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20 de dezembro de 2025

Mais uma frustração com o acordo Mercosul-UE – 19/12/2025 – Opinião

Mais uma frustração com o acordo Mercosul-UE – 19/12/2025 – Opinião

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Após 26 anos de tratativas, a assinatura do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia esperada neste sábado (20), durante a cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu (PR), foi adiada diante da resistência de quatro países politicamente suscetíveis a pressões domésticas de setores agrícolas.

A adesão da Itália ao grupo de oposição —formado por Hungria e Polônia com liderança da França de Emmanuel Macron— fez desandar sua efetivação.

Mesmo depois de o Parlamento Europeu ter reforçado as salvaguardas contra potenciais danos a segmentos agrícolas na terça (16), a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, outrora favorável ao acordo, não o aceitou.

O aval da maioria dos eurodeputados à extensão dessas garantias, a rigor, já desequilibra o pacto e distancia sua assinatura. A posição de Roma, por sua vez, deu à ala resistente força suficiente para vetá-lo no Conselho Europeu, o fórum decisivo dos líderes das 27 nações do bloco.

O órgão apreciaria o tema na quinta (18) em Bruxelas, mas o centro da cidade foi congestionado por mais de 150 tratores e confrontos entre policiais e agricultores que protestavam contra o acordo. Sem alternativas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, preferiu não apresentá-lo ao plenário.

Um dia antes, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia ameaçado engavetar o entendimento, se ele não fosse assinado na cúpula do Mercosul. Depois de ouvir de Meloni a promessa de aval “em breve”, aceitou uma pouco crível efetivação em janeiro —mesmo prazo dado por Von der Leyen.

Coube ao ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, assinalar que as salvaguardas adicionais da UE levarão o bloco sul-americano a expandir proteções a seus setores sensíveis na concorrência com os europeus —os industriais. O resultado será mais travas potenciais ao livre comércio.

A almejada abertura de economias que, juntas, produzem cerca de US$ 22 trilhões ao ano não chega a ser completa, conforme as regras atuais. A regulação das importações agropecuárias pelos europeus e as restrições do Mercosul ao acesso a suas compras governamentais já limitam bastante o escopo das trocas.

Mesmo assim, o acordo tende a dinamizar as atividades dos dois blocos, induzir investimentos e criar alternativas num comércio internacional desorganizado pelo tarifaço dos Estados Unidos de Donald Trump. Se a casta agrícola europeia, altamente subsidiada, virá a vergar-se em janeiro é uma incógnita. O que já há é muito tempo e ganhos perdidos.

editoriais@grupofolha.com.br



Fonte.:Folha de S.Paulo

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