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5 de novembro de 2025

Cotistas não recuperam defasagem durante curso superior, diz estudo

Cotistas não recuperam defasagem durante curso superior, diz estudo

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A promessa de que alunos cotistas, mesmo entrando com notas mais baixas, tenderiam a igualar o desempenho de outros alunos dentro da universidade não se cumpre na realidade, de acordo com um estudo de professores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) publicado em outubro.

“A utilização de cotas deveria ser seriamente rediscutida”, afirma à Gazeta do Povo Marcelo Yamashita, professor livre-docente da Unesp e doutor em Física pela USP. Ele é um dos três autores da pesquisa, junto com Elmer Mateus Gennaro, doutor em Engenharia Mecânica pela USP, e Ricardo D’Elia Matheus, doutor em Física pela USP.

Os pesquisadores analisaram 14,5 mil alunos de Física, Biologia e Pedagogia matriculados de 2013 até julho de 2025 na Unesp e compararam três grupos: quem entrou pela ampla concorrência, quem veio de escola pública e quem entrou pelas cotas para pretos, pardos e indígenas.

A conclusão foi que quem entra com nota mais baixa no vestibular tende a ter desempenho mais baixo na universidade, e isso não melhora com o tempo.

Especialmente em disciplinas difíceis, como Cálculo I, e cursos mais exigentes, como Biologia, a mesma ordem de desempenho tende a aparecer de forma consistente: primeiro os da ampla concorrência, depois os de escola pública e por último os cotistas.

O estudo também mostra que reprovar e repetir a disciplina não corrige a defasagem. Pelo contrário: quanto mais vezes o aluno refez uma disciplina, menor ficou a chance de que passasse. Para os pesquisadores, isso torna evidente quão difícil é o aluno com pior desempenho recuperar a defasagem em relação aos outros.

Um dos principais argumentos pró-cota costuma ser justamente a ideia de que, uma vez dentro da universidade, os estudantes poderiam, aos poucos, aproximar seu desempenho daqueles que entraram pelo caminho convencional. O estudo refuta essa hipótese.

“Os dados mostram que não existe um ganho de qualidade considerável nos estudantes que entram com as menores notas no vestibular”, diz Yamashita.

Cotas precisam ser rediscutidas com base em dados e sem argumentos ideológicos, diz pesquisador

Segundo o estudo, áreas de formação com nível mais baixo de exigência não são as mais adequadas para avaliar a eficácia das cotas, porque o desempenho nelas tende a ser mais homogêneo. Cursos com altas taxas de aprovação, como Pedagogia, tendem a mascarar diferenças que se tornam evidentes quando se consideram cursos mais seletivos, como Física.

“A maioria dos discursos a respeito de cotas se apoia em argumentos de natureza política ou ideológica e não na análise rigorosa dos dados. Boa parte dos estudos existentes coloca a análise de humanidades, exatas e biológicas no mesmo balaio, aí qualquer diferença perceptível fica encoberta pelos cursos que têm alta aprovação”, afirma Yamashita.

Para ele, é preciso que as instituições de ensino superior fiquem alertas até mesmo em relação à própria imagem no mercado. “Se o curso tem uma alta taxa de aprovação, ele estará formando pessoas que são bem menos preparadas do que outras, embora tenham o mesmo diploma. Isso pode se refletir diretamente na percepção que o mercado de trabalho e a sociedade têm da universidade: ao receber um profissional despreparado, pode parecer que a universidade não cumpre bem o seu papel formador. Outra questão é que muitos desses alunos acabam deixando os cursos, aumentando a evasão e o surgimento de vagas ociosas”, comenta.

Forçar a presença de alunos com baixo desempenho em instituições de ensino superior com base no argumento de inclusão social é, para Yamashita, um equívoco. “Inclusão é mais do que somente alguns anos sentados nas cadeiras da sala de aula”, diz. “Existe uma confusão na universidade em atribuir a si própria a tarefa de resolver todos os problemas sociais como parte de sua missão e afastar-se dos assuntos eminentemente acadêmicos”, acrescenta.



Fonte. Gazeta do Povo

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