
Se você ou alguém da sua família convive com diabetes, é provável que a metformina faça parte da rotina. Talvez, até, você não a reconheça por esse nome científico, mas por marcas bastante conhecidas, como Glifage, Dimefor e Glucoformin. Trata-se de um antidiabético oral clássico, prescrito há décadas.
E a sua popularidade não é para menos: ela é segura, acessível e cumpre bem o papel de reduzir a glicose. No entanto, um novo documento, o Standards of Care in Diabetes—2026, publicado pela American Diabetes Association (ADA) nesta semana, oficializou uma tendência que vinha ganhando força: a metformina perdeu seu protagonismo exclusivo.
A pergunta que fica é: isso significa o fim da metformina? A resposta curta é não. Mas a resposta longa revela uma revolução fascinante na forma como encaramos a saúde metabólica.
A mudança mais radical na nova diretriz é o reconhecimento de que baixar a glicose (a famosa hemoglobina glicada) não é suficiente se o paciente morrer de infarto ou sofrer falência renal. O diabetes tipo 2 é uma doença que castiga severamente o sistema cardiovascular e os rins.
Por isso, as novas regras criaram uma “via expressa” para medicamentos modernos. Se o paciente tem doença cardiovascular estabelecida, insuficiência cardíaca ou doença renal crônica, o médico deve prescrever medicamentos específicos de novas classes (chamados inibidores de SGLT2 como dapagliflozina ou agonistas de GLP-1 como semaglutida) independentemente de o paciente usar metformina ou não, e até mesmo independentemente de como está o nível de açúcar no sangue.
Isso é uma quebra de paradigma. Antigamente, adicionava-se um segundo remédio apenas se a metformina falhasse em controlar a glicose. Agora, esses novos medicamentos podem entrar em cena pensando em proteção do coração e dos rins, uma função que a metformina, apesar de suas qualidades, não desempenha com a mesma potência.
+Leia também: Novos remédios para diabetes e obesidade miram outras doenças
O segundo golpe no domínio absoluto da metformina vem da nova abordagem sobre o peso. A diretriz de 2026 é taxativa: para a maioria dos pacientes com diabetes tipo 2 que têm sobrepeso ou obesidade, a perda de peso não é apenas um “bônus”, é uma meta primária de tratamento, tão importante quanto controlar a glicose.
A metformina é considerada um medicamento “neutro” para o peso — ela pode ajudar a perder alguns quilos, mas o efeito é modesto. Em contrapartida, as novas gerações de medicamentos, como a tirzepatida (um agonista duplo dos hormônios intestinais GLP-1 + GIP) e a semaglutida, demonstraram uma capacidade sem precedentes de promover perda de peso significativa.
Quando o objetivo do tratamento inclui o gerenciamento de peso — o que se aplica à vasta maioria dos pacientes com diabetes tipo 2 —, a diretriz agora recomenda preferencialmente esses agentes de alta eficácia em vez da metformina isolada. A lógica é simples: tratar a obesidade ataca a raiz do diabetes, podendo até colocar a doença em remissão, algo que a metformina sozinha raramente consegue fazer.
Então, a Metformina morreu? Longe disso. A metformina não foi “cancelada”, ela foi reposicionada. Ela continua sendo uma ferramenta valiosa no arsenal médico, mas agora divide o palco.
Ela permanece como uma opção excelente e eficaz para pacientes que não têm problemas cardíacos ou renais graves e cujo foco principal é o controle glicêmico básico. Além disso, a metformina mantém sua relevância em um cenário crucial: o custo.
Enquanto as novas terapias podem custar milhares de reais por mês, a metformina é extremamente barata e amplamente disponível. Em situações onde o custo é uma barreira para o tratamento, ela continua sendo uma campeã indiscutível.
Curiosamente, a diretriz até encontrou novos nichos específicos para ela. Por exemplo, a metformina é recomendada como primeira linha para tratar o aumento de glicose causado por certos tipos de medicamentos contra o câncer ou uso prolongado de corticoides.
O que as diretrizes de 2026 nos dizem, no fundo, é que acabou a era da “receita de bolo” para o diabetes. O tratamento agora é centrado na pessoa, não apenas na doença.
O algoritmo de tratamento agora se divide. O médico deve se perguntar: “Este paciente tem risco cardíaco ou renal?” Se sim, o caminho é um. “A prioridade é perder peso?” O caminho é outro. “O custo é o fator limitante?” Voltamos aos clássicos.
Portanto, se você usa metformina, não entre em pânico e não pare sua medicação. Ela continua sendo um remédio seguro e eficaz. No entanto, esta nova diretriz é um convite para uma conversa franca com seu médico.
Pergunte se o seu tratamento atual está apenas controlando seu açúcar ou se está também protegendo ativamente seu coração e seus rins. A medicina evoluiu, e o objetivo agora não é apenas viver com diabetes, mas viver mais e melhor, com ou sem metformina no comando.
Compartilhe essa matéria via:
Newsletter
Receba, toda semana, as reportagens de Veja Saúde que mais deram o que falar.
Inscreva-se aqui
para receber a nossa newsletter
Cadastro efetuado com sucesso!
Você receberá nossas newsletters em breve.
Fonte.:Saúde Abril


