira, contratou junto ao Bank of America um tipo de proteção financeira chamado swap cambial.

Em agosto, esses contratos foram transferidos do Bank of America para o Deutsche Bank, num procedimento que, segundo a Ambipar, comprometeu a política conservadora de proteção cambial.

A defesa de Arruda contesta essa versão. “Há até mensagens do controlador, CEO e membro do conselho de administração, Tércio Borlenghi Júnior enviadas ao seu ex-CFO João Arruda comemorando a assinatura do aditivo com o Deutsche Bank, que agora dizem ser algo desconhecido”, afirmou o advogado David Rechulski, em nota.

Os maiores escritórios de advocacia do país estão envolvidos na discussão judicial, que promete ser uma das mais ruidosas da história recente desse tipo de disputa, superando até a crise das Americanas. Pinheiro Neto atende o Deutsche. SOB Advogados, o Itaú e o Sumitomo Mitsui. Machado Meyer e Warde estão com o Bradesco. Demarest, com o Santander. Uma parte dos bondholders (detentores de títulos de dívida) contratou os escritórios Padis Mattar e o Davis Polk.

Executivos que acompanham as discussões contam que o banco Itaú foi especialmente duro nas negociações que antecederam o pedido de recuperação judicial.

Credores ficaram incomodados com a estratégia de levar a discussão para o Rio de Janeiro, apesar de a sede da Ambipar estar localizada em São Paulo. Mas o procedimento incomodou particularmente o Itaú, que considera importante questionar esse ponto para evitar o uso do expediente, que tem ganho força recentemente.

Criada em 1995, pelo empresário Tércio Borlenghi Junior, a Ambipar se define, em seu site, como uma multinacional brasileira, líder global em soluções ambientais, presente em 41 países, com mais de 20 mil funcionários. Em 2024, faturou R$ 6,4 bilhões. Opera com projetos de descarbonização, economia circular, transição energética e regeneração ambiental.

A empresa afirma, no comunicado sobre a o pedido de recuperação judicial, que o objetivo é “garantir a preservação das atividades empresariais do Grupo Ambipar, permitindo a continuidade de suas operações e a manutenção dos empregos, contratos e serviços prestados”. “A medida também busca assegurar tratamento equitativo aos credores e promover uma reorganização ordenada e transparente”, completa.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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