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28 de novembro de 2025

Ciência revê riscos dos laticínios integrais – 28/11/2025 – Equilíbrio

Ciência revê riscos dos laticínios integrais – 28/11/2025 – Equilíbrio

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Desde os anos 1980, autoridades de saúde dos Estados Unidos têm incentivado os americanos a optar por produtos lácteos com menor teor de gordura, como leite desnatado e iogurte com gordura reduzida, em vez das versões integrais. Mas Robert F. Kennedy Jr. e outras figuras importantes do movimento MAHA (Make America Healthy Again) sugeriram recentemente que vão “elevar” o leite integral e outros produtos lácteos nas próximas diretrizes governamentais sobre o que comer e beber para uma boa saúde, chamadas Diretrizes Alimentares para Americanos.

Especialistas em saúde há muito recomendam evitar laticínios integrais porque são ricos em gorduras saturadas, que em excesso podem aumentar o colesterol e o risco de doenças cardíacas. Também são mais calóricos que as versões com gordura reduzida, potencialmente aumentando as chances de ganho de peso ou desenvolvimento de obesidade.

Mas essas recomendações foram baseadas em estudos mais antigos que encontraram ligações entre dietas ricas em gorduras saturadas e doenças cardíacas, mas que não investigaram especificamente os efeitos dos laticínios na saúde.

Dizemos aos americanos para priorizar produtos lácteos com baixo teor de gordura “com base em quase nenhuma evidência” que mostre que são melhores para a saúde, diz Dariush Mozaffarian, cardiologista e diretor do Instituto Food Is Medicine da Universidade Tufts.

Quando se analisa o conjunto mais recente de evidências sobre como os laticínios influenciam a saúde, percebe-se que os resultados dos estudos estão “por toda parte”, diz Richard Bruno, professor de nutrição humana da Universidade Estadual de Ohio. “Alguns dizem que não prejudica nem ajuda, outros dizem que pode prejudicar um pouco, e outros dizem que é realmente muito benéfico.”

O que a pesquisa sugere

Vários estudos ao longo das décadas examinaram, com resultados mistos, o que acontece com a saúde das pessoas quando consomem diferentes tipos de produtos lácteos.

Em um estudo de outubro que incluiu cerca de 74.000 adultos na Noruega, por exemplo, os pesquisadores descobriram que aqueles que consumiam mais leite integral tinham 7% mais probabilidade de morrer de doenças cardiovasculares do que aqueles que consumiam menos.

Mas outro estudo de setembro, que acompanhou cerca de 3.100 adultos nos Estados Unidos por 25 anos, concluiu algo diferente. Aqueles que consumiam mais laticínios integrais (incluindo leite integral e queijo) tinham um risco 24% menor de desenvolver um sinal precoce de doença cardíaca (chamado calcificação da artéria coronária) do que aqueles que consumiam menos laticínios integrais.

Um pequeno ensaio clínico randomizado de 2016 encontrou um resultado mais neutro: seguir uma dieta para reduzir a pressão arterial que incorporava laticínios integrais reduziu a pressão arterial tão bem quanto seguir uma versão da dieta usando laticínios com baixo teor de gordura.

Estudos também mostraram que o consumo de laticínios integrais não causa mais ganho de peso do que laticínios com baixo teor de gordura, mesmo sendo mais calóricos. Em uma análise de 2020 de 28 estudos, os pesquisadores descobriram que crianças que consumiam leite integral não tendiam a ganhar mais peso do que aquelas que consumiam leite com baixo teor de gordura. Um estudo mais antigo de 2014 com adultos concluiu o mesmo.

Como na maioria das pesquisas nutricionais, muitos desses estudos foram observacionais —o que significa que podiam identificar associações entre certos padrões alimentares e resultados de saúde, mas não podiam provar causa e efeito. Muitos dos estudos também eram pequenos ou realizados com grupos restritos de pessoas, tornando difícil tirar conclusões definitivas.

No entanto, um grupo de especialistas em nutrição de todo o mundo escreveu no The American Journal of Clinical Nutrition em maio que a maioria das pesquisas recentes sugere que, quando se trata de saúde cardiovascular, laticínios com baixo teor de gordura não parecem ser preferíveis aos laticínios integrais, ou vice-versa.

Por que a gordura do leite pode ser especial

Não sabemos exatamente por que laticínios integrais às vezes estão associados a uma melhor saúde, diz Mozaffarian.

Uma teoria é que a maioria dos produtos lácteos como leite, queijo e iogurte contêm não apenas gorduras saturadas, mas outros tipos de gorduras chamadas lipídios polares, diz Bruno.

Ainda há muito que não sabemos sobre como os lipídios polares influenciam a saúde, mas alguns estudos em animais (principalmente em roedores) sugeriram que eles podem reduzir a inflamação em todo o corpo e diminuir a quantidade de colesterol absorvido no intestino, disse ele.

Outra explicação tem a ver com a estrutura complexa e a interação dos outros componentes dos laticínios (chamada matriz alimentar). O queijo, por exemplo, geralmente é rico em gorduras saturadas, mas também contém bactérias benéficas, proteínas, vitaminas e muitas outras substâncias que podem alterar a forma como o corpo digere a gordura, disse Benoit Lamarche, diretor do Centro de Nutrição, Saúde e Sociedade da Universidade Laval em Quebec. Estes podem ajudar a prevenir, ou pelo menos mitigar, os danos da gordura saturada, disse ele.

A manteiga é um tipo de produto lácteo que não parece oferecer esses benefícios à saúde. É composta principalmente de gorduras saturadas e poucos outros nutrientes benéficos, então, quando consumida em excesso, pode aumentar o colesterol ruim, aumentando o risco de doenças cardiovasculares.

Para explicar por que os laticínios integrais não causariam ganho de peso, os especialistas apontam para seu efeito de saciedade. Uma xícara de leite integral contém quase o dobro de calorias de uma xícara de leite desnatado, mas como faz um trabalho melhor de saciar, você pode consumir menos calorias de outros alimentos, disse David Jacobs, pesquisador de epidemiologia nutricional da Universidade de Minnesota.

Conclusão

Os especialistas com quem conversamos concordaram que não há evidências suficientes para recomendar um tipo de gordura láctea em detrimento de outra. Bruno diz que, em vez disso, as pessoas devem comer o tipo que preferirem —desde que se encaixe em sua dieta.

E há boas razões para consumi-los. A maioria dos produtos lácteos contém proteínas, vitamina D, cálcio e —no caso de produtos lácteos fermentados como iogurte, kefir e alguns queijos— bactérias benéficas para o intestino. Consumir esses nutrientes através de laticínios, especialmente se você não os obtém do resto da sua dieta, é “uma grande vitória”, diz Bruno.

Apenas tenha em mente que nem todos os produtos lácteos são saudáveis. A manteiga é extremamente rica em gorduras saturadas e pode colocar seu coração em risco, e produtos lácteos processados como leites achocolatados e sorvetes podem estar carregados de açúcares adicionados, que em excesso podem levar a vários problemas de saúde, como obesidade e diabetes tipo 2.

Se as próximas diretrizes dietéticas acabarem elevando os laticínios integrais, não interprete isso como se todos os alimentos que contêm gorduras saturadas fossem inofensivos, diz Jacobs. Carnes processadas e muitos produtos de panificação e alimentos fritos, que são ricos em gorduras, podem ser prejudiciais à saúde.

Este texto foi publicado originalmente aqui.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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