O ministro Luiz Fux ainda não apresentou um bom motivo para a decisão de trocar de turma no STF (Supremo Tribunal Federal). Ele tampouco justificou de forma plausível a mudança de posição nos processos do 8 de Janeiro, mas, nesse caso, tentou se explicar —sem sucesso.
É evidente que, por todas as circunstâncias, Fux ficou sem ambiente na Primeira Turma do Supremo após discordar de si próprio e dos colegas durante o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Daí a pedir para sair, contudo, vai uma distância grande.
Mais do que a falta de clima, pode ter sido a perspectiva de vitória que sensibilizou o ministro. Lá onde estava, seus votos talvez terminassem sempre derrotados nas causas mais relevantes; na Segunda Turma, a possibilidade de vencer volta ao horizonte, quem sabe graças à sua intervenção decisiva.
Não é pouca coisa, sobretudo para personalidades vaidosas, mas talvez não seja tudo.
Com a possibilidade de vencer volta também algo mais: o poder. E este é enorme quando se trata de um ministro do STF.
Basta lembrar como Fux, sozinho, garantiu que os juízes recebessem um auxílio-moradia acima do que a Constituição define como limite máximo.
Ou como ele transformou sua filha em desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio, apesar de ela ter apresentado documentação insuficiente para comprovar experiência mínima.
Na época, ele dizia que era o sonho da filha ocupar uma cadeira no TJ —cargo que passa pela indicação do governador do estado. Agora, se ela sonhar com o STJ (Superior Tribunal de Justiça) ou mesmo com o STF, dependerá de nomeação do presidente da República.
Se, por hipótese, Fux precisar deslanchar nova campanha pela filha, ele precisará de poder suficiente para influenciar o Palácio do Planalto. O que é difícil acontecer enquanto ele for minoritário na turma do Supremo —e enquanto o presidente for alguém que conheceu sua mão pesada na Lava Jato.
Fonte.:Folha de S.Paulo


