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10 de dezembro de 2025

John Deere: tarifas de Trump pressionam agricultores – 10/12/2025 – Mercado

John Deere: tarifas de Trump pressionam agricultores – 10/12/2025 – Mercado

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A John Deere, maior fabricante de equipamentos agrícolas do mundo, alertou que as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estão tendo efeito reverso sobre os agricultores americanos, levando produtores com dificuldades de caixa a adiar a substituição de máquinas velhas.

Cory Reed, presidente da divisão de agricultura e gramados da companhia, disse ao Financial Times que a demanda por equipamentos agrícolas caros nos EUA está enfraquecendo conforme produtores enfrentam preços baixos de grãos, custos mais altos de insumos e incertezas comerciais persistentes.

“A área de agricultura de grande escala tem sido a mais pressionada, e isso ocorre principalmente no mercado americano”, afirmou, referindo-se à unidade que vende tratores de alta potência, colheitadeiras e pulverizadores, além de tecnologia de agricultura de precisão.

“A maior parte dessa queda foi no nosso mercado doméstico, aqui nos EUA. Não foi no mercado europeu e não foi no mercado sul-americano.”

A situação levou a empresa a cortar a produção em sua fábrica principal de tratores em Waterloo, Iowa, com o grupo “produzindo metade dos tratores deste ano em relação a dois anos atrás”, disse Reed.

Ele acrescentou que a John Deere prevê novos cortes de empregos em 2026 após várias rodadas de demissões nos últimos anos.

A pressão decorre da interrupção do comércio agrícola. A China, tradicionalmente a maior compradora de soja americana, só retomou as compras no mês passado, após uma série de retaliações contra as medidas tarifárias dos EUA.

A pausa gerou um excesso de oferta que afetou o sentimento no campo e derrubou os preços: a soja nos EUA caiu cerca de 40% em relação ao pico de meados de 2022, e o milho quase 50%.

O governo Trump anunciou na segunda-feira (8) um pacote de ajuda de US$ 12 bilhões para agricultores, incluindo US$ 11 bilhões em pagamentos únicos a produtores de grãos, após sojicultores relatarem grandes perdas e falências de fazendas terem subido quase 50% nos primeiros nove meses de 2025.

Embora a Casa Branca tenha dito que o auxílio forneceria uma “certeza tão necessária”, agricultores afirmaram que ela não compensará totalmente meses de preços deprimidos e comércio interrompido.

Reed reiterou que as vendas da divisão de máquinas agrícolas de grande porte da John Deere devem cair entre 15% e 20% no ano fiscal de 2026.

O lucro líquido total da companhia caiu 29%, para US$ 5 bilhões no período até 2 de novembro, e a empresa espera que os ganhos enfraqueçam ainda mais, para entre US$ 4 bilhões e US$ 4,75 bilhões em 2026.

Enquanto isso, o estresse no cinturão agrícola está se aprofundando. O Federal Reserve de Chicago afirmou que as taxas de pagamento de empréstimos no Centro-Oeste caíram pelo oitavo trimestre consecutivo nos três meses até setembro, enquanto quase metade dos credores agrícolas consultados espera mais vendas forçadas ou liquidação de ativos rurais nos próximos meses.

Com os preços das commodities agrícolas em baixa, muitos produtores não estão dispostos a assumir compras de máquinas de seis dígitos, preferindo estender a vida útil dos equipamentos existentes. Reed disse que os estoques de usados, que haviam aumentado nos últimos dois anos, só recentemente começaram a ser escoados.

As tarifas também elevaram os custos de manufatura. Os tributos sobre aço e alumínio aumentaram os preços do aço nos EUA, mesmo para fabricantes que compram materiais domesticamente. A John Deere espera que as tarifas gerem um impacto pré-impostos de US$ 1,2 bilhão em 2026 —o dobro dos US$ 600 milhões absorvidos este ano— pesando cerca de US$ 300 milhões por trimestre.

Trump destacou o negócio da empresa no México durante a campanha presidencial, ameaçando aplicar tarifa de 200% sobre equipamentos trazidos para os EUA caso a produção fosse transferida do território americano.

Reed disse que o episódio evidenciou o quão integradas eram as operações nos EUA e no México, forçando uma revisão do posicionamento industrial. A empresa continua investindo dos dois lados da fronteira, incluindo mais de US$ 20 bilhões nos EUA.

As tarifas também prejudicaram a competitividade de equipamentos fabricados nos EUA no exterior. “Um em cada quatro dos nossos tratores de grande porte produzidos nos EUA é exportado para lugares como Europa ou Canadá”, afirmou Reed. “Isso tem pressionado a competitividade da nossa estrutura de custos ao chegar a essas regiões. Então tivemos de cortar custos de forma agressiva.”

Reed disse esperar que a queda atinja o fundo do poço no início de 2026.

O pacote de resgate de Trump, juros mais baixos, uma nova política de bioetanol e sinais de melhora no fluxo de comércio agrícola, incluindo mais exportações de grãos e maior consumo doméstico, são “indicadores positivos”, acrescentou.

Mas restaurar o acesso previsível a mercados por meio de acordos comerciais será decisivo para “retomar o livre fluxo de commodities dos EUA para o mercado global.”



Fonte.:Folha de S.Paulo

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