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9 de novembro de 2025

Inteligência artificial avança nas Redações de jornais – 08/11/2025 – Mercado

Inteligência artificial avança nas Redações de jornais – 08/11/2025 – Mercado

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A inteligência artificial está se espalhando pelas Redações, transformando a forma como jornalistas do mundo todo coletam e divulgam informações. Veículos tradicionais estão usando cada vez mais ferramentas de empresas como OpenAI e Google para agilizar tarefas que antes levavam horas: examinar grandes volumes de dados, encontrar fontes e até sugerir títulos.

É o caso de Ryan Sabalow, repórter do site CalMatters, que notou algo peculiar quando começou a cobrir o Legislativo da Califórnia em 2023. Políticos frequentemente faziam discursos inflamados contra projetos de lei e, em seguida, simplesmente deixavam de votar.

Ele começou a se perguntar com que frequência os legisladores estavam evitando votações difíceis —e como isso influenciava as leis do estado.

Até pouco tempo atrás, essas perguntas o levariam a vasculhar arquivos empoeirados ou planilhas intermináveis. Na era da inteligência artificial generativa, tudo o que ele precisou fazer foi pedir ajuda a uma máquina.

Sabalow e sua equipe recorreram a uma ferramenta de IA chamada Digital Democracy, que rastreia cada palavra dita nas sessões legislativas da Califórnia, cada doação e cada voto. Isso resultou em uma reportagem —e em um segmento vencedor do Emmy na CBS— que revelou que parlamentares democratas haviam derrubado um projeto popular sobre fentanil ao simplesmente não votar.

“Não acho que teria conseguido fazer isso sem esse banco de dados”, disse Sabalow.

Em alguns casos —como na Fortune e na Business Insider— publicações chegaram a usar IA para redigir artigos inteiros, avisando os leitores sobre seu uso em versões preliminares.

Quase todos os veículos adotaram mecanismos de controle para evitar erros, exigindo que humanos revisem qualquer texto gerado por IA antes da publicação. Mesmo assim, falhas constrangedoras surgiram, inclusive em publicações como Bloomberg, Business Insider e Wired.

“Muitas vezes a IA é uma ferramenta extraordinária para jornalistas”, disse Stephen Adler, ex-editor-chefe da Reuters e atual diretor da Ethics and Journalism Initiative da Universidade de Nova York.

“Ela é ótima para analisar grandes bases de dados, organizar anotações, revisar gramática e até apontar possíveis falhas em uma reportagem. Mas, como em grande parte da tecnologia, há riscos significativos.”

As apostas são altas para o setor. Nas últimas décadas, executivos de mídia viram a internet desestruturar seus modelos de negócio, eliminando a publicidade classificada e desviando leitores para as redes sociais.

Muitos perceberam que foram lentos diante da transformação tecnológica, oferecendo conteúdo gratuito na esperança de recuperar parte da receita digital.

Agora, tentam não repetir o erro. Empresas de mídia buscam forçar gigantes de tecnologia a pagar pelo uso de conteúdo jornalístico no treinamento de modelos de linguagem, seja por meio de acordos comerciais, seja por ações judiciais. O New York Times, que tem um contrato de licenciamento com a Amazon, processa OpenAI e Microsoft por violação de direitos autorais. As duas empresas negam a acusação.

Defensores da IA nas Redações dizem que, independentemente das implicações comerciais, a tecnologia é uma ferramenta poderosa para reportagem, edição e engajamento de leitores —e correm para descobrir como aproveitá-la.

A britânica Newsquest, do grupo USA Today, emprega mais de 30 jornalistas que usam IA para aprofundar pautas. A Axel Springer, dona do Politico e do Business Insider, criou um planejador de viagens interativo.

A Time usou um chatbot em sua edição de 2024 da “Pessoa do Ano”, dedicada a Donald Trump. E o New York Times mantém uma equipe que experimenta ferramentas de IA e desenvolve recursos de apuração.

Mas há resistência. Neste ano, um engenheiro do Washington Post levantou preocupações sobre uma nova ferramenta em desenvolvimento que resumia e agregava matérias de outros veículos, segundo duas pessoas com conhecimento do assunto. Um advogado do jornal também se manifestou, alertando que isso poderia violar direitos autorais.

O diretor de tecnologia do Post, Vineet Khosla, rebateu as críticas. O engenheiro acabou pedindo demissão, citando preocupações éticas com o uso da IA. O jornal acabou lançando uma versão diferente do projeto —um agregador automatizado que exibe uma faixa de manchetes.

Na Bloomberg, testes com resumos gerados por IA resultaram em dezenas de correções. Em uma delas, sobre a reação da Suíça às tarifas de Trump, o sistema trocou um superávit por um déficit. A empresa disse que 99% dos resumos atendem a seus padrões editoriais e que jornalistas têm controle total sobre a publicação.

Sindicatos também se mobilizam. A NewsGuild, que representa jornalistas de vários veículos, participou de 48 negociações coletivas desde o fim de 2023 envolvendo o uso da IA, segundo o presidente da entidade, Jon Schleuss.

“Precisamos de regras legalmente aplicáveis, já que não há regulação formal —mas dá para fazer isso por meio de negociação coletiva”, disse.

O debate continua. Na semana passada, a NPR propôs testar o uso da IA para converter reportagens de rádio em versões digitais, tornando o processo editorial mais eficiente.

O produtor Connor Donevan questionou a ideia: “Nós somos o meio do processo”, disse, segundo uma pessoa presente. “E o meio envolve decisões jornalísticas.”



Fonte.:Folha de S.Paulo

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