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19 de novembro de 2025

Energia hidrelétrica sofre com mudanças climáticas – 19/11/2025 – Ambiente

Energia hidrelétrica sofre com mudanças climáticas – 19/11/2025 – Ambiente

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Na terceira maior bacia hidrográfica do Brasil, no coração da amazônia, uma gigantesca usina hidrelétrica se ergue como um monumento à fonte de energia limpa mais antiga do mundo —e aos grandes desafios que ela enfrenta.

A seca e o tempo cobraram seu preço na usina, na barragem de Tucuruí e no projeto hidrelétrico. De perto, os visitantes podem ver vazamentos que formam pequenas cachoeiras indesejadas.

Concluída há cerca de 40 anos, a usina de Tucuruí e centenas de outras ao redor do mundo estão sob crescente pressão justamente quando a humanidade precisa de muito mais eletricidade. Secas e períodos de estiagem têm dificultado a geração de energia suficiente. O excesso de chuvas também tem sido um problema, pois as enchentes podem danificar seus equipamentos.

A produção de energia hidrelétrica caiu 3% no Brasil no ano passado, segundo a Ember Energy Research e o que o país produz representa menos da metade de sua capacidade. Isso pode parecer pouco, mas significa uma grande pressão, pois o consumo de energia está crescendo rapidamente e as usinas hidrelétricas normalmente fornecem mais da metade da eletricidade do Brasil.

O Canadá, a China, os Estados Unidos e outros países também têm enfrentado dificuldades com a baixa produção hidrelétrica nos últimos anos. Como compensar essas deficiências e, ao mesmo tempo, alcançar metas ambiciosas de redução de emissões e desenvolvimento econômico está na pauta da COP30, conferência anual das Nações Unidas sobre o clima, em Belém, a seis horas de carro de Tucuruí.

O clima extremo atingiu o Brasil com força. Em 2014 e no início de 2015, o país quase precisou racionar energia elétrica porque alguns reservatórios estavam com níveis baixos. A seca e o desmatamento na amazônia —lar de cerca de 60% das florestas tropicais remanescentes do planeta— contribuíram para a redução dos níveis de água. No ano passado, choveu tão pouco que incêndios florestais consumiram uma área da amazônia do tamanho da Califórnia. E inundações e deslizamentos de terra ocasionalmente forçaram o fechamento de usinas hidrelétricas no sul do Brasil.

“Acredito que ultrapassamos os limites”, disse Ivan de Souza Monteiro, CEO da AXIA Energia, maior fornecedora de energia do Brasil e proprietária da usina de Tucuruí. “A mudança climática é algo que veio para ficar.”

A empresa de Monteiro está investindo US$ 270 milhões para modernizar Tucuruí, prolongar sua vida útil e reparar parte dos danos causados pela idade e pelas intempéries. O Brasil também está ampliando o uso de turbinas eólicas e painéis solares.

Frequentemente ofuscada por formas de energia mais modernas, a energia hidrelétrica continua sendo uma fonte de energia essencial. É a terceira maior fonte de eletricidade do mundo, depois do carvão e do gás natural.

Mas está se tornando menos confiável. Em 2023, a produção de eletricidade em usinas hidrelétricas em todo o mundo caiu o equivalente à energia consumida em um ano pelo Chile ou pelas Filipinas —a maior queda anual desde 1965. A segunda maior queda ocorreu em 2021. A Agência Internacional de Energia afirma que os eventos climáticos extremos são os principais responsáveis.

“O fato de estar acontecendo de forma tão generalizada é bastante alarmante”, disse Robert McCullough, diretor da McCullough Research, uma empresa de consultoria em energia com sede em Portland, Oregon. “A realidade é tão profunda e tão pouco compreendida.”

Apesar desses desafios e das antigas preocupações ambientais e sociais em relação às barragens, alguns governos e empresas de energia estão pressionando para construir mais delas. A China está trabalhando no maior projeto hidrelétrico do mundo no Tibete, aumentando as preocupações com a escassez de água na Índia e em Bangladesh.

“Enquanto os tomadores de decisão em todo o mundo se esforçam para atender ao forte crescimento renovado do consumo de eletricidade, acredito que é hora de dar à energia hidrelétrica a atenção que ela merece”, escreveu Fatih Birol, diretor executivo da Agência Internacional de Energia, em um boletim informativo publicado por sua organização multilateral sediada em Paris, em outubro.

Planos para se adaptar e encontrar alternativas

Tucuruí fica às margens do rio Tocantins, a quatro horas de carro pela rodovia Transamazônica do aeroporto mais próximo.

O percurso oferece um retrato de duas Amazônias. Em muitos lugares, colinas onduladas são cobertas por palmeiras e árvores frutíferas, trepadeiras agressivas e outras espécies nativas. Mas em alguns trechos, do outro lado da rodovia, a terra está carbonizada onde agricultores atearam fogo para desmatar e criar pastagens para o gado.

Esses incêndios podem se alastrar furiosamente. Às vezes, o fogo e a fumaça podem ser vistos à distância das imponentes paredes da represa de Tucuruí —um lembrete vívido das ameaças à floresta tropical, seus rios e à principal fonte de energia do Brasil.

A AXIA Energia, anteriormente conhecida como Eletrobras, considera Tucuruí um de seus ativos mais importantes e fundamental para o fornecimento de energia ao país, mesmo com a expansão da geração de energia eólica e solar.

Tucuruí é a terceira maior geradora de energia elétrica do Brasil e a oitava do mundo. Ela pode produzir cerca de 20% mais energia elétrica do que a maior usina hidrelétrica dos Estados Unidos, a Usina Grand Coulee, no estado de Washington.

A AXIA e o governo estão muito preocupados com a saúde da floresta tropical e das águas represadas pelas quase duas dezenas de comportas gigantes do vertedouro de Tucuruí. As autoridades utilizam patrulhas de barco para monitorar a saúde e a segurança da floresta tropical, do rio e da vida selvagem, incluindo os botos que habitam essas águas. Cerca de 600 pessoas trabalham na usina diariamente.

Um projeto de modernização de cinco anos está em pleno andamento. Os trabalhadores estão substituindo transformadores e cinco dos seus 25 geradores, modernizando uma subestação e automatizando equipamentos. A empresa também está trabalhando para tornar a usina mais eficiente e flexível, visto que as condições climáticas instáveis dificultam a produção de energia hidrelétrica.

“Esta é uma modernização sem precedentes que estamos realizando”, disse Allan Almeida de Lima, gerente executivo de operações e manutenção da usina.

A energia hidrelétrica gerou 48% da eletricidade do Brasil em agosto, segundo a Ember, o menor índice em quatro anos. Com a geração de energia hidrelétrica cada vez mais irregular, o país tem dependido cada vez mais da energia solar e eólica. Em agosto, essas duas fontes forneceram mais de um terço da eletricidade nacional pela primeira vez.

Ativistas ambientais afirmam que os líderes mundiais deveriam se concentrar na restauração de barragens antigas em vez de construir novas.

“Se a barragem estiver construída e produzindo energia, use-a, mas não construa novas hidrelétricas, dada a confusão que seria desmatar quilômetros e quilômetros de terra”, disse Bill Powers, engenheiro e consultor de energia de San Diego. “O Brasil é um bom exemplo. Eles desmataram aldeia após aldeia.”

Em resposta às preocupações sobre Tucuruí e outras usinas hidrelétricas, a AXIA afirmou ter indenizado as pessoas deslocadas e trabalhado para restaurar as terras afetadas.

Em comunicado, a empresa afirmou que a conclusão da usina de Tucuruí “foi realizada com a participação das comunidades locais, que foram incluídas em uma série de programas e iniciativas destinadas a mitigar e compensar os impactos do projeto”. Acrescentou ainda que autoridades governamentais monitoraram de perto o cumprimento das normas e leis vigentes.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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