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29 de outubro de 2025

Duas falhas que podem custar caro na sua previdência – 28/10/2025 – De Grão em Grão

Duas falhas que podem custar caro na sua previdência – 28/10/2025 – De Grão em Grão

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Imagine que você está em uma estrada longa quando o condutor começa a errar marchas e forçar curvas. Nesse momento, em vez de pedir para outro motorista mais experiente assumir o volante, você abandona o carro no acostamento e volta a pé. Essa atitude soa irracional? É exatamente isso que muitos fazem com seus planos de previdência: quando o fundo vai mal, preferem resgatar em vez de trocar de gestor. O veículo não é o problema; o problema é o motorista.

Heráclito lembrava que “nada é permanente, exceto a mudança”. No mundo dos investimentos, aceitar a mudança certa é o que separa decisões impulsivas de estratégias vencedoras. Na previdência, a mudança certa tem nome: portabilidade. Ela permite transferir seus recursos para outro fundo, sem pagar Imposto de Renda no meio do caminho e sem custos, preservando um dos maiores trunfos desse instrumento — odiferimento fiscal. Nesse enfoque, duas falhas ocorrem.

A primeira falha comum é resgatar quando o fundo apresenta desempenho ruim. Quando isso acontece, muitos esquecem que a previdência é só o veículo; quem dirige é o gestor. Trocar de fundo é como trocar o motorista: você mantém o caminho e evita perder velocidade. O resgate, por outro lado, equivale a puxar o freio de mão no meio da viagem: interrompe o efeito bola de neve gerado pelo imposto adiado e reduz a eficiência de longo prazo.

A segunda falha é ainda mais sutil: resgatar assim que a alíquota mínima da tabela regressiva é atingida. Muitos veem os 10% e sentem que, se não fizerem nada, estão deixando de aproveitar algo. Mas é justamente o contrário. Permanecer investido significa continuar rendendo também sobre o imposto ainda não pago e com a vantagem de que todo retorno será menos tributado. Esse diferimento fiscal cria uma espécie de “rendimento invisível” que só existe porque o dinheiro permanece trabalhando integralmente por mais tempo.

Além disso, a previdência não é apenas uma ferramenta de investimento. Ela também é um instrumento sucessório eficiente. Permite indicar beneficiários e, em muitos casos, garante liquidez mais rápida aos herdeiros, evitando ou reduzindo os custos e a morosidade de um inventário tradicional. Em uma sucessão patrimonial bem estruturada, a previdência atua como uma ponte: entrega recursos no momento em que a família mais precisa, com agilidade e menos atrito.

Por isso, a previdência deveria ser o último ativo a ser resgatado em uma carteira. Ela combina três vantagens raras: a possibilidade de trocar de fundo sem gatilho de imposto, o diferimento que potencializa os juros compostos e uma solução sucessória eficiente. Quem resgata por impaciência joga fora anos de benefício acumulado —e, muitas vezes, de planejamento familiar.

Se o desempenho do fundo atual decepciona, não abandone o carro. Faça uma revisão, troque o motorista e siga viagem. No longo percurso dos investimentos, quem entende a lógica da previdência chega mais longe —com mais patrimônio, mais eficiência fiscal e mais tranquilidade para quem ficará com o legado.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.


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Fonte.:Folha de S.Paulo

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