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- Author, Michelle Roberts
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Pesquisadores usaram um ultrassom para estudar 100 casos de preenchimento que deram errado.
Clínicas estão sendo aconselhadas a fazer uma ultrassonografia antes de iniciar o procedimento no rosto, para evitar dandos a artérias próximas.
A pesquisadora principal do estudo, Rosa Sigrist, diz que, apesar de incomum, esses eventos de “oclusão vascular” — em que o preenchimento é injetado dentro ou muito próximo de vasos sanguíneos — podem ser devastadores porque eles podem causar a morte de tecidos e deformidades faciais quando não tratados.
Os preenchimentos ou harmonizações faciais injetam substâncias geralmente usadas para tratar rugas e suavizar ou “rejuvenescer” a pele.
Às vezes elas são usadas para dar contorno ou modelar o nariz e os lábios
As áreas ao redor do nariz são particularmente arriscadas para esse tipo de procedimento, afirma Sigrist, porque os vasos sanguíneos nasais se comunicam com partes muito importantes da cabeça.
Danos a esses vasos podem causar complicações sérias, incluindo problemas de pele, cegueira e até mesmo AVC.
A equipe de Sigrist, da Universidade de São Paulo (USP), estudou complicações vasculares relacionadas a preenchimentos em 100 pacientes em quatro centros de radiologia (dois no Brasil, um na Colômbia e um no Chile), um centro de dermatologia na Holanda e um centro de cirurgia plástica nos Estados Unidos entre maio de 2022 e abril de 2025.
O trabalho vai ser apresentado esta semana no encontro anual da Sociedade Radiológica da América do Norte.
Em quase metade dos casos avaliados, ultrassonografias mostraram ausência de fluxo sanguíneo em vasos pequenos que conectam artérias superficiais àquelas mais profundas do rosto.
E em um terço dos pacientes, fluxo sanguíneo estava ausente nos principais vasos sanguíneos.

Crédito, Rosa Sigrist e RSNA
Para evitar complicações, ela aconselha que as clínicas realizem ultrassonografias para planejar onde o produto vai ser injetado.
Se complicações aparecerem, a ultrassonografia pode guiar o tratamento.
“Se os preenchimentos não forem guiados por ultrassonografias, o tratamento é feito apenas com base nos sinais clínicos e o produto é injetado às cegas”, afirma Sigrist.
“Mas se nós temos o ultrassom, podemos tratar o local exato onde as obstruções ocorrem.”
Assim, em vez de inundar a área com um medicamento chamado hialuronidase para dissolver o preenchimento, os médicos podem realizar injeções guiadas que utilizam menos hialuronidase e proporcionam melhores resultados de tratamento, afirma.
A Associação Britânica de Cirurgiões Plásticos Estéticos diz que o uso de ultrassons está aumentando, mas ainda não faz parte da rotina ou é um padrão nos cuidados médicos.
Os ultrassons são métodos não invasivos, não usam radiação inonizante e não apresentam efeitos nocivos conhecidos.
Nora Nugent, presidente do BAAPS, disse que o ultrassom está se mostrando muito útil em muitas áreas de cirurgias e procedimentos médicos estéticos.
“Mapear a localização dos vasos sanguíneos, sem dúvida, fornece informações valiosas antes do tratamento. Riscos como esses, decorrentes de preenchimentos, são um dos muitos motivos pelos quais temos feito campanha há muito tempo por maior regulamentação dos procedimentos estéticos e pela restrição da aplicação desses tratamentos injetáveis àqueles que possuem formação médica.”
O governo do Reino Unido, por exemplo, planeja introduzir restrições para procedimentos.
De acordo com as propostas já apresentadas, apenas profissionais de saúde “devidamente qualificados” poderão realizar procedimentos de alto risco, como o lifting de bumbum.
Clínicas que aplicam preenchimentos e botox precisarão atender a padrões rigorosos para obter uma licença.
Uma consulta pública será feita no início de 2026, com opiniões sobre a diversidade de procedimentos que devem ser abrangidos pelas novas restrições. O Parlamento decidirá então o que será introduzido.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL


