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20 de novembro de 2025

Ceará: como são Fortim e Canoa Quebrada, no litoral leste – 19/11/2025 – Turismo

Ceará: como são Fortim e Canoa Quebrada, no litoral leste – 19/11/2025 – Turismo

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É difícil chegar em Fortim, na porção leste do litoral do Ceará, e não se surpreender de cara. A avenida principal, que liga a rodovia ao centro, é toda calçada com piso intertravado coloridinho, e o canteiro central é decorado com vasos floridos. Escolas, ginásios esportivos, unidades de saúde e o cemitério parecem bem cuidados. Coisa rara de se ver nos interiores do Brasil.

A 135 km de Fortaleza, Fortim ocupa uma porção de terra entre os rios Piranji e Jaguaribe —este último, importantíssimo para a história e o desenvolvimento por ter abrigado o maior porto da região. Com pouco mais de 17 mil habitantes, é vizinha de Aracati e da sua famosa praia de Canoa Quebrada, mas bem menos movimentada e ocupada.

O porquê disso o turista logo percebe, especialmente ao passear de barco pelo rio Jaguaribe (R$ 450 por 2h): o município é, historicamente, refúgio dos ricaços do estado. Famílias tradicionais, como a controladora da M. Dias Branco, a maior fabricante de massas e biscoitos do Brasil, mantém uma gigantesca mansão na Barra, um dos núcleos da cidade que fica à beira do rio, entre o centro e a praia, no pontal do Maceió.

Para frequentadores como esses, a cidade nunca foi um destino de praia, mas de rio, de interior. Até por isso, a região mais próxima ao mar, o pontal do Maceió, ainda parece uma pequena vila. Isto é, um lugar com apenas algumas ruas, poucas construções e centenas de lotes ainda vazios.

Para quem se hospeda no Pontal, em casas ou nas poucas pousadas, o ponto mais animado para curtir um dia de praia é a barraca Canto Verde. Ela fica em um cantinho da areia, virada para o pôr do sol, onde as pedras submersas dão lugar a um mar mais propício ao banho —mesmo assim, elas ainda estão lá, então cuidado.

Perto dali fica um atrativo natural curioso: o pontal que dá nome à região. É um grande pedregal, não muito alto, que funciona como um mirante com vista para o verde do mar e que também abriga grutas. Esculpidas naturalmente pelo mar, às vezes até formando pequenas banheiras naturais, elas rendem fotos lindas pela manhã, quando a luz é bem melhor.

Entre o pontal e a praia da Barra (essa na foz do Jaguaribe, de água cristalina já meio salobra), ficam alguns empreendimentos mais luxuosos, como num meio-termo entre as mansões à beira-rio e a pequena vila à beira-mar.

Estão lá dois hotéis, uma escola de kitesurfe e alguns condomínios de casas de alto padrão para aluguel. Tudo de frente para o oceano, com faixa de areia que some na maré alta e, justamente por isso, fica deserta (e praticamente exclusiva aos hóspedes dali) em todos os outros momentos.

Independentemente da hospedagem, uma boa pedida é fazer um passeio de buggy (a partir de R$ 280) para reconhecer a região já no primeiro dia. Ele percorre toda a costa da cidade, da foz do rio Jaguaribe, passando pelo farol que é cartão postal do lugar, até a barra do rio Piranji. Neste último ponto, vale ficar um tempinho para apreciar o Sol se pondo lentamente ao som do mar, do vento, e nada mais.

À noite, se ainda houver energia, é recomendável dar uma volta no centrinho da cidade, que concentra supermercados, sorveterias e alguns poucos bares. Mas se a ideia for curtir a noite dançando, o Caval’venture, lá perto da praia, é a principal opção. Durante o dia, o lugar também oferece passeios a cavalo por toda a região (R$ 150 por hora).

Se em algum momento o sossego de Fortim for demais, o agito de Canoa Quebrada está logo ali, do outro lado do rio. De dia, indo de buggy ou 4×4, basta pegar a balsa e já se chega às famosas dunas do lugar. Mas o mais comum, apesar da distância bem maior, é ir pelo asfalto mesmo.

O trajeto, de 32 km, passa pelo centro histórico de Aracati, terra natal do abolicionista Dragão do Mar (o mesmo que dá nome ao famoso centro cultural de Fortaleza) e um dos primeiros povoados do estado. Lá estão algumas igrejas históricas e uma série de sobrados coloridos do final do século 18, decorados com azulejos bastante preservados. Não à toa, em 2001 o conjunto foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan.

Vale tomar um sorvete, uma cerveja ou até almoçar por ali, e também visitar a antiga residência do barão de Aracati, onde hoje funciona o Museu Jaguaribano, gratuito. Ele reconta a história local a partir dos seus ciclos econômicos, entre eles o da charqueada, do algodão e do couro.

Já o ciclo atual, do turismo, é bem mais recente. Começou nos anos 1970, quando os hippies primeiro se fascinaram com Canoa, em uma época que só se chegava ali de barco, cavalo ou 4×4. Não só pelas falésias laranjas que deram fama ao lugar, mas pelo conjunto da paisagem, que mantém sua beleza apesar das modernidades.

A vila de Canoa Quebrada foi construída no alto das falésias, uma formação geológica comum no litoral brasileiro, mas que em Canoa chega a 30 metros —a erosão marítima, inclusive, tem aumentado esse número. A chegada à praia por ali, portanto, é sempre por cima. À medida que o burburinho do comércio vai ficando para trás, a imensidão do mar visto de cima se revela, aumentando a ansiedade pelo mergulho.

A descida por entre as falésias, pisando na areia quente e sob um Sol escaldante, dá um quê de aventura à missão. O verde-turquesa do mar denuncia que a praia está logo ali, mas o contraste com o laranja das falésias por vezes traz a sensação de que se está em outro planeta. “Uma praia em Marte?”, se pensa.

Essa sensação fica ainda mais forte quando, já na areia, o visitante segue em direção à ponta direita da praia. No caminho há muitas barracas badaladas —como a Freedom, uma verdadeira embaixada da cultura reggae—, mas que valem mais a pena à noite. Siga sem medo até a última, a pequena Barraca da Vila, que oferece a mesma conveniência das grandes (sombra, peixe fresco frito e cerveja gelada), mas sem muvuca, com vista livre e acesso fácil aos recifes de Canoa, a grande joia do lugar.

Naquela pontinha da praia, onde já não há ocupação humana, a maré baixa forma grandes piscinas naturais de águas quentinhas, com cerca de meio metro de profundidade. Dali, a paisagem é tão cinematográfica que parece irreal: há o verde das piscinas naturais, a praia de areia branquinha, o laranjão das falésias, a imponência das dunas e, no alto delas, os gigantes geradores eólicos —um toque futurista à paisagem raiz que encantou os hippies.

Não fosse o Sol mais forte a cada minuto, a vontade é de passar o dia inteiro ali. Mas logo a maré enche. É hora de voltar. Portanto, para aproveitar ao máximo, se proteger do calor é imprescindível: garante mais tempo de diversão, e também conforto na volta.

À tarde, a praia se transforma. Enquanto a subida da maré reduz a faixa de areia e o Sol começa a se esconder atrás das falésias, os ventos alísios sopram ainda mais fortes. Ao encontrar as falésias, a força é desviada para cima, sustentando os parapentes que começam a voar sobre a praia.

É lindo de ver, e mais lindo ainda de viver. Pode parecer muito radical, até amedrontador. Mas, no voo (R$ 280 por 15 minutos), a adrenalina é zero, já que a sustentação é constante. “É como dançar uma valsa”, diz o instrutor. Dá até para levar o celular e tirar umas fotos —especialmente no meio da tarde, quando o Sol ainda aquece as cores da paisagem.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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