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20 de novembro de 2025

Brasileiras vão ao Himalaia em 1ª expedição 100% feminina – 20/11/2025 – É Logo Ali

Brasileiras vão ao Himalaia em 1ª expedição 100% feminina – 20/11/2025 – É Logo Ali

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No dia 5 de outubro passado, uma expedição brasileira saiu de Katmandu, capital do Nepal, rumo à região de Anapurna, nos Himalaias. O destino era a montanha Himlung Himal, com 7.126 metros de altitude. E o grande diferencial da expedição era o fato de todos os seus integrantes, das montanhistas até as guias sherpanes, serem mulheres, num desafio organizado pela treinadora especializada em trekking e escalada Vanessa Oliveira, que preparou corpo e espírito indo em maio até o monte Denali, no Alaska, ponto mais alto da America do Norte, com 6.190 metros de altitude.

Desde o início da organização, Vanessa fez questão de assegurar às interessadas que a expedição seria 100% feminina. “Ao todo, no final, éramos 40 mulheres, das quais 30 brasileiras e 10 nepalesas, sendo 3 brasileiras e 5 nepalesas escaladoras”. As demais fizeram apenas o trekking até o acampamento-base do Himlung Himal e de volta a Katmandu —o que, convenhamos, também não é pouca coisa.

A iniciativa gerou todo um agito desde antes mesmo de a expedição deixar Katmandu, onde a absoluta maioria das turmas rumo aos cumes mais altos dos Himalaias é formada por homens, com uma ou outra mulher pingando aqui e acolá. “Foi um movimento tão grande, tão bonito de se ver, que quando a gente passava as pessoas chegavam e nos perguntavam, ah, vocês é que são o grupo só de mulheres, queriam saber de tudo, e isso deixava principalmente as sherpanes, as guias nepalesas, orgulhosas de estarem fazendo o trabalho de guias, que em geral é difícil para elas, sempre os guias homens são priorizados”, conta Vanessa.

“As sherpanis são fortes, são geneticamente adaptadas às altitudes, mas acabam não sendo contratadas em um ambiente 100% masculino, então esta expedição, para elas, era muito importante, uma delas nos contou que estava havia quatro anos sem conseguir ir para a montanha por falta de oportunidade, sempre os guias homens são escolhidos”, diz.

Claro que nem tudo foram (como nunca são) alegrias ao longo dos 30 dias de convivência de um grupo tão heterogêneo, com idades variando entre 21 e 50 e poucos anos (elas detestam contar a idade…). “Mulheres são diferentes, temos muita energia, mas também percebi muita emoção, era uma coisa mais emotiva, em momentos de tensão, de discussão, principalmente na escalada, daí a pouco estávamos chorando, nos abraçando, pedindo desculpas uma à outra”, relata Vanessa. Afinal, no grupo havia quem menstruasse, quem estivesse na menopausa, toda uma festa de hormônios em ebulição. Fora as histórias pessoais que cada uma carregava montanha acima.

“De repente, uma das sherpanes caiu no choro, porque o marido havia morrido escalando o Everest e isso tocou muito o lado emocional de todas nós”, lembra. “Outra contou que havia entrado no Guinness Book of Records por ter sido a primeira pessoa a subir com pai e irmão, mas que só eles arrumavam trabalho, ela nunca era escolhida”.

A escolha nada óbvia da Himlung Himal, segundo Vanessa, se deu porque a intenção era escalar um pico acima dos 7.000 metros, uma coisa gradativa para se pensar depois o que fazer à frente. “É uma montanha muito bonita, não tecnicamente difícil embora muito fria, pegamos 40 graus negativos, houve resgates de pessoas com congelamentos e tem toda uma parte espiritual envolvida, um povo que sorri com os olhos ao longo de toda a trilha”.

De todo o grupo, no final, apenas a consultora de gestão e montanhista experiente Daniela Furusawa acabou chegando ao cume. Vanessa, que subia com ela após as outras desistirem, teve de descer para conferir se uma das que haviam ficado no caminho estava bem, e, subindo pela segunda vez, admitiu que não teria mais condições de ir além dos 7.000. Sem anticlímax, por favor: só quem já precisou desistir de um cume a poucos metros dele para não botar a vida em risco sabe o quanto isso é doloroso, e como exige coragem reconhecer que o limite está ali e pronto.

“Eu sempre falo que o cume não está lá em cima, mas no campo-base, quando a gente retorna, porque a vitória é voltar com vida e com todos os dedos, havia sério risco de congelamento ali”, analisa Vanessa.

E como foi para Daniela chegar ao cume do Himlung Himal? “Eu tinha parado nos 7.000, a Vanessa veio, mas não estava bem, eu tambem tinha parado ali, pensei em voltar, mas o que mais me impulsionou foi ver que para as sherpanis que estavam conosco a subida era muito importante, faltavam só 100 metros, então, quando melhorei da taquicardia que me tinha feito parar, pensei que faltava tão pouco —e, sim, pouco na montanha, muitas vezes pode ser super perigoso— e elas começaram a andar, aquilo significava muito, e chegamos lá”, relata ela.

O Himlung Himal não foi a primeira 7.000 de Daniela, mas para ela teve um sabor inesquecível. “É uma montanha menos escalada, então no trekking até lá você passa por vilarejos que não veem tantos turistas, são regiões remotas de povos mais crus, digamos assim, onde você pode conhecer um pouco mais da cultura menos globalizada dos nepaleses”, explica. Agora, é esperar pela próxima empreitada.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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