Vivemos em tempos em que a instabilidade econômica deixou de ser uma notícia distante para se tornar uma experiência e um desafio diários. A inflação, o desemprego e o custo de vida elevado não apenas afetam o bolso, mas também o corpo e a mente dos brasileiros.
Nos consultórios, é crescente o número de pessoas que relatam inquietação emocional, insônia, irritabilidade, fadiga, dificuldade de concentração, crises de ansiedade e angústia constante diante das incertezas financeiras, sintomas da chamada ansiedade econômica.
Infelizmente, esse fenômeno não afeta apenas o orçamento familiar; ele toca dimensões profundas da psique humana e da identidade de cada um.
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As raízes emocionais da preocupação financeira
A ansiedade relacionada ao dinheiro raramente nasce apenas de fatores externos; em muitos casos, representa camadas emocionais mais antigas, nas quais expectativas de sucesso e crenças sobre “merecer prosperar” moldam a forma como cada indivíduo se relaciona com o dinheiro.
Suas raízes costumam estar ligadas à infância, a experiências e ao histórico familiar de escassez, a comparações entre irmãos ou a medos herdados. Assim, recursos financeiros deixam de ser apenas um meio de sobrevivência e passam a simbolizar segurança, valor pessoal, reconhecimento e pertencimento social.
Quando o cenário econômico se torna imprevisível, essa estrutura interna entra em colapso e desaba. O indivíduo sente que perde o controle, o chão e, com isso, surge a sensação de instabilidade emocional.
A neuropsicologia da incerteza
Do ponto de vista da neurociência, a ansiedade econômica funciona como um mecanismo de proteção. O cérebro humano foi programado, em suas reações primitivas, para antecipar ameaças e tentar garantir estabilidade e segurança. Quando não consegue prever o futuro, especialmente em temas relacionados à sobrevivência, ele intensifica a vigilância.
Essa hipervigilância constante, tentando prever riscos e controlar o incontrolável, gera desgaste emocional e fisiológico, fazendo com que o corpo produza mais cortisol. O sono se fragmenta, a respiração se encurta e a atenção fica comprometida.
Ao mesmo tempo, surgem comportamentos de controle excessivo, autocrítica e comparações sociais constantes, movimentos internos na tentativa de recuperar uma sensação de segurança e tranquilidade.
Como lidar com o estresse financeiro na prática
Superar a ansiedade econômica exige tanto ações práticas quanto reflexão. No plano prático, é importante organizar as finanças, buscar orientação profissional e evitar o consumo de informações alarmistas para afastar o pânico midiático.
No plano emocional, é fundamental resgatar a confiança em si e nas próprias capacidades de adaptação. Entre as práticas que ajudam nesse processo estão:
- Cultivar a gratidão e reconhecer as conquistas, por menores que sejam, para conquistar autoconfiança;
- Praticar pausas de respiração e presença para regular o sistema nervoso;
- Reduzir a autocrítica e a comparação com os outros;
- Buscar acompanhamento terapêutico para trabalhar crenças e vínculos emocionais ligados ao dinheiro.
Esses pequenos passos devolvem clareza e criam espaço para decisões mais equilibradas, mesmo em contextos desafiadores.
A segurança nasce na integração entre corpo, mente e realidade
Uma vez que corpo e mente são expressões de um mesmo sistema, quando o medo do futuro domina a mente, o corpo endurece, o sono se fragmenta e o coração acelera. O tratamento, portanto, envolve reconectar essas dimensões por meio de técnicas de respiração, relaxamento, movimento corporal, práticas de atenção plena e acompanhamento profissional.
Mais do que eliminar o medo, o objetivo é transformar a relação com ele, já que ele e qualquer outra emoção surgem para nos proteger. Em vez de tentar controlar o futuro, o paciente aprende a ancorar-se no presente, encontrando serenidade mesmo em meio à instabilidade.
Quando aprendemos a desenvolver maior consciência sobre a relação com o dinheiro e com nossas emoções, aprendemos também a lidar com incertezas e a confiar nas nossas competências e recursos internos, tornando-nos menos vulneráveis às oscilações externas.
Afinal, equilíbrio emocional não é ausência de crise, mas a capacidade de permanecer inteiro enquanto ela passa. Nessa perspectiva, o futuro deixa de ser uma ameaça e passa a ser um território possível, no qual planejamento e serenidade caminham lado a lado.
A ansiedade econômica é, sem dúvida, um retrato do nosso tempo, mas também um convite à evolução e a uma maior conexão com nosso interior. Quando compreendemos que a segurança verdadeira nasce de dentro, e não apenas do saldo bancário, damos um passo decisivo rumo a uma vida mais saudável e plena, com adaptação emocional e cognitiva.
*Diego Wildberger é psicoterapeuta e membro da Brazil Health
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)

Fonte.:Saúde Abril


