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23 de dezembro de 2025

Livro lido pelo BTS dá lições de vida e dicas para se amar – 23/12/2025 – K-cultura

Livro lido pelo BTS dá lições de vida e dicas para se amar – 23/12/2025 – K-cultura

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Aos 20 e poucos anos, Kim Suhyun deu um basta. Ela estava cansada de tentar agradar a todo mundo e da pressão para conquistar a carreira e aparência perfeitas, então decidiu parar de se importar com a opinião dos outros e viver mais como ela gostaria.

“Comecei a me questionar sobre quem eu era e como deveria viver”, diz a escritora e designer sul-coreana. “Em vez de seguir o caminho da maioria ou valores hegemônicos, escolhi viver uma vida que fosse genuinamente minha.”

Kim transformou essa experiência num livro, que funciona como um guia ilustrado com lições de vida e dicas para aprender a se amar. “Decidi Viver Como Eu Mesma” chega ao Brasil pela Fontanar, selo de bem-estar da Companhia das Letras, nove anos após vender mais de 1 milhão de exemplares na Coreia do Sul.

O livro é dividido em mini capítulos que trazem passo-a-passos, listas, ilustrações fofas e frases de efeito. Combinando sua vivência a dados de pesquisas, a autora oferece uma perspectiva honesta da sociedade sul-coreana –muito do material conversa apenas com a realidade do país asiático, mas algumas questões discutidas são universais.

Sociedade essa com “vidas regadas a cálculos” –quanto ganha, quanto pesa–, que valoriza bens, incentiva a competição e na qual “ser bom nunca é o suficiente”, segundo trechos. O sucesso da obra ajuda a entender como tantas pessoas se sentem sobrecarregadas.

“Todo indivíduo é influenciado pela sociedade, pela cultura e pelas relações ao seu redor. Por isso, é possível que aquilo que achamos ser ‘nós mesmos’ seja apenas uma ilusão”, reflete a escritora.

“Muitas vezes, enganamos a nós mesmos sem nem perceber. Encarar-se de verdade e aceitar quem se é parece simples, mas é uma jornada longa e difícil”, completa. “E para que trilhar uma jornada que sabemos que será exaustiva, não é mesmo?”

No meio disso, diz, se importar com a opinião alheia vira um hábito mental, e é preciso saber frear esses pensamentos. “Nos preocupamos com o que os outros vão pensar, mas a verdade é que eles estão muito ocupados com as próprias vidas. A maioria nem se importa tanto assim com a gente. E, se alguém cuida demais da vida alheia, provavelmente é porque é uma pessoa infeliz que não tem o que fazer.”

Nessa linha, Kim dedica um capítulo ao papel das redes sociais em amplificar essas comparações. A imagem pessoal é muito valorizada na Coreia do Sul, o que alimenta a cobrança.

“Ser sensível ao olhar e ao julgamento dos outros é um hábito antigo das culturas coletivistas do Leste Asiático, mas parece que a pressão estética tem aumentado com o avanço dos meios de comunicação e procedimentos estéticos”, afirma a autora.

Isso não é exclusivo da sociedade coreana, pondera. “No Ocidente, que valoriza a autonomia individual, as pressões estética e social também se intensificaram, especialmente em relação às mulheres, que acabam sofrendo ao tentar se encaixar em padrões de beleza idealizados.”

“A Coreia do Sul é uma sociedade coletivista, mas não acho que seja um lugar controlado ou engessado”, afirma Kim. “Os coreanos são apaixonados e dinâmicos. A diferença é que, aqui, os padrões sociais estão tão internalizados que, mesmo sem críticas externas, as pessoas tendem a se ajustar a eles por conta própria. O mais difícil é a ansiedade que isso gera.”

Essa auto-cobrança surge quando ainda se é criança, influenciada pela família e escola. “Até comentários feitos sem pensar vão se acumulando e acabam moldando a visão de mundo delas. Quando isso se consolida, as crenças coletivistas passam a parecer verdades absolutas.”

A autora apresenta um panorama de sua terra natal que escapa ao público internacional dos k-dramas e do k-pop, que chegam aqui com um conteúdo curado. Kim diz que, no entanto, não se trata de uma “Coreia falsa”. “Eles representam outra faceta, a essência da força criativa do povo coreano.”

A história do país é marcada por tragédias ainda recentes, como a colonização pelo Japão, a Guerra da Coreia e a ditadura militar. “Mesmo sem perceber, as marcas dessas feridas foram transmitidas de geração em geração, causando até hoje ansiedade e conflitos”, diz ela.

Seu livro ganhou mais repercussão quando foi lido por Jungkook, caçula do BTS. A procura dos fãs impactou as vendas. O grupo prega a mensagem de amar a si mesmo, vindos de uma indústria que exige a perfeição dos artistas. Para Kim, a globalização do k-pop ajudou a tornar essa pressão um pouco mais flexível. “Ainda assim, receber tanta atenção desde muito jovem deve ser um peso enorme.”

“Sempre que vejo artistas como BTS ou Blackpink, tenho a impressão de que eles lidam com tudo isso com uma maturidade impressionante”, diz. “Entendo que ser idol é uma profissão. E, quando alguém passa a se confundir com o trabalho, pode ser perigoso. A nossa existência precisa ser maior do que a nossa profissão.”

O guia de Kim já foi traduzido para uma dúzia de línguas. Em 2023, a Companhia das Letras adquiriu os direitos pela editora americana que comprou os direitos mundiais. “É um livro com apelo perene e um tema que só ganha força: vemos a ansiedade e efeitos nocivos da comparação constante aumentar por causa da presença crescente das redes sociais”, afirma Quezia Cleto, editora-executiva da Fontanar.

De lá para cá, a escritora estudou filosofia e espiritualidade. Ela deixa uma última mensagem, que não está nas páginas: “Há mais em nós do que imaginamos. Espero que um dia descubra isso por si mesmo”.

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Fonte.:Folha de S.Paulo

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