8:08 PM
26 de dezembro de 2025

Entidades judaicas denunciam fala antissemita de vereadora

Entidades judaicas denunciam fala antissemita de vereadora

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A Federação Israelita do Paraná (Feip) e a Comunidade Kehilá, responsável pelo Centro Israelita do estado, emitiram nota esta semana repudiando declarações proferidas por uma vereadora do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) na Câmara Municipal de Curitiba.

“Ao recorrer a generalizações e associações indevidas entre a identidade religiosa judaica e conflitos geopolíticos internacionais, a manifestação (da parlamentar) assumiu contornos de intolerância religiosa e antissemita”, afirmam as entidades.

A nota trata das afirmações feitas pela vereadora Professora Angela ao negar o título de cidadania honorária para um engenheiro agrônomo e professor de ciências naturais durante a última reunião da Comissão de Educação, em 17 de dezembro.

De acordo com a biografia lida na sessão, o idoso Isac Baril contribuiu para o desenvolvimento do setor agrícola da cidade por cinco décadas, “com atuação fundamental na modernização e eficiência das Centrais Estaduais de Abastecimento (CEASA)”, onde foi diretor e presidente. Ele também se dedicou ao voluntariado em instituições sociais, culturais e religiosas, como a Comunidade Israelita do Paraná e à Federação Israelita do estado.

A nota repudiou declarações proferidas por uma vereadora do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) na Câmara Municipal de Curitiba.A nota repudiou declarações proferidas por uma vereadora do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) na Câmara Municipal de Curitiba. (Foto: Reprodução/Instagram/Federação Israelita do Paraná (Feip) )

Após a apresentação da biografia, a vereadora Professora Angela afirmou ser contrária à homenagem devido à “atuação política e comunitária” do idoso, pois ele incentivaria o “vínculo com o judaísmo” e auxiliaria em processos de Aliá — termo que designa o retorno de judeus a terra de Israel por meio do procedimento legal de imigração.

“Tivemos um voto da professora Angela claramente antissemita. E vou dizer mais: de intolerância religiosa.”

Vereador Pier Petruzziello (PP-PR)

“No contexto geopolítico atual, a promoção da imigração para Israel – Aliá – é um instrumento central na política de expansão demográfica e ocupação territorial que viola o direito internacional e os direitos fundamentais do povo palestino”, justificou a vereadora, que foi questionada a respeito de como teria concluído que o engenheiro apoiaria algum movimento político. “Ficou parecendo que o voto separado é simplesmente por ele ser judeu”, alertou o vereador Guilherme Kilter (NOVO).

“Ele faz parte da Federação Israelita do Paraná e é um incentivador dos processos de Aliá”, reafirmou a parlamentar, citando que “Israel tentaria expandir seu território expulsando palestinos” e violando direitos desse povo. “E, se ele (senhor Isac Baril) é um incentivador disso, é contrário à causa Palestina, que é uma das defesas do meu mandato”, continuou.

Os demais vereadores explicaram, então, que Aliá é um processo religioso que já existia antes da formação do estado de Israel e que a honra de cidadão honorário é conferida pelos méritos e feitos da pessoa para a sociedade, não por sua religião.

Vereadores classificam o caso como antissemitismo e ato de intolerância religiosa

Após a sessão, o vereador Pier Petruzziello (PP), autor da proposta, denunciou a situação na tribuna da Câmara. “Tivemos um voto da professora Angela claramente antissemita. E vou dizer mais: de intolerância religiosa”, apontou, ao afirmar que jamais votaria contra alguém por ser evangélico, católico ou da Umbanda. É uma vergonha o que a professora Angela, do PSOL, fez na Comissão de Educação”.

As vereadoras Indiara Barbosa e Delegada Tathiana também se manifestaram contra o posicionamento da parlamentar psolista, denunciaram o fato pelas redes sociais e acionaram o Conselho de Ética da Câmara. “Divergências políticas são legítimas, ataques ou generalizações sobre crenças religiosas, não!”, pontuou Indiara. “Postura preconceituosa contra judeu!”, continuou Tathiana.

O que disse a Federação Israelita do Paraná (Feip)

Segundo a Feip, Isac Baril dedicou décadas de sua vida em defesa da liberdade religiosa, e as referências históricas utilizadas pela vereadora Professora Angela para negar a ele a honra de cidadão honorário de Curitiba foram utilizadas “de forma equivocada” ao deslocar para o ambiente local conflitos externos complexos e sensíveis.

“Divergências políticas ou geopolíticas não podem servir de justificativa para manifestações que resultem em intolerância religiosa, estigmatização ou ataques a comunidades de fé”, ressaltou a entidade.

Professora Angela nega intolerância religiosa: “posicionamento político”

Em sua fala Comissão de Educação, professora Ângela afirmou que seu voto não representou intolerância religiosa, “mas um posicionamento político”. A Gazeta do Povo procurou a equipe da parlamentar, que reafirmou essa posição.

“O mandato da Professora Angela tem divergências políticas de natureza insanável com a Federação Israelita do Paraná”, informou o gabinete da vereadora, em nota. “O voto na comissão não é uma questão religiosa ou pessoal, mas, sim, ideológica acerca do sionismo”, continuou, em referência ao movimento que apoia a soberania e legitimidade da existência do Estado de Israel.

Na apresentação da Federação em seu site, no entanto, não há nenhuma menção a esse movimento, mas informações de que “a entidade preza pelo diálogo inter-religioso e atua politicamente de forma apartidária, com base em princípios como a defesa da paz, da democracia e da justiça social”.

A Feip aponta ainda que atua no “combate ao racismo, ao terrorismo, ao antissemitismo e à intolerância contra todas as matrizes, e nesse sentido promove ações jurídicas contra atitudes discriminatórias.”

O que deve acontecer a partir de agora?

As representações contra a vereadora Professora Angela devem ser analisadas pelo Conselho de Ética da Casa em 2026, enquanto a proposta de cidadania honorária para o engenheiro agrônomo Isac Baril — aprovada por maioria de votos na Comissão de Educação — segue em tramitação até ser votada em plenário.





Fonte. Gazeta do Povo

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