Em 2025, depois de mais de uma década, voltei a participar de uma confraternização de fim de ano. Uma, não: duas confraternizações.
A primeira foi com o pessoal aqui da Folha. Festinha da firma absolutamente normal, no boteco, com colegas de trabalho movidos a álcool e falando de trabalho.
A outra foi um churrasco. Um churrasco nada normal.
Os comerciantes da rua de baixo resolveram assar umas carnes na calçada, em uma churrasqueira portátil. Até aí, coisa que qualquer oficina mecânica faz no fim do expediente.
Insólito foi o motivo da “confra”. Não era só o fim do ano que estava a se celebrar.
Foi um rito de despedida de muitas coisas: o fim de uma comunidade que se formou ao redor daqueles estabelecimentos, o fim da rua como nós a conhecemos, o fim de uma era para o meu bairro e, de certa forma, para a minha vida.
A chegada do metrô e as mudanças na lei de zoneamento trouxeram mudanças drásticas para muitas regiões de São Paulo —incluindo a área em que eu moro, Perdizes. A voracidade das incorporadoras tem posto abaixo quadras inteiras para erguer torres residenciais. O comércio e os serviços tradicionais do bairro estão indo pras cucuias.
Na quadra em questão, falamos de um ecossistema que abarcava uma loja de ferragens, uma papelaria, um relojoeiro, uma florista, dois cafés, uma casa de esfiha, uma lojinha de cacarecos baratos, uma barbearia e uma padaria artesanal, entre outros.
O barbeiro Ricardo e os padeiros Virgínia e Thiago dividem o mesmo imóvel. Eles colocaram mesinhas na calçada, e o ponto começou a atrair um pessoal do bairro que fica lá conversando longamente. Tipo “A Praça É Nossa” da vida real, na São Paulo de 2025.
A última reunião desses personagens, vizinhos que se tornaram amigos, foi o churrasco da sexta passada. Ricardo, Virgínia, Thiago, o Houssein das esfihas, o seu Lauro das ferragens e vários outros locatários foram despejados para a ampliação de um supermercado —que parece querer engolir a quadra inteira.
No que me diz respeito, estou desolado com o assassinato de uma improvável vida social que não dependia de aplicativos para acontecer.
Mas, enfim, bola pra frente. É verão, está um calor dos infernos, então a receita da semana é um drinque refrescante. Até o ano que vem.
Colunas
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Margarita de melancia
Dificuldade: fácil
Rendimento: 1 copo
Tempo de preparo: 5 minutos
Ingredientes
- ½ limão
- Sal
- Gelo
- 60 ml de tequila
- Suco de melancia
Modo de fazer
- Esprema o limão. Reserve o suco e o limão espremido;
- Coloque sal num pires. Passe o limão espremido na beirada de um copo baixo. Coloque a borda do copo sobre o sal para formar uma crosta branca;
- Coloque o suco de limão e o gelo no copo. Encha de gelo e complete com o suco de melancia. Misture delicadamente e sirva
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Fonte.:Folha de S.Paulo


