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9 de novembro de 2025

30 anos de COPs: Progressos, obstáculos e planeta em perigo

30 anos de COPs: Progressos, obstáculos e planeta em perigo

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Enquanto líderes se reúnem para a COP30 no Brasil neste mês — três décadas após a primeira conferência climática anual do mundo — os dados que mostram o progresso na luta contra o aquecimento global contam uma história preocupante.

Apesar de anos de negociações, promessas e cúpulas, as emissões de gases de efeito estufa aumentaram um terço desde aquele primeiro encontro; o consumo de combustíveis fósseis continua a crescer; e as temperaturas globais estão a caminho de ultrapassar os limites que, segundo cientistas, causarão danos catastróficos ao planeta.

“Sim, algumas coisas boas surgiram dessas convenções, mas não o suficiente para garantir a promessa de vida na Terra”, disse Juan Carlos Monterrey, representante especial do Panamá para mudanças climáticas, que lidera uma iniciativa para simplificar os principais acordos ambientais.

O efeito prático das cúpulas

Essa avaliação sombria levanta uma questão fundamental antes da cúpula de 10 a 21 de novembro em Belém do Pará: a diplomacia climática global está falhando? Ou os encontros obtiveram sucesso de maneiras que os dados brutos não conseguem captar?

Simon Stiell, chefe da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), afirma que as reuniões anuais estão ajudando. “Mas é evidente que muito mais é necessário, e muito mais rápido, já que desastres climáticos atingem todos os países.”

As emissões globais de gases de efeito estufa aumentaram 34% desde 1995. Embora essa taxa seja mais lenta do que o aumento de 64% nas três décadas anteriores, ainda representa uma trajetória incompatível com a estabilidade climática, explicam cientistas.

“Ainda temos tempo para resolver este problema. Ainda podemos vencer esta luta se fizermos o que prometemos. Só precisamos dar um empurrãozinho e começar a agir”, disse John Kerry, enviado especial dos Estados Unidos para o clima durante o governo do presidente democrata Joe Biden.

Agência da ONU prevê anos cada vez mais quentes até 2029 • Alexandros Maragos (Getty Images)
Agência da ONU prevê anos cada vez mais quentes até 2029 • Alexandros Maragos (Getty Images)

O WRI (Instituto de Recursos Mundiais), um grupo de pesquisa e defesa do clima, afirmou em um relatório de outubro que as metas governamentais de redução das emissões de gases de efeito estufa para 2035 continuam insuficientes para impedir que as temperaturas globais subam mais de 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais — o limite estabelecido pelos governos do mundo no histórico Acordo de Paris de 2015.

As temperaturas globais ultrapassaram a marca de 1,5 °C em alguns anos, com 2023 e 2024 estando entre os mais quentes já registrados, embora a média móvel de 30 anos — a referência usada pelo Acordo de Paris — ainda esteja abaixo desse nível.

“Haverá um aumento excessivo, o que é muito lamentável”, afirmou James Fletcher, enviado especial para o clima da CARICOM (Comunidade do Caribe) e ex-ministro de Energia de Santa Lúcia, em entrevista.

“Qualquer aumento acima de 1,5 grau Celsius será catastrófico para os pequenos estados insulares em desenvolvimento”, disse.

Stiell disse à Reuters que, sem o processo da COP, as temperaturas globais estariam caminhando para um aquecimento catastrófico de 5 °C, em vez do aumento de menos de 3 °C projetado atualmente.

Enquanto isso, o consumo de combustíveis fósseis — a principal fonte de emissões que aquecem o planeta — permanece teimosamente alto, impulsionado pelo crescimento econômico e, mais recentemente, pela demanda energética dos data centers que alimentam a inteligência artificial.

A AIE (Agência Internacional de Energia) prevê que a demanda por carvão — um dos combustíveis fósseis mais poluentes quando queimado — se manterá em níveis recordes até 2027, à medida que o aumento da demanda na China, Índia e outros países em desenvolvimento compensa a queda em outras regiões.

Por outro lado, a adoção de energia solar e eólica acelerou, as vendas de veículos elétricos dispararam globalmente e a eficiência energética em geral melhorou, segundo dados da AIE.

O investimento global em energia limpa atingiu US$ 2,2 trilhões no ano passado, superando o US$ 1 trilhão investido em combustíveis fósseis, segundo dados da AIE.

“Há dez anos, jamais poderíamos ter imaginado que esses avanços tecnológicos e a queda nos preços de veículos elétricos e energias renováveis ​​ocorreriam”, disse Jennifer Morgan, ex-enviada especial da Alemanha para o clima e veterana de todas as cúpulas da COP.

Usinas eólicas e torre de transmissão de energia • REUTERS/David Moir
Usinas eólicas e torre de transmissão de energia • REUTERS/David Moir

Ainda assim, o crescimento das energias renováveis ​​e dos veículos elétricos compensou em grande parte a crescente demanda por energia, em vez de substituir os combustíveis fósseis.

E nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump — que chamou a mudança climática de a maior “farsa” do mundo — cortou subsídios para energia eólica e solar e veículos elétricos, criou obstáculos burocráticos para projetos de energias renováveis ​​e abriu mais áreas para perfuração e mineração.

“O presidente Trump não colocará em risco a segurança econômica e nacional do nosso país para perseguir metas climáticas vagas que estão destruindo outros países”, expressou Taylor Rogers, porta-voz da Casa Branca, à agência de notícias Reuters.

Conquistas e regressos da cúpula

Apesar desses contratempos nos Estados Unidos, o Acordo de Paris sobre o clima — talvez a maior conquista do processo da COP — perdurou, mesmo após a retirada do país durante os dois mandatos de Donald Trump.

Isso significa que, teoricamente, os países continuam comprometidos em evitar o pior das mudanças climáticas.

No entanto, a natureza consensual das negociações da COP, que exigem decisões unânimes de quase 200 nações, tem sido alvo de críticas.

“Estamos afogados em papelada, afogados em relatórios, afogados em mandatos que são avaliados apenas com base no número de páginas do documento em vez de quantas vidas estamos salvando”, ressaltou Monterrey, o enviado climático do Panamá. “Precisamos de uma reforma sistêmica.”

Christiana Figueres, que foi a principal representante da ONU para o clima durante as negociações de Paris, afirmou que as COPs poderiam considerar a adoção de um sistema de votação, semelhante ao do Fundo Monetário Internacional.

Mas Figueres também disse que as negociações políticas estão se tornando menos importantes à medida que as economias mundiais adotam tecnologias de energia limpa.

“Hoje, a força motriz para a transição não vem mais dos governos. Ela está no setor privado, na indústria, no desenvolvimento tecnológico”, explicou ela.

A representante citou a China, que sozinha responde por um terço do investimento global em energia limpa, incluindo energia solar, eólica, baterias e a indústria de veículos elétricos, segundo a AIE (Agência Internacional de Energia).

Participação de todos os países

Alguns veteranos da COP argumentam que o processo atual é a melhor opção para garantir que todos os países tenham voz ativa na discussão de um problema global.

“Não acredito que existam alternativas ao processo multilateral”, disse Manuel Pulgar Vidal, que presidiu a COP20 no Peru e atualmente é diretor de clima do Fundo Mundial para a Natureza (WWF).

O ex-enviado climático dos EUA, Kerry, reconheceu as falhas nesses encontros anuais, mas afirmou que eles continuam sendo vitais.

“Sabemos que não são suficientes, mas persistir e manter o processo em andamento é melhor do que o niilismo absoluto e abjeto.”



Fonte: CNN Brasil

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