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6 de novembro de 2025

COP30 deve discutir o bem-estar humano – 06/11/2025 – Opinião

COP30 deve discutir o bem-estar humano – 06/11/2025 – Opinião

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Enquanto políticos do mundo todo voam para Belém para a COP30, veio de Bill Gates um insight pertinente: conferências sobre o clima deveriam focar no que realmente melhora vidas, não apenas em cortar emissões. É o retorno do bom senso.

Formuladores de políticas públicas deveriam sempre se perguntar: qual é a forma mais inteligente de gerar o maior impacto positivo com recursos limitados? Para bilhões de pessoas em países em desenvolvimento, desafios imediatos como a pobreza e doenças são mais urgentes que metas de temperatura distantes.

Os países pobres se preocupam com a malária e com a educação, não com 0,1°C a menos em um século. Como Gates observa, “os maiores problemas são a pobreza e as doenças”. Todo ano, mais de 7,5 milhões de pessoas em países pobres padecem de enfermidades evitáveis. Investimentos inteligentes em saúde, nutrição e educação podem salvar mais de 4 milhões de pessoas por ano, além de gerar crescimento econômico e resiliência para o futuro.

O realismo de Gates reflete uma mudança global. Por muitos anos, qualquer desvio da ortodoxia climática era tratado com desprezo. As Nações Unidas, além de políticos e celebridades, pregavam que cortes de emissões a qualquer custo eram sagrados. Questionamentos eram rotulados como “negação”.

Mas o pragmatismo está voltando. Nos EUA, um senador democrata admitiu que o clima “não está no top 3 das prioridades”. O primeiro-ministro do Canadá que já tratou os combustíveis fósseis como “inqueimáveis”— agora apoia as exportações de gás natural e o crescimento energético. Até mesmo o Reino Unido e a Alemanha voltaram a incorporar a lógica econômica à sua política climática.

É hora de superar as narrativas apocalípticas. A mudança climática é um problema real, mas não é o fim do mundo. Caso não seja abordada, estudos econômicos indicam que ela poderia reduzir de 2% a 3% do PIB global até 2100 —ou seja, seríamos 435% mais ricos em vez de 450%.

Ativistas insistem que os gastos climáticos não competem com o combate à pobreza. Mas os bancos de desenvolvimento destinaram, apenas no ano passado, US$ 137 bilhões a projetos na área —recursos que poderiam ter sido aplicados na prevenção de doenças ou no combate à fome. Em todo o mundo, mais de US$ 14 trilhões já foram gastos em políticas climáticas. Apenas no ano passado, foram mais de US$ 2 trilhões. Esse dinheiro deixou de ser investido em educação básica ou saúde materna.

Há quem diga que o clima é a “maior ameaça” aos países pobres. Essa visão é condescendente e ignora a realidade. Pesquisas em 39 países da África classificam o clima em 31º lugar entre 34 preocupações —bem atrás de emprego, saúde e infraestrutura. As pessoas pobres sabem que seus maiores inimigos são a fome e a doença, não as emissões de carbono.

O movimento ambientalista essencialmente defende que cortes nas emissões venham antes do acesso a comida e remédios para pessoas pobres. Gates rebate essa ideia, defendendo que o foco volte ao que faz mais diferença.

Uma cúpula climática voltada ao bem-estar humano deve reconhecer que a promoção da prosperidade é uma das melhores respostas às mudanças climáticas, pois torna as pessoas mais resilientes. Como em qualquer política pública, devemos priorizar o que gera o maior impacto. Isso significa abandonar a obsessão cara e ineficiente pela emissão zero e concentrar esforços em adaptação e pesquisa para acelerar a inovação em energia limpa.

Quando os jatos privados da elite climática pousarem em Belém, será uma boa hora para dar ouvidos ao bom senso.


TENDÊNCIAS / DEBATES

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Fonte.:Folha de S.Paulo

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