Há um chamado discreto, porém persistente, para a descoberta de sabores brasileiros no menu do Animus. Não de um jeito estereotipado. Sutil. Ingredientes como cambuci, cumaru e amburana desfilam pelo cardápio. Presenças discretas, mas com potencial de transformar a experiência.
De forma não tão prazerosa, os preços também chamam a atenção. As opções de vinho começam em R$ 195. Os pratos principais, com exceção do míni arroz com cebola caramelizada e crispy (R$ 85), custam a partir de R$ 110. Como são feitos para compartilhar, mas apenas um seria pouco, uma opção mais econômica é apostar nas porções menores. Estas, também para dividir.
Se dinheiro não for problema, dá para provar as criações da jovem chef Giovanna Grossi no menu-degustação de seis tempos (R$ 330, por pessoa), com a possibilidade de pedir pela harmonização (R$ 280 a mais, também valor individual).
O salão é grande, mas ainda assim consegue manter o aconchego. O atendimento é amável e atento. Para abrir a refeição, quem se interessou pelos toques de ingredientes brasileiros nas receitas vai gostar de ver os coquetéis autorais, que seguem na mesma toada do menu principal.
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Entre os clássicos o negroni cearensis (R$ 44) é uma boa surpresa, com gim infusionado com amburana. A combinação com campari e vermute é ainda agraciada com aromas de cacau, graças a uma moedinha de chocolate disposta em cima do gelo esculpido. O amargor característico ganha uma doçura leve, com um resultado redondo na boca e especialmente aromático.
Mas vamos à comida. Começamos com o bolinho de joelho de porco e calda de cambuci (R$ 24, duas unidades). A fruta nativa da mata atlântica concentrada nessa espécie de calda densa e azedinha agrega acidez e frescor à fritura.
A porção de vagem na brasa (R$ 56) é a mais famosa da casa. Com castanha-de-caju, azeitona preta e ararita (um queijo maturado e de sabor delicado que lembra o pecorino romano), de fato é uma receita saborosa. Mas algumas vagens pareciam cruas. E o preço não pareceu condizente com o que o prato entregou.
O guioza de camarão-rosa (R$ 68, três unidades) veio na sequência. Pena que o molho beurre blanc de bisque estava salgado demais. Sem ser passado nele, o bolinho não brilhou. O sabor do recheio não veio, e a porção deixou a desejar.
Quem preferir seguir provando entradinhas com toques nacionais pode optar pela burrata com tomates defumados (R$ 82), preparada com hortelã e puxuri (uma semente amazônica). Ou pela couve-flor na brasa, boursin com baunilha do cerrado e caramelo de vermute (R$ 58).
O prato principal escolhido foi o pappardelle ripiene (R$ 120). Nesta versão, uma única tira larga de massa envolve ragù de pato e cogumelos. Quando você corta ao meio, ela desmonta e espalha o recheio sobre uma redução saborosa.
De sobremesa, o creme brûlée de bacuri com cumaru (R$ 45) é aveludado e finaliza bem a refeição com dulçor e acidez. Se provado junto ao creme, o crocante de café que vem em cima acaba tomando conta da língua. E como a casquinha de açúcar já está lá para contrastar texturas, acaba sendo dispensável.
A criatividade se mostrou pulsante em toda refeição. Mas a proposta, menos formal do que um menu-degustação, ainda destoa do valor da conta —um jantar ao preço de R$ 698 para dois.
Fonte.:Folha de São Paulo