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26 de outubro de 2025

Eleições na Holanda testam apoio da população por governo de ultradireita

Eleições na Holanda testam apoio da população por governo de ultradireita

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A eleição nacional na Holanda, marcada para a próxima terça-feira (29), apresenta aos eleitores duas escolhas distintas. A primeira opção, é dobrar a aposta no líder de ultradireita, Geert Wilders, para conter a imigração. Já a segunda é recorrer aos rivais centristas para tratar das preocupações relacionadas a moradia e segurança.

Com os partidos nacionalistas liderando as pesquisas no Reino Unido, na França e na Alemanha, as eleições na Holanda são um teste para saber se o populismo europeu pode expandir seu alcance ou se já atingiu seu ápice.

Wilders, um admirador do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, levou seu partido, o PVV (Partido da Liberdade), ao primeiro lugar nas eleições de 2023. Além disso, ele também formou uma aliança totalmente conservadora – embora os parceiros tenham se recusado a torná-lo primeiro-ministro.

Em junho, o líder de ultradireita causou uma crise no governo holandês após retirar o PVV da coalizão da direita. O primeiro-ministro do país, Dick Schoof, renunciou ao cargo após Wilders não aceitar as propostas sobre asilo e imigração. Ele tem um longo histórico de retórica anti-islâmica e anti-imigrante.

Governo de Wilders é visto como um fracasso

As eleições holandesas tornaram-se cada vez mais imprevisíveis e, com a confiança no governo em níveis mínimos desde a pandemia, metade dos eleitores ainda está indecisa.

“Estão sendo prometidas várias coisas que, na minha opinião, são completamente impossíveis. E isso significa que ainda não sei em quem vou votar”, disse Jack Veerman, um pintor de 62 anos da cidade de Volendam, um tradicional reduto de Wilders.

O governo anterior também é amplamente considerado ineficaz. De acordo com a população, a gestão não cumpriu a promessa de introduzir o regime de imigração mais rigoroso da Europa e nem abordou a escassez nacional de moradias.

Um problema com as emissões de nitrogênio também desagradou o povo, o que prejudicou construções e irritou agricultores.

Com o crescimento econômico caindo para zero e o desemprego aumentando, a maioria dos eleitores acredita que o país está indo na direção errada, afirmou o Instituto de Pesquisa Social da Holanda na segunda-feira (23).

“As pessoas acham que os políticos realizam muito pouco e estão principalmente preocupados consigo mesmos”, afirmou o Instituto.

Pesquisas mostram que Wilders está perdendo terreno

Embora o Partido da Liberdade de Wilders lidere nas pesquisas, algumas de suas cadeiras foram roubadas pelos democratas-cristãos. O novo líder, Henri Bontenbal, está fazendo uma campanha com base na estabilidade e nos valores tradicionais.

Analistas e rivais dizem que o declínio do líder da ultradireita reflete a frustração dos eleitores com o que Bontenbal chamou de “dois anos de caos” sob a última coalizão. O líder democrata-cristão descartou a possibilidade de trabalhar com Wilders.

Isso cria um dilema para os eleitores de direita.

“Mesmo se Wilders obtiver a maioria dos votos e cadeiras no parlamento, ele provavelmente não entrará na coalizão, já que os partidos de esquerda também não trabalharão com Wilders”, disse Henk van der Kolk, professor de política eleitoral da Universidade de Amsterdã.

Isso pode levar alguns apoiadores de Wilders a votar taticamente em outros partidos conservadores para garantir que sua voz seja ouvida no próximo governo.

Atualmente, em segundo lugar nas pesquisas está o Partido Trabalhista-Verde de esquerda, liderado pelo ex-vice-presidente da UE (União Europeia), Frans Timmermans. O político é visto como concorrente de Bontenbal para se tornar o próximo primeiro-ministro do país.

Políticas de imigração

Wilders, um dos líderes populistas mais antigos da Europa, é mais conhecido por suas posições anti-islâmicas e vive sob constante proteção devido a ameaças de morte. Ele argumenta que a Holanda deveria negar todos os pedidos de asilo político, usando o exército para proteger as fronteiras, se necessário.

“Deixem outros países fazerem mais, pelo menos uma vez, a Holanda não aguenta mais, e há muitos protestos” contra requerentes de asilo, disse Wilders em um talk show na semana passada, sua primeira aparição durante a campanha.

Propostas semelhantes não conseguiram apoio de parceiros em sua coalizão anterior, em meio a dúvidas sobre se eram legais sob a lei holandesa ou tratados internacionais.

Os principais partidos reconheceram que há forte oposição entre muitos holandeses à aceitação de mais imigrantes, especialmente de países não ocidentais, e estão tentando conquistar votos com soluções que consideram realistas.

Os democratas-cristãos defendem rejeições mais rápidas de pedidos de asilo, enquanto Timmermans defende uma abordagem coordenada pela UE.

“Podemos retomar o controle desta questão de uma forma que seja compatível com os nossos valores fundamentais”, disse ele.

Escassez de habitação é principal questão dos eleitores

Apesar do forte foco na imigração, os eleitores afirmam que a escassez de moradias é o maior problema do país. A agência nacional de estatísticas do país estimou um número de 400.000 moradias em um país com 18 milhões de habitantes.

Wilders tentou vincular a questão à imigração, argumentando que os cidadãos holandeses têm o direito prioritário à moradia. Os democratas-cristãos querem cortar as regulamentações que impedem a construção, enquanto os trabalhistas querem investir em moradias sociais.

Políticas dos EUA não estimulam Wilders

Asher van der Schelde, pesquisador da empresa de pesquisas Ipsos, disse que o desempenho de Trump como presidente dos EUA não ajudou a ampliar o apelo de Wilders.

Embora os eleitores mais fiéis de Wilders possam admirar as medidas do governo Trump para deportar imigrantes ilegais, outras políticas do “America First” (América em primeiro lugar, em tradução livre), como tarifas e as ameaças de Trump de se retirar da Otan, não se alinham aos interesses holandeses.

Os eleitores indecisos estão cautelosos com o que consideram medidas antidemocráticas de Trump.

“O que está acontecendo agora nos Estados Unidos, todo mundo está observando e preocupado”, disse Van der Schelde.



Fonte: CNN Brasil

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