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6 de novembro de 2025

Tubérculo amazônico ‘esquecido’ está no menu da COP30 – 06/11/2025 – Folha Social+

Tubérculo amazônico ‘esquecido’ está no menu da COP30 – 06/11/2025 – Folha Social+

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Consumido há mais de 9.000 anos entre povos amazônicos, um tubérculo ancestral parecido com a batata vai estar na mesa de autoridades da COP30 em Belém. É o ariá, alimento que sumiu das feiras e pratos e vem sendo resgatado por pesquisadores e chefs.

O ariá integra o movimento Na Mesa da COP30, liderado pelos institutos Regenera e Comida do Amanhã, que mapeou 8.000 famílias amazônicas aptas a fornecer ingredientes sustentáveis durante a conferência do clima.

Pela primeira vez, a COP terá pratos com pelo menos 30% de alimentos provenientes da agricultura familiar, da agroecologia e de comunidades tradicionais.

O tubérculo de textura delicada e sabor adocicado, que lembra o milho verde, pode ser consumido cozido, em mingaus, bebidas, assado na brasa, em forma de chips crocantes ou purê.

O chef do Shin Suzuran, em Manaus (AM), conheceu o ariá em 2015. Desde então, serve o alimento com pancs (plantas alimentícias não convencionais) e também frito, na salada, com molho sukiyaki ou curry—menos no forno, que pode ficar seco, diz Hiroya Takano, 73.

“É um tubérculo versátil, crocante, que adere ao molho e traz sabores na memória. Mas demora para cozinhar, não fica mole que nem batata.”

Ainda é difícil encontrar o ariá no mercado, e seu valor é bem superior ao da batata inglesa, mais consumida. “É um produto antigo que é novo”, brinca o chef da casa japonesa.

Por isso, Takano faz o plantio em seu quintal, para ser servido entre julho e setembro. “Faço o mesmo que fiz com o peixe cru, há décadas, quando o pessoal tinha medo de experimentar. E os clientes gostam”, diz ele.

Já o estudante manaura Eli Minev Benzecry, 17, conheceu o alimento durante a seca de 2023 na amazônia, quando povos ficaram isolados e cresceu a insegurança alimentar. “Foi em uma conversa com minha avó, que lembrava com saudade desse tubérculo quase esquecido. Isso me despertou: como um alimento nutritivo e resistente à seca some da memória coletiva?”

O jovem criou um projeto de valorização cultural do tubérculo em parceria com o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), levando o ariá para agroflorestas em Manaus e nove municípios do Amazonas.

“Ele é resistente à seca, nutritivo e conectado com a cultura local. Uma alternativa para momentos de crise”, diz Minev, coautor do livro “Ariá: um Alimento de Memória Afetiva”, hoje em mais de cem bibliotecas da região.

O livro traz receitas de chefs que valorizam a gastronomia amazônica contemporânea —como Alex Atala, Deborah Shornik e Felipe Schaedler— e ajudam a reintroduzir o ariá na culinária.

“Minha proposta é fazer com que alimentos nativos voltem à mesa das comunidades, à merenda escolar, aos cardápios de restaurantes e ao mercado local “, resume o estudante, destaque entre os Jovens Transformadores pelo Clima no Prêmio Empreendedor Social 2025. “A amazônia tem soluções que nascem da floresta e das pessoas que vivem nela.”



Fonte.:Folha de São Paulo

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