
Crédito, AP
- Author, Henri Astier
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Três semanas após o assalto ao museu do Louvre, em Paris, uma dúvida permanecia: quem era o “homem do chapéu” que rondava a cena?
O jovem elegante, fotografado diante do museu no domingo (19/10) do crime, viralizou nas redes sociais e gerou especulações sobre sua identidade.
Enquanto a polícia prendeu e indiciou quatro pessoas e a direção do museu admitiu falhas na segurança das câmeras, a figura do rapaz seguia um enigma até agora.
O “dândi” é Pedro Elias Garzon Delvaux, adolescente de 15 anos, morador de Rambouillet, cidade a sudoeste de Paris. Fã de Sherlock Holmes e Hercule Poirot, ele contou à agência de notícias Associated Press que havia planejado visitar o Louvre com a família, mas encontrou o museu fechado.
“Não sabíamos que tinha havido um assalto”, disse.
Enquanto perguntava aos policiais o motivo do fechamento, um fotógrafo da AP fez uma imagem do cordão de isolamento e acabou registrando Pedro no enquadramento da imagem.
Delvaux só percebeu que a foto havia viralizado quatro dias depois, quando um amigo lhe enviou uma captura de tela perguntando: “É você?”.
Ao confirmar, ouviu que o vídeo com a imagem já tinha 5 milhões de visualizações no TikTok. “Fiquei um pouco surpreso”, afirmou.
A surpresa foi maior quando a mãe ligou avisando que a foto tinha saído no jornal The New York Times. “Foi marcante, porque leio o jornal e não é todo dia que você aparece no New York Times”, disse.
“Algumas pessoas disseram: ‘Você virou uma estrela’. Fiquei espantado que só com uma foto se possa ficar famoso em poucos dias.”
Questionado sobre o figurino — colete e chapéu fedora de estilo antigo —, Pedro explicou que adotou recentemente esse modo de se vestir, inspirado em estadistas do século 20 e detetives da ficção.
“Gosto de ser elegante”, afirmou. “Vou à escola assim.”
Com teorias se espalhando na internet — algumas insinuando que ele seria um detetive de verdade ou até uma criação de inteligência artificial —, Pedro preferiu o silêncio.
“Não quis dizer logo que era eu”, contou. “Essa foto tem um mistério, e o mistério precisa durar.”
O roubo
No domingo (19/10), entre 9h30 e 9h40 no horário local, pouco depois da abertura do museu ao público, um grupo de ladrões invadiu, em plena luz do dia, o Museu do Louvre — o mais visitado do mundo — e levou joias da coroa francesa de grande importância histórica, avaliadas em 88 milhões de euros (cerca de R$ 530 milhões).
A ação, que durou poucos minutos, levou o museu a fechar temporariamente as portas. O roubo ocorreu logo após a abertura do museu para visitação, entre 9h30 e 9h40 no horário local.
Quatro ladrões usaram um elevador mecânico acoplado a um veículo para alcançar a Galerie d’Apollon (Galeria de Apolo) por uma varanda voltada para o rio Sena.
Os criminosos usaram um elevador mecânico e ferramentas elétricas para abrir as vitrines e fugiram em scooters com oito peças de joalheria, entre elas brincos, broches e colares com milhares de diamantes e outras pedras preciosas.
Imagens do local após o crime mostram uma escada sobre um veículo estendida até o primeiro andar do museu, apoiada na varanda do prédio.
Dois dos ladrões cortaram as vidraças com um cortador de disco movido a bateria e entraram no prédio.
Lá dentro, ameaçaram guardas, que evacuaram o local, e roubaram itens de duas vitrines de vidro.
Os alarmes do museu soaram conforme esperado em situações desse tipo, e a equipe do museu seguiu o protocolo previsto, entrando em contato com as forças de segurança e protegendo os visitantes, conforme informou o Ministério da Cultura em um comunicado.
Um relatório preliminar revelou que uma em cada três salas na área do museu invadido não tinha câmeras de circuito fechado de TV, de acordo com a mídia francesa.
Segundo as autoridades francesas, oito itens foram roubados, incluindo uma tiara, colares, brincos e broches. Todos são do século 19 e pertenceram à coroa francesa.
O Ministério da Cultura da França detalhou as peças levadas, adornadas com milhares de diamantes e outras pedras preciosas:
– Uma tiara e um broche pertencentes à Imperatriz Eugénie, esposa de Napoleão 3º;
– Um colar de esmeraldas e um par de brincos de esmeralda da Imperatriz Maria Luísa;
– Uma tiara, um colar e um brinco do conjunto de safiras que pertenceu à Rainha Maria Amélie e à Rainha Hortense;
– Um broche conhecido como “broche relicário”.
Mais dois itens, incluindo a coroa da Imperatriz Eugénie, foram encontrados perto do local — aparentemente caíram durante a fuga. As autoridades estão examinando as peças para verificar se elas foram danificadas.

Como detetives ‘de verdade’ acharam suspeitos do roubo
Cerca de 60 investigadores estão trabalhando no caso, e os promotores trabalham com a teoria de que os assaltantes estavam sob as ordens de uma organização criminosa.
O procurador de Paris, Laure Beccuau, afirmou à rádio Franceinfo que o roubo foi cometido por “criminosos comuns”, e não por uma quadrilha profissional. “Não se trata exatamente de delinquência comum, mas é um tipo de criminalidade que geralmente não associamos aos escalões superiores do crime organizado”, disse Beccuau.
De acordo com a mídia francesa, amostras de DNA achadas na escada e em uma moto usadas na fuga levaram à prisão de dois dos suspeitos que já estavam no banco de dados dos investigadores.
A Promotoria de Paris afirmou que os quatro suspeitos do assalto — três homens e uma mulher — moram na região de Seine-Saint-Denis, ao norte da capital francesa. Dois suspeitos admitiram parcialmente ter participado no crime.
Um juiz determinou no início de novembro que a suspeita (uma mulher de 38 anos) permanecesse sob custódia, alegando risco de fuga e de conluio com outros investigados. Um homem de 37 anos, também acusado e com antecedentes por roubo, teve a prisão preventiva decretada.
Ambos estão “sob investigação”, etapa que pode levar ao julgamento.
Outro suspeito, identificado como Abdoulaye N., 39, é conhecido em Aubervilliers, também no norte de Paris, por suas manobras ilegais de moto.
Apelidado de Doudou Cross Bitume, ele publicava vídeos empinando a moto em locais turísticos como o Trocadero e, mais recentemente, praticando fisiculturismo.
Ex-guarda do Centro Pompidou, tinha condenações por infrações de trânsito e pequenos delitos, mas não por crime organizado.
Natalie Goulet, membro da comissão de finanças do Senado francês, disse à BBC que o alarme local da galeria foi recentemente danificado e que “temos que aguardar a investigação para saber se o alarme foi desativado”.
O Ministério da Cultura da França informou que os alarmes gerais do museu dispararam e que os funcionários seguiram o protocolo, entrando em contato com as forças de segurança e protegendo os visitantes.
A presidente do museu do Louvre, Laurence des Cars, admitiu falhas na segurança, mas negou negligência. Disse que, desde que assumiu o cargo em 2021, vinha alertando sobre a necessidade de mais investimentos.
Segundo ela, o ponto mais vulnerável do sistema era a ausência de câmeras de vigilância no perímetro da Galeria de Apolo — responsabilidade, segundo afirmou, da prefeitura de Paris.
Desde o assalto, o governo francês ampliou as medidas de proteção em museus e instituições culturais. Parte das joias mais valiosas do Louvre foi transferida para o cofre do Banco da França, localizado 26 metros abaixo da sede da instituição, no centro de Paris.
No início deste ano, os responsáveis do Louvre solicitaram ajuda ao governo francês para restaurar e renovar as salas de exposição envelhecidas do museu e proteger melhor as suas obras de arte.
Na época, o presidente francês Emmanuel Macron prometeu que o Louvre seria redesenhado como parte do projeto Nova Renascença, com um custo estimado entre 700 milhões e 800 milhões de euros (de R$ 4,3 bilhões a R$ 5 bilhões). O projeto inclui reforço da segurança.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL


