A mais de 2.500 km de Santiago, o Parque Nacional Torres del Paine é um dos destinos mais procurados da Patagônia chilena, especialmente pelos amantes de trilhas ou escaladores iniciantes. Declarado Reserva da Biosfera pela Unesco, o lugar ocupa uma área de mais de 220 mil hectares, onde montanhas, lagos e geleiras formam uma paisagem que reúne ecossistemas distintos em uma coisa só.
Chegar até lá exige planejamento. A cidade-base para a exploração do entorno é Puerto Natales, a cerca de 150 km do parque, de onde partem ônibus e transfers privados que atravessam estradas de terra. Quem vem de Punta Arenas, o centro urbano mais próximo, percorre quase 400 km em viagem de carro ou ônibus, entre pampas e rios de águas geladas. Quem vem pela Argentina pode acessar o parque cruzando a fronteira em Cerro Castillo.
Embora os ônibus sejam mais econômicos, muitos viajantes preferem alugar um carro, o que garante mais autonomia para circular entre os setores do parque, já que as distâncias são grandes e o transporte público é limitado.
Na alta temporada, o ingresso para estrangeiros custa cerca de 21 mil pesos chilenos (cerca de R$ 120) e dá direito a três dias de visita. Lá dentro, alguns hotéis oferecem um bom nível de conforto, com quartos privativos, aquecidos e gastronomia variada.
Mas fora da estrutura do hotel, esta é uma viagem que exige movimento: sem trilhas, a visita pode se tornar monótona. A essência de Torres del Paine está, afinal, na exploração de suas rotas e na conexão direta com a natureza. O sinal de internet é limitado, o que reforça ainda mais a sensação de isolamento e acaba fazendo com que a imersão na paisagem se torne quase obrigatória.
O parque é também um espaço de contato com a história e a cultura da região. “Paine” significa azul na língua tehuelche, em referência às cores intensas dos lagos e do céu. O local é também um testemunho da transformação ambiental provocada pelas mudanças climáticas e também pela depredação humana, que é especialmente visível nos glaciares que recuam ano após ano.
Opção mais luxuosa dentro do parque, o Hotel Las Torres oferece três tipos principais de passeio. Para quem prefere algo mais rápido, há o trajeto de carro até mirantes, que oferece boas fotos, mas sem a intensidade da caminhada. Durante esse percurso, os motoristas estão sempre atentos à fauna local, incluindo pumas, que habitam o parque e podem ser avistados principalmente na primavera e no verão.
O território abriga ainda guanacos, raposas, flamingos, cervos ameaçados, entre outros animais.Já quem quiser algum nível de aventura tem duas opções de trilha. A mais leve, de sete quilômetros de extensão, permite vislumbrar lagos e rios com as torres de granito ao fundo. É perfeita para quem busca uma experiência mais tranquila.
A outra trilha, de quase 20 quilômetros, dura o dia inteiro, exige preparo físico e resistência, mas recompensa com a vista da Base das Torres, onde as formações glaciais se erguem sobre uma lagoa de águas turquesa. Além das trilhas, é possível fazer passeios a cavalo à tarde, cruzando áreas de planície e pequenas elevações, sempre com vistas privilegiadas do maciço do Paine.
A vegetação varia entre áreas abertas de gramíneas e florestas típicas da região, que em algumas épocas ganham tons avermelhados e dourados. Mas nem tudo é intocado: o parque já sofreu com incêndios florestais, como os de 2005 e 2011, que destruíram milhares de hectares e lembram da fragilidade desses ecossistemas, mesmo em áreas protegidas.
Entre as peculiaridades que exigem adaptação do visitante está a água do parque, proveniente do degelo das geleiras. Muitos brasileiros podem estranhar seu gosto metálico e sua textura, bastante diferente do habitual.
Do ponto de vista financeiro, a visita ao parque varia de acordo com o tipo de hospedagem. Durante as baixas temporadas, que vão de outubro e abril, o pacote de três dias e duas noites no Hotel Las Torres, pode custar cerca de US$ 2.850 (cerca de R$ 15 mil). O hotel também oferece a experiencia “vida em uma cabana”,que sai por por US$ 320 (ou cerca de R$ 1.730) para duas pessoas.
Mas há alternativas mais econômicas, como albergues com quartos compartilhados, refeições e chuveiros quentes. Eles ficam espalhados ao longo das trilhas mais famosas, como o Refugio Grey, Los Cuernos e Chileno. E quem prefere dormir sob as estrelas pode optar pelos campings oficiais, equipados com banheiros e áreas para cozinhar.
O jornalista viajou a convite do Turismo do Chile
Fonte.:Folha de S.Paulo