A vereadora Dra. Mara (Podemos), criticou a declaração do vice-prefeito de Várzea Grande, Tião da Zaeli (PL), que afirmou recentemente que mulheres sem “estrutura emocional” não deveriam se envolver com política.
Para a parlamentar, o comentário reforça estereótipos machistas e ignora o avanço histórico da participação feminina nos espaços de poder. “Com todo respeito pelo meu colega Tião, mas infelizmente foi infeliz na fala. O direito da mulher não é privilégio, é conquistado, é constitucional. O direito à igualdade está garantido na Constituição”, afirmou.
Segundo Mara, falas que associam mulheres ao desequilíbrio emocional minimizam séculos de luta e de violência enfrentados por aquelas que abriram caminho na política. “Demoramos muito para chegar até aqui. Muitas de nós morreram para que outras pudessem ocupar esses espaços. E ainda vamos continuar sendo desvalorizadas? Não cabe mais falar em política pública sem a presença da mulher — seja ela cheia de ‘mimimi’ ou não”, completou.
O vice-prefeito de Várzea Grande, afirmou que mulheres sem “estrutura emocional” não devem se envolver com política. A declaração foi dada em meio à repercussão da denúncia de violência política de gênero feita pela prefeita Flávia Moretti (PL), que afirmou ter sido atacada pelo vereador Samir Katumata (PL), conhecido como Japonês. Nesta terça-feira (11), Zaeli reconheceu o desgaste entre os dois, mas minimizou o episódio.
Apesar de a própria prefeita ter relatado publicamente que foi alvo de ataques machistas, o vice-prefeito negou que a situação configure violência de gênero. “Eu não tenho visto essa violência de gênero. A política é um palco muito disputado, de muitos debates acalorados”, afirmou.
Tião ainda sugeriu que a prefeita precisa se adequar ao ambiente político. “Se a mulher não tem estrutura emocional e não tem essa capacidade de ir por debate, não deve mexer com política”, disse. Em seguida, comparou o enfrentamento político à experiência masculina: “Até nós que somos homens, que temos uma estrutura emocional um pouco mais forte, a gente sofre com isso.”
Para Dra. Mara, o comentário reforça a dificuldade de aceitação da presença feminina na política, mas ela ponderou que o problema não é exclusivo dos homens. “A sociedade em geral precisa se ajustar. E falo para todos, porque também há mulheres preconceituosas. Todos precisam aceitar que as mulheres vieram para ficar”, afirmou.
A vereadora avaliou a postura do vice-prefeito com ironia: “Vou dar nota 3. Como vice, dou 8, mas por esta fala, dou 3.”
Em tom pessoal, Dra. Mara relatou situações em que se sentiu desrespeitada durante a carreira política. “Em muitos momentos, como mulher, me senti constrangida e não respeitada. Todos os dias precisamos provar a que viemos”, desabafou.
Ela também rebateu a cobrança por “equilíbrio emocional” feita pelo vice-prefeito: “Se for colocar na balança, os homens possuem muito mais desequilíbrio emocional. Temos exemplos aqui mesmo na Casa: quem mais se exalta?”, questionou.
Apesar das críticas, Mara buscou amenizar o impacto político do episódio. “Acredito que foi uma situação espontânea, não dita por maldade”, ponderou.
A repercussão do caso reacendeu o debate sobre a violência política de gênero e a insegurança de mulheres em cargos de poder. Especialistas apontam que falas como a de Tião da Zaeli reproduzem machismo estrutural e configuram violência simbólica, ao sugerir que a capacidade política feminina depende de um padrão emocional definido por homens.
Essa narrativa — de que a política exigiria uma “estrutura emocional” que apenas os homens teriam — é frequentemente usada para deslegitimar a presença das mulheres na vida pública e perpetuar a desigualdade nos espaços de decisão.
Fonte.: MT MAIS


