
- Author, Rachel Clun
- Role, business reporter
Todas as empresas serão afetadas se uma eventual bolha da inteligência artificial (IA) estourar, afirmou Sundar Pichai, CEO da Alphabet, que controla o Google, em entrevista exclusiva à BBC.
Para Pichai, se por um lado o crescimento dos investimentos em IA vive um “momento extraordinário”, de outro há uma certa “irracionalidade” no boom atual em torno da tecnologia.
As declarações de Pichai se dão em meio a temores no Vale do Silício (onde ficam sediadas algumas das principais empresas de tecnologia) e além em relação a uma bolha no setor, já que o valor de mercado de empresas de IA cresceu vertiginosamente nos últimos meses e diversas outras empresas têm investido bilhões de dólares nessa indústria em expansão.
Questionado se o Google estaria imune ao impacto de uma eventual bolha da IA estourar, Pichai afirmou que a gigante de tecnologia poderia resistir ao impacto, mas faz um alerta.
“Eu acho que nenhuma empresa estará imune, incluindo a gente.”
Na ampla entrevista concedida à BBC na sede da empresa na Califórnia (EUA), Pichai trata também de demanda energética, desacelerar metas climáticas, investimentos no Reino Unido, a acurácia dos modelos de IA e o impacto da revolução da IA nos empregos.
O escrutínio em relação ao mercado de IA nunca foi tão intenso. As ações da Alphabet dobraram de valor em sete meses (chegando a US$ 3,5 trilhões, ou quase R$ 18,6 trilhões), enquanto os mercados aumentam sua confiança de que a empresa que controla o Google, uma gigante de buscas na internet, conseguirá superar a ameaça do ChatGPT, da OpenAI.
Um foco específico da Alphabet tem sido o desenvolvimento de superchips especializados para IA que competem com a Nvidia, liderada por Jensen Huang, que recentemente se tornou a primeira empresa do mundo a atingir US$ 5 trilhões (cerca de R$ 26,6 trilhões) em valor de mercado.
Enquanto esses valores sobem, alguns analistas de mercado têm expressado ceticismo acerca do emaranhado de negociações que totalizam US$ 1,4 trilhão (cerca de R$ 7,46 trilhões) em torno da OpenAI, que espera faturar neste ano menos de um milésimo desse valor previsto de investimento.

Crédito, SOPA Images/LightRocket via Getty Images
Em comentários que fazem eco ao que Alan Greenspan, então chefe do Tesouro americano, classificou em 1996 de “exuberância irracional” em seu alerta ao mercado durante a bolha “pontocom” e o seu estouro no mercado em 2000, Pichai afirma que a indústria pode “errar o alvo” em ciclos de investimento como esse.
“Nós podemos agora olhar para a internet do passado. Havia claramente excesso de investimentos, mas nenhum de nós questionava se a internet era profunda”, diz Pichai. “Eu espero o mesmo da IA. Então, eu acho que há elementos racionais e irracionais em momentos como esse.”
Os comentários de Pichai também fazem eco ao alerta de Jamie Dimon, chefe do banco americano JP Morgan, que disse à BBC no mês passado que o investimento em IA iria se pagar, mas parte do dinheiro investido nessa indústria “seria provavelmente perdido”.
Mas Pichai afirma que o modelo único de negócios do Google, que detém o “pacote completo” de tecnologias (dos chips aos dados do YouTube, dos modelos de IA à ciência de vanguarda), coloca a empresa numa melhor posição para lidar com turbulências no mercado de IA.
A Alphabet (que controla o Google) tem anunciado diversos investimentos ao redor do mundo, incluindo o Reino Unido. Em setembro, a empresa anunciou um investimento de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 26,6 bilhões) em infraestrutura e pesquisa em inteligência artificial no país nos próximos dois anos.
Segundo Pichai, a Alphabet vai desenvolver ainda pesquisas avançadas no Reino Unido, incluindo a unidade de inteligência artificial DeepMind, baseada em Londres.
Pela primeira vez, Pichai afirma que o Google ao longo do tempo vai tomar uma medida que tem sido pressionada por governos britânicos: treinar os modelos de inteligência artificial no país. Esse movimento, segundo membros do governo, consolidaria o Reino Unido com a terceira superpotência de IA, atrás de Estados Unidos e China.
Por outro lado, Pichai ressalta que a “imensa” demanda energética por parte da IA, que representou 1,5% do consumo global de eletricidade no ano passado, segundo a Agência Internacional de Energia. Por isso, afirma Pichai, países como o Reino Unido precisam desenvolver novas fontes de energia e ampliar a infraestrutura energética.
“Você não quer restringir a economia por causa de energia, mas isso terá consequências”, diz Pichai. Segundo ele, a demanda intensa por energia na expansão da IA levou a uma redução das metas climáticas da empresa, mas a Alphabet insiste que mantém a meta de zerar as emissões até 2030 ao investir em novas tecnologias energéticas.
“O ritmo que esperamos para fazer progresso será impactado”, afirma Pichai.
Haverá impacto da IA também no mercado de trabalho como o conhecemos, diz ele, classificando a IA de “a mais profunda tecnologia” na qual a humanidade já trabalhou.
“Nós teremos que trabalhar em meio aos impactos sociais”, afirma Pichai, acrescentando que a tecnologia também “criará novas oportunidades”.
“[A IA] vai evoluir e transformar alguns empregos, e as pessoas precisarão se adaptar”, diz Pichai, e aqueles que se adaptarem à IA “se darão melhor”.
“Não importa se você é um professor ou um édico. Todas as profissões serão impactadas, mas as pessoas que se darão melhor em cada uma dessas profissões serão aquelas que aprenderem a usar essas ferramentas.”
Fonte.:BBC NEWS BRASIL


