
O HIV ainda é um dos principais desafios de saúde pública no Brasil. Apesar dos avanços em tratamento, que contribuíram para a melhora da qualidade de vida das pessoas que vivem com o vírus, a taxa de novas infecções ainda é motivo de preocupação.
De acordo com o Ministério da Saúde, até setembro de 2025 foram notificados mais de 29 mil novos casos de HIV no Brasil. Além disso, na comparação entre 2023 e 2024, observou-se um aumento de 2,6% no número de casos.
Além disso, o estigma social continua sendo um dos maiores obstáculos à prevenção, diagnóstico e adesão ao tratamento.
O medo do julgamento e da discriminação afasta as pessoas dos serviços de saúde e das estratégias preventivas. É nesse contexto que as redes sociais, com sua linguagem direta, visual e, muitas vezes, bem-humorada, atuam como uma poderosa ferramenta de saúde pública.
Quando o humor ajuda a falar sobre HIV
O humor e a descontração nas plataformas digitais conseguem tornar o tema mais acolhedor e democrático, já que o HIV é historicamente associado ao medo e à moralização, ganhando, assim, uma abordagem leve que facilita a absorção da informação.
Possibilita ainda atingir populações-chave, como os jovens — a faixa etária com maior incidência de HIV é de 25 a 34 anos (36,8% dos casos), seguido de 15 a 24 anos (25,0% dos casos), conforme os dados de 2024 do Ministério da Saúde.
Além disso, a linguagem consegue promover a autonomia. A comunicação eficaz nas redes evita a abordagem moralista, já que o foco passa a ser realista e cordial, onde prevenir não é impor, é oferecer opções e respeitar as escolhas de cada um.
E, por fim, traz a informação do consultório e dos protocolos de pesquisa para a palma da mão, transformando termos complexos em conteúdo compartilhável e compreensível, sem, contudo, negligenciar a responsabilidade técnica da mensagem.
Redes sociais e prevenção do HIV no Brasil
Dessa forma, as redes sociais tornaram-se ferramentas essenciais para falar sobre prevenção que, particularmente no Brasil, continua sendo um dos pilares mais importantes de estratégias de saúde pública.
A ampliação do acesso à PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) e à PEP (Profilaxia Pós-Exposição), aliada à educação em saúde, ao diagnóstico precoce e à redução do estigma, pode contribuir para uma resposta mais efetiva à epidemia.
PrEP, tratamento e informação acessível
A PrEP, por exemplo, pode ser encontrada nas opções oral e injetável. A PrEP oral consiste no uso de antirretrovirais antes da exposição para reduzir o risco de infecção pelo HIV.
É distribuída gratuitamente pelo SUS de duas formas: contínua, com o uso diário de um comprimido, ou sob demanda, com doses específicas antes e após a relação sexual. Já a PrEP injetável é uma injeção intramuscular que deve ser aplicada na região glútea.
No Brasil, o medicamento acabou de chegar no mercado privado. Registrado pela Anvisa em 2023, é administrado a cada dois meses, oferecendo uma alternativa prática à PrEP oral.
Outra peça fundamental está na estratégia “Indetectável = Intransmissível” (I=0). Pessoas vivendo com HIV que aderem ao tratamento antirretroviral e mantêm a carga viral indetectável no sangue por pelo menos seis meses não transmitem o vírus por via sexual, desde que mantenham o tratamento.
Este conhecimento, além de ajudar a reduzir a transmissão de novos casos, é a base de uma poderosa intervenção estrutural, pois combate o estigma ao desvincular o HIV da capacidade de transmissão.
Comunicação, ciência e saúde pública
Portanto, ao integrar a seriedade da informação médica com a leveza e o dinamismo do humor digital, é possível desmantelar o estigma, promover a autonomia individual e, finalmente, democratizar as ferramentas que podem reverter essa curva de crescimento de novos casos.
O futuro da saúde pública contra o HIV está no encontro da ciência de ponta e uma comunicação que seja tão humana quanto a própria vida que buscamos proteger.
Material dirigido ao público em geral. Por favor, consulte o seu médico.
*Ricardo Kores, infectologista e influenciador de saúde nas redes sociais.
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Fonte.:Saúde Abril


