
De tempos em tempos, a monogamia ganha espaço entre as discussões das redes sociais, com debates um tanto quanto acalorados. Uma das “vertentes” do relacionamento aberto consiste na máxima não pergunte, não conte.
Talvez você já tenha ouvido falar na versão em inglês dessa expressão, “don’t ask, don’t tell” que, se referia à política federal dos Estados Unidos, instituída em 1994, que impedia militares gays, lésbicas e bissexuais de serem abertamente queer, com risco de dispensa. Com esforço e pressão pública, a regra foi revogada em 2011.
Mas de que maneira esse antigo e tenebroso conceito se articula com relações amorosas?
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Imagine que você esteja vivendo um namoro ou casamento na base da confiança, com certa dose de estabilidade e deseja experimentar coisas novas. E o melhor: esse sentimento vai ao encontro ao que a sua parceria está pensando naquele momento.
Apesar da vontade mútua, a ideia de encontros a três não parece lá tão confortável. Voyeurismo, ou a arte de observar performances na cama, muito menos (saiba mais sobre fetiches com a “prima” CLAUDIA).
Vocês já tentaram abrir a relação considerando manter honestidade sobre encontros ou sentimentos que surgissem pelo caminho, mas não deu muito certo também…
Quem sabe o estilo não pergunte, não conte é uma alternativa?
O conceito consiste basicamente em concordar mutuamente que cada um tenha encontros casuais ou relações sexuais fora da relação, sem qualquer exigência de detalhes ou satisfação.
No final das contas, trata-se de um acordo de privacidade, com liberdade para a vivência de experiências externas sem o compartilhamento de detalhes ou informações.
Para azeitar o combinado, cada casal costuma estabelecer regras internas para evitar desconfortos. As normas podem incluir questões diversas, como:
- Sexo seguro obrigatório;
- locais neutros para os encontros, como não receber ninguém em casa;
- evitar qualquer tipo de envolvimento emocional;
- excluir conhecidos e amigos em comum da lista de potenciais dates,
- além de conversas periódicas para alinhar expectativas e fazer balanços.
Nem tudo são flores
Apesar de buscar facilitar as coisas, esse modelo de relacionamento que adapta livremente o ditado para “O que a mente não sabe, o coração não sente”, ainda abre espaço para o surgimento do ciúme.
Nesse contexto, esconder o sentimento na tentativa de manter as aparências é um passo arriscado, uma vez que ele não vai desaparecer. Pode, no máximo, ser suprimido, gerando ansiedade e prejuízo emocional.
Sem uma base sólida de confiança, a falta de informação pode, na verdade, levar ao desenvolvimento de especulações e atritos, por exemplo.
“Para uma pessoa insegura ou com tendência imaginativa, não ter acesso à informação pode contribuir para o aumento do ciúme”, pontua o psicólogo Maycon Torres, vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
A sensação de que um está “aproveitando mais” da nova forma de relação do que o outro pode levar a um desequilíbrio, abrindo espaço ao ressentimento.
Por isso, as regras são tão essenciais para fazer dar certo. Sem clareza sobre o que pode ou não pode, comportamentos podem ser entendidos como quebra do acordo inicial.
E atenção aos sinais de que as coisas estão indo por água abaixo: aumento das brigas, vigilância excessiva, sexo morno, afastamento e silêncio.
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Funciona? Sim
Se você chegou até aqui, não desanime. Também pode dar certo. Especialmente para casais mais experientes ou com mais tempo juntos.
Além da confiança consolidada, a lista de ingredientes ideais para o sucesso inclui o conhecimento das próprias emoções, a boa habilidade de comunicação sobre sentimentos, facilidade para o cumprimento de regras e respeito mútuo.
E mais importante: mudanças de sentimentos e de expectativas são naturais de relações fechadas ou abertas. Assim, discutir e reavaliar a estrutura da relação é fundamental.
“A partir do momento em que as pessoas resolvem assumir um compromisso juntas, ele tem que ser revisto e analisado com alguma frequência ou a partir de determinadas experiências. É preciso levar em consideração o contexto presente, entendendo que a vida não é estável”, afirma o psicólogo.
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Fonte.:Saúde Abril


