10:08 AM
3 de dezembro de 2025

Dá tempo de emagrecer 10 quilos até o fim do ano? Veja o que dizem nutricionistas

Dá tempo de emagrecer 10 quilos até o fim do ano? Veja o que dizem nutricionistas

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À medida que o ano se aproxima do fim, surge na internet uma enxurrada de dietas e dicas que prometem mudar o corpo aos “45 do segundo tempo”. Dezembro chegou e, com ele, a clássica corrida para entrar em padrões difundidos na mídia: caber em um jeans menor, parecer mais com aquela influenciadora de biquíni e por aí vai.

Este ano, em grupos, vídeos e hashtags, a “trend” são as estratégias que prometem a eliminação de até 10 quilos antes do Natal. E comunidades inteiras são criadas em torno desse objetivo. Fazendo as contas, isso significaria uma mudança drástica de Índice da Massa Muscular (IMC) em menos de um mês.

As juras surgem na esteira do culto crescente à magreza e com elas, a busca por espaços dedicados ao emagrecimento também dispara. No site “Grupos WhatsApp” – que reúne links para comunidades na plataforma da Meta – é possível encontrar quase 40 grupos com a palavra-chave “emagrecer”. Entre eles, aparecem canais com títulos como “Operação Verão”, “Clube Magras e Felizes” e “Emagreça em 30 dias”.

Mas será que esse tipo de promessa de perda de peso rápida se sustenta? E, sobretudo: é seguro tentar?

Para responder a essas perguntas, VEJA SAÚDE conversou com as nutricionistas Daniela Cierro, consultora técnica da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran) e Beatriz Tanuta, docente do curso de Nutrição da Universidade São Camilo.

É possível perder até 10 quilos (de propósito) em um mês?

Do ponto de vista biológico, há quem consiga. Mas isso não quer dizer que seja indicado. “Tecnicamente sim, mas não é recomendado, seguro ou sustentável na maioria dos casos, exceto em circunstâncias muito específicas e sob supervisão médica e equipe multidisciplinar rigorosa”, afirma Cierro.

Perder tanto peso em tão pouco tempo costuma estar associado a algum quadro clínico. Por isso, alcançar essa marca de propósito, na prática, exigiria um esforço digno da vida em mosteiros. “Seria preciso cortar muito a ingestão calórica. Seria como entrar em um estado parecido com o dos monges e ficar quase sem energia para se manter“, observa a professora Beatriz.

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Cierro reforça que resultados tão acelerados dependem de um déficit energético muito elevado, associado a atividade física intensa e outras intervenções bastante individualizadas. Isso pode trazer uma série de prejuízos para o corpo.

Embora os resultados mudem muito de pessoa para pessoa, geralmente, um emagrecimento saudável é bem mais modesto. “Diversas instituições internacionais recomendam uma redução de 0,5 a 1 kg por semana (2 a 4 kg por mês) como seguro e sustentável”, afirma Cierro.

O que especialistas dizem sobre dietas muito restritivas

“Em primeiro lugar, do ponto de vista da ciência da nutrição, dietas severas simplesmente não funcionam“, assegura Beatriz.

Segundo a nutricionista, elas até podem gerar alguma perda de peso em um primeiro momento, mas isso se sustenta. Primeiro porque o fim da dieta é inevitável, já que é impossível manter padrões alimentares radicais por muito tempo. Segundo porque, após isso, o adepto ao regime tende a retornar aos hábitos anteriores e, com eles, volta o peso perdido.

Ainda, um estudo recente, feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) mostra que fazer jejum intermitente, um exemplo de dieta recomendada para emagrecer rápido, pode acabar acentuando comportamentos opostos ao que promete, levando a episódios de compulsão alimentar ou desejo intenso por comida.

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Beatriz alerta para outros prejuízos à saúde. A nutricionista lembra que, quando falamos de calorias, falamos de carboidratos, proteínas e gorduras. E cada um desses nutrientes tem funções específicas no corpo, bem como deve estar presente no organismo dentro de proporções determinadas.

“Por exemplo, de forma geral, para a população, recomenda-se que 50% a 60% das calorias venham dos carboidratos”, explica. Por sua vez, dietas que os vilanizam, como as low carb extremas, podem provocar desequilíbrios.

O mesmo vale para todos os alimentos interessantes para o nosso corpo. “Qualquer alteração importante na ingestão de um nutriente já pode causar efeitos no organismo, porque sai da distribuição calórica considerada adequada para a manutenção da saúde”, ressalta a docente.

A exclusão radical de grupos alimentares costuma reduzir também o consumo de vitaminas, minerais, fibras e até água, elementos essenciais para o funcionamento adequado da nossa máquina corporal interna.

+Leia também: A dura verdade sobre a dieta carnívora

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O que pode acontecer?

Cierro destaca que essas dietas, além de ineficazes a longo prazo, podem desencadear uma série de efeitos colaterais importantes, que vão muito além da frustração ao subir na balança. São exemplos:

  • Perda de massa muscular: Dietas muito restritivas levam a perda significativa de massa magra (até 30% do peso perdido pode ser músculo. Isso impacta disposição, sono, humor e pode abrir portas para diferentes doenças.
  • Efeitos metabólicos: queda da taxa metabólica basal e maior propensão ao famoso efeito sanfona.
  • Deficiências nutricionais: risco alto de falta de vitaminas, minerais e eletrólitos.
  • Problemas hepáticos e biliares: maior chance de esteatose hepática e cálculos biliares.
  • Comprometimento cardiovascular: flutuações rápidas de peso podem alterar o equilíbrio eletrolítico e favorecer arritmias.

E como emagrecer de forma saudável?

Segundo Beatriz, o segredo para perder peso está na reeducação alimentar. Assim sendo, para algo duradouro, é preciso construir um novo estilo de vida; algo que não termina junto ao prazo estimado para uma dieta.

Cierro concorda. “Emagrecimento é um processo multifatorial que requer consistência, não intensidade temporária“, diz a consultora da Asbran. Ou seja, uma corrida contra o calendário anual pode ter mais prejuízos do que ganhos reais.

Para perder quilos com saúde, as especialistas recomendam reduzir, sim, a ingestão de calorias, mas de forma equilibrada, combinando com uma alimentação saudável, diversa em nutrientes, e que evita o consumo de alimentos processados e ultraprocessados.

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Também entram nessa lista o consumo adequado de proteínas, a hidratação com, em média, 35 ml de água por quilo de peso diariamente, o sono de qualidade e cuidados com a saúde mental.

+Leia também: Quanto de proteína você deve consumir por dia? 

Além disso, uma dieta deve ser pensada de forma individual, considerando as particularidades de cada um. Isso envolve, inclusive, o seu comportamento e formas de lidar com emoções  – um conceito chamado nutrição comportamental.

“Isso só pode ser feito por nutricionistas, que vão fazer toda uma análise de qual é a situação daquela pessoa e fazer, então, uma dieta que seja adequada para ela”, destaca Beatriz.

+Leia também: Nutrição comportamental: fazer dieta é coisa do passado

Em um cenário dominado por trends que vendem resultados rápidos e transformações em 30 dias, as especialistas lembram que saúde não acompanha o ritmo acelerado da internet. Emagrecer com segurança é um processo gradual, individual e sustentado por hábitos consistentes.

Por isso, antes de seguir qualquer método viral, a recomendação é sempre buscar orientação profissional e construir um caminho que faça sentido para o seu corpo, para a sua rotina e para o longo prazo, longe das armadilhas e ideais impossíveis propagados online.

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Fonte.:Saúde Abril

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