1:08 PM
3 de novembro de 2025

“Respiração anal”: entenda técnica que está em estudos para uso em casos graves

“Respiração anal”: entenda técnica que está em estudos para uso em casos graves

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A premissa parece até uma piada, mas é foco de pesquisas mais sérias do que o nome sugere: pesquisadores japoneses estão avançando na tentativa de viabilizar a “respiração pelo ânus” como um possível tratamento de saúde.

O conceito, que na verdade se refere a uma técnica conhecida como ventilação enteral, tem como base um processo que ocorre em outras espécies na natureza, mas ainda é alvo de testes em seres humanos.

A ideia seria proporcionar uma nova possibilidade de alívio respiratório para pacientes em falência pulmonar, sem agredir ainda mais esses órgãos.

Entenda melhor essa história.

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O que, afinal, é a respiração pelo ânus?

O apelido da técnica induz ao engano. Na verdade, a respiração não ocorre pelo ânus, que é a “saída” do intestino grosso: a troca de gases (isto é, a obtenção de oxigênio e a eliminação de gás carbônico, que marca o ato de respirar) ocorre dentro do corpo mesmo, pelo próprio intestino.

Por isso, a forma mais adequada de se referir a esse mecanismo é respiração intestinal, enteral ou até cloacal, dependendo da espécie.

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Esse processo ocorre naturalmente, sobretudo, em animais que passam longos períodos embaixo da água. O pepino do mar é a espécie mais citada como exemplo de uma respiração cloacal, mas o processo também é visto em seres mais complexos, como algumas espécies de tartarugas.

Os pesquisadores que descobriram que esse mecanismo poderia ser emulado em mamíferos foram agraciados em 2024 com o Prêmio IgNobel, a premiação que “primeiro te faz rir, depois te faz pensar”.

Por que tentar a ventilação enteral?

Pesquisadores dedicados ao assunto propõem a respiração pelo intestino como uma alternativa para pacientes que estejam passando por uma falência respiratória grave.

Na prática, substâncias capazes de entregar oxigênio ao organismo seriam injetadas através do ânus, fazendo a tal ventilação enteral (apesar do termo “ventilação”, testes são feitos com líquidos cheios de oxigênio que pode ser absorvido pelo intestino).

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A ideia é que essa técnica seja capaz de substituir procedimentos como a ventilação mecânica com ajuda de traqueostomia. Seria uma maneira de manter a troca gasosa existindo sem exigir que ela ocorra nos pulmões, o que poderia dar uma chance maior de repouso e recuperação a essa parte do corpo em casos de lesões ou incapacidade severa de mantê-los funcionando.

Mas funciona em humanos?

Ainda não se sabe com certeza. Cada vez mais estudos tentam demonstrar a viabilidade de repetir a ventilação enteral em mamíferos e, consequentemente, em seres humanos.

Em 2021, uma pesquisa inédita demonstrou a capacidade de ratos e porcos respirarem através do intestino, desde que submetidos às condições certas. O estudo, embora revolucionário, ganhou as manchetes de forma irônica, após ser honrado no ano passado com o Prêmio Ig Nobel, uma paródia do Nobel que reconhece pesquisas aparentemente ridículas (mesmo que sejam úteis!).

A grande novidade da vez é um trabalho recém-publicado pelo mesmo grupo de estudiosos japoneses: na metade de outubro, eles divulgaram o resultado do primeiro teste de ventilação enteral em seres humanos, realizado em 27 voluntários saudáveis, todos do sexo masculino, e demonstraram que a técnica se revelou segura e com bom perfil de tolerância.

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Os participantes receberam perfluorodecalina (PFD), um líquido especial com grande capacidade de carregar oxigênio. Usando doses de até 1 litro, eles demonstraram que os efeitos adversos não foram graves, e não houve absorção detectável de PFD pelo organismo. Ou seja: é possível investigar mais a fundo a viabilidade dessa técnica para ajudar na respiração.

No entanto, o trabalho realizado no Japão é um primeiro passo. A pesquisa só demonstrou a segurança da aplicação, e fez isso em um grupo pequeno. Mais estudos são necessários para entender, por exemplo, se efetivamente ocorre uma “respiração” em seres humanos submetidos à técnica.

Além disso, o trabalho foi feito com indivíduos saudáveis: estudos muito mais detalhados e cuidadosos são exigidos até confirmar se a ventilação enteral é, de fato, uma boa alternativa para ajudar no tratamento de pacientes com falência pulmonar grave.

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Fonte.:Saúde Abril

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