CRÍTICA | RJ
Bar Lagoa
Av. Epitácio Pessoa, 1.674, Lagoa. @barlagoa
Duas estrelas (regular)
Uma reputação não é construída de um dia para o outro e em seus 91 anos de funcionamento o Bar Lagoa carrega consigo a fama, quase folclórica, de ter garçons pouco simpáticos. É também conhecido pela varanda agradável, pelo lindo ambiente art déco e pelos pratos fartos. Tudo verdade.

O tornedor à Lagoa -filé-mignon com bacon, palmito, aspargos e batatas prussianas, do Bar Lagoa
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Cleo Guimarães/Folhapress
Sobre os garçons, não que sejam grosseiros. Eles parecem se esforçar para acabar de vez com o estigma —e quase chegam lá. São solícitos, eficientes, mas vá se atrever a perguntar um detalhe do prato (“o palmito é em conserva?”, foi o que eu quis saber) para que um dos experientes profissionais respondesse monossilabicamente e fechasse a cara. Vrau!
Se coubesse um meme para o momento, seria o bom e velho “sem tempo, irmão”. Eles não têm muita paciência mesmo. “De novo?” outro fez questão de comentar, bem alto, ao me ver filmando (sim, de novo) o belíssimo balcão em mármore de Carrara. O balcão é um dos muitos elementos da decoração genuinamente retrô que dão todo o charme ao Bar Lagoa.
E os pratos? Bem, eles seguem o receituário clássico da gastronomia germânica e brasileira, com opções como o filé à milanesa com salada de batata (R$ 170), um dos clássicos da casa há décadas, assim como o joelho de porco com chucrute (R$ 155) e o kassler (carne de porco defumada) com chucrute ou salada de batata (R$ 155). Fui na milanesa.
A salada de batata com maionese leva a quantidade certa de cebola, bem fina, e é servida num prato de sobremesa. A primeira impressão é a de que será pouca salada para tanta carne, o que não acontece. Acabou sendo suficiente para o bife, enorme, que quase não cabia na travessa. Ele é saboroso, reconfortante, mas não vai ser o melhor da sua vida.
O almoço tinha se iniciado com uma porção de croquetes de carne (R$ 80, seis unidades). Visualmente não são atraentes, mas o fato de serem carnudos (e não cremosos) por dentro contou pontos a favor. Bons croquetes —mas também não serão os melhores que você já experimentou.
Assim como a outra opção de principal não deixa marcas na memória. Os acompanhamentos do tournedor à Lagoa (filé-mignon com bacon, palmito, aspargos e batatas prussianas, R$ 185) estavam bem melhores que a carne em si: ela estava sem sal, sem sabor.
O destaque vai para as batatas e o bacon, sequinhos e crocantes. Os aspargos eram também em conserva, isso era nítido —e eu não teria a audácia de fazer mais essa pergunta ao garçom.
As sobremesas incluem alternativas como apfelstrudel (R$ 40), morangos com chantili (R$ 40), tiramisù (R$ 41) e goiabada com queijo (R$ 35).
Escolhi os morangos por motivos de boas lembranças do chantili cremosinho feito em casa, na minha infância, numa batedeira vermelha. O do Lagoa me levou de volta a esse tempo, apesar de eu achar que um pouquinho mais de açúcar no creme pudesse ter feito mais frente à acidez do morango.
Com muitas mesas ocupadas por famílias ou grupos de amigos que dividem dois ou três pratos, o bar é um tradicional point de chope pós-praia do Rio. Só não espere pratos espetaculares.
Talvez a melhor definição do estabelecimento eu tenha ouvido há alguns anos, naquelas mesas, dita por um experiente restaurateur carioca: “No Bar Lagoa é servida a melhor comida mais ou menos da cidade”. É por aí.
Fonte.:Folha de São Paulo


