Ao anunciar, nesta terça (11), na COP30 o compromisso da Open Society Foundations (OSF) de investir US$ 19,5 milhões (cerca de R$ 100 milhões) na América Latina em projetos para apoiar defensores ambientais e a transição para uma economia mais verde e justa, o vice-presidente de programas da entidade, Pedro Abramovay, destacou que a ausência dos EUA no evento em Belém pode ser bom para as negociações do clima.
“A ausência dos EUA é muito difícil porque fica complicado pensar em avanços sem um dos maiores emissores de carbono do mundo. Mas os EUA são também o país que historicamente causa entraves nas negociações climáticas, e depois ainda não assina os acordos”, afirma. “Poder negociar sem os EUA gera novas oportunidades.”
COP30
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Para ele, a COP30 está focando na implementação, e reuniões do G20 e a última Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, na Espanha, são espaços multilaterais que mostraram ser possível promover avanços em temas como desigualdade, taxação de superricos e meio ambiente.
Com o investimento anunciado na COP30, a OSF estima que seja possível proteger seis milhões de hectares de terra, mitigar cinco milhões de toneladas de emissões de CO2, criar 7.000 novos empregos, reduzir em um milhão de toneladas o uso de fertilizantes e pesticidas químicos e impactar positivamente cerca de 800 mil pessoas.
A Open Society Foundation é a organização filantrópica do megainvestidor norte-americano, de origem húngara, George Soros.
A maior parte do investimento anunciado, US$ 15 milhões (cerca de R$ 80 milhões), será do Fundo Soros de Desenvolvimento Econômico (SEDF), o braço de investimentos da OSF, e vai para dois fundos, o SP Ventures, que apoia startups de tecnologia agrícola para redução de emissões de carbono, e o EcoEnterprises, liderado por mulheres e que investe em negócios baseados na natureza que geram empregos locais.
“Quando fazemos investimento em bioeconomia com geração de emprego e que valorize a floresta em pé, quando há pouca gente fazendo isso, parece ser algo arriscado, mas estamos apostando que a floresta é mais valiosa em geração de riqueza e de empregos, o que pode atrair novos investidores privados no futuro”, afirma Abramovay.
O restante dos recursos deve financiar um programa que apoia o Fórum de Fundos Soberanos Brasileiros a redirecionar as receitas que recebe de petróleo e mineração para indústrias verdes e a implementação do Plano de Transformação Ecológica do Brasil nos estados do Nordeste e da Amazônia.
O investimento também deve financiar a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (Cepal), braço da ONU responsável por gerir o Acordo de Escazú, o primeiro tratado dedicado à transparência ambiental no mundo e à proteção de defensores ambientais que enfrentam ameaças e violência na região.
Assinado pelo Brasil em 2018, o texto aguardava deliberação há seis anos e foi aprovado na Câmara dos Deputados cinco dias atrás. Agora, segue para o Senado.
“Só vai ter floresta se esses defensores conseguirem fazer o trabalho deles”, diz Abramovay. “Eventos multilaterais como a COP discutem as questões em abstrato, mas quem está colocando o próprio corpo para defender a floresta são essas pessoas.”
Em 2024, o Brasil foi o quarto país da América Latina com maior número de assassinatos de defensores da terra e do meio ambiente segundo dados da ONG Global Witness, que realiza este levantamento desde 2012. Em anos anteriores, o Brasil esteve no topo deste ranking.
“A OSF é uma organização que trabalha com temas de democracia e justiça, mas enxergamos cada vez mais esses temas conectados a desenvolvimento, emprego e sustentabilidade”, explica o vice-presidente de programas da fundação.
Fonte.:Folha de S.Paulo


