A passagem de Brigitte Bardot pelo Brasil, em 1964, ajudou a divulgar mundo afora o então vilarejo de pescadores de Armação dos Búzios, na região dos lagos (RJ), onde, no auge da fama, a musa do cinema francês passou uma temporada relaxadona, pé na areia. Essa visita teve reflexos até na gastronomia do Rio de Janeiro.

O BB Lanches, uma das mais queridas casas de sucos e sanduíches da cidade, abriu as portas no mesmo ano e tem esse nome em sua homenagem. Curiosidades à parte, a lanchonete sem mesas ou cadeiras no Leblon é um xodó dos cariocas, e tem seus motivos.

O primeiro deles é a qualidade do que é servido. Os sucos são oferecidos em uma infinidade de variações, como o de cacau com tangerina (R$ 24), agridoce no ponto ideal, e o de kiwi com uva (R$ 28), azedinho toda vida. Meu preferido há anos é simples, mas difícil de encontrar em outros lugares: o de uva verde (R$ 24). O frescor em estado líquido. Que sabor.

Não espere nada gourmetizado ou novidades. No máximo, alguns acenos para a turma que não come carne, como os pastéis de soja. “Não vende nada, mas tem que ter”, me disse, ao telefone, seu Adelino, o dono, quando nos falamos para tirar dúvidas após mais uma visita à casa. Ele não entrega o jogo sobre temperos, modo de preparo, nada.

Quando quis saber detalhes sobre os gloriosos pastéis de camarão com —muito- catupiry (R$ 16) e também do de carne, com ovo cozido (R$ 16), ele gargalhou. “Ah, bonitona. Por favor, me poupe. Achas que vou te entregar nossos segredos?”, disse, com forte sotaque português. O fato é que, sabe-se lá como, os de lá parecem assados, mas são fritos e, ao contrário dos demais, não têm casquinha fina e cheia de bolhas. É macio. E delicioso.

A oferta de sanduíches é vasta, e basta uma encostadinha no balcão para constatar que os de pastas feitas na casa, como o de salada de galinha (R$ 25) e de ovo (R$ 21) têm clientela cativa, assim como os hambúrgueres (R$ 23), que podem ter todos os adicionais imagináveis — queijo, ovo, bacon, salada etc. Os de filé-mignon (R$ 63) também têm bastante saída e podem ser acrescidos de vários penduricalhos.

Era um filé com queijo, ovo e salada no pão francês que o empresário Eike Batista traçou ao meu lado, com garfo e faca, depois de abrir os trabalhos com um pastel de carne e um suco de morango. Deu uma bela gorjeta ao atendente, que parecia conhecer há anos.

Homens engravatados (o Leblon é o coração do mercado financeiro do Rio), atletas, grupinhos indo e voltando da praia, estudantes e turistas compõem a interessante fauna de frequentadores do BB. Eles são atraídos pela certeza de que nada mudou, o lanche que querem fazer está sempre lá, consistentemente excelente.

Vibe não mata a fome de ninguém e não costuma ser critério na avaliação de um restaurante, mas é claro que estar em um lugar onde todo mundo parece satisfeito só conta pontos a favor. E em termos de astral, o BB Lanches é imbatível, ainda que tenha concorrentes à altura, caso do Polis, em Ipanema, e do Bibi, agora uma rede. No Rio, as casas de suco têm fã-clubes, quase torcidas, como os times de futebol. E o BB é um delicioso retrato da cidade, destino certo para quem quer lanchar como um carioca.