Você já pensou sua estratégia e conseguiu acumular milhas. Agora é hora de gastá-las. Neste quarto capítulo, a série De Milha em Milha, exclusiva para assinantes da Folha, te ensina como conseguir bons resgates.

Neste capítulo, todos os exemplos são de resgates em classe econômica —a classe executiva, coqueluche dos milheiros, terá um capítulo dedicado nas próximas semanas. Veja a seguir.

No primeiro capítulo da série, você aprendeu a calcular o valor do milheiro. Agora, ao resgatar suas milhas, é preciso fazer uma outra conta: a do valor real do bilhete emitido com milhas.

Ao encontrar uma passagem por, digamos, 80 mil milhas, pesquise no Google Flights ou no próprio site da companhia aérea o preço daquele mesmo voo em reais —R$ 2.000, por exemplo. Divida esse valor pela quantidade de milheiros (80), o que aqui daria 25 (reais por milheiro). Se esse valor for igual ou maior que valores de mercado dos milheiros, o resgate compensa. Se for igual ou maior do que o custo que você teve para acumular essas milhas, melhor ainda.

Via de regra, a emissão só será vantajosa se você estiver diante de uma tarifa award (“prêmio”, em inglês), que são aquelas com um preço em milhas reduzido, difíceis de achar. Encontrá-las é um desafio em si, mas os milheiros mais experientes já têm suas técnicas.

Muitas vezes, é preciso fazer a busca em um site ou programa de fidelidade diferente daquele que você usará para fazer a emissão, porque nem todos exibem essas tarifas com clareza. Para isso, é importante estar por dentro das alianças globais de companhias aéreas (Oneworld, SkyTeam e Star Alliance).

Para encontrar tarifas awards em voos de companhias associadas a Oneworld (Iberia, British, Qatar, entre outras), por exemplo, o site do AAdvantage, da American Airlines, é a melhor opção. Já a emissão pode ser feita no programa de fidelidade que você escolheu para acumular milhas —se ele for parceiro da companhia que você quer voar, é claro. Embora não faça parte da Oneworld, a Latam tem acordos diretos com Iberia, British e Qatar, por exemplo. Mas o programa só emite bilhetes em tarifa award via call center ou Whatsapp.

Já para encontrar tarifas awards em voos das companhias da SkyTeam (Aeroméxico, Delta, AirFrance, entre outras), a melhor opção é fazer a busca no site da Virgin Atlantic. E para companhias da Star Alliance (Lufthansa, Air Canada, Turkish), melhor buscar no site da United.

No Brasil, o Azul Fidelidade e a Smiles são os programas mais transparentes em relação às tarifas prêmio. Além de mostrarem essas essas tarifas no próprio site, no primeiro o tipo de tarifa (award ou comercial/pública) é claramente descrito nos detalhes dos resultados de busca.

Já no segundo, a informação vem disfarçada: se o voo que você procura tiver a opção de emissão Viaje Fácil (que permite fazer a reserva hoje e fazer o pagamento em milhas até 60 dias antes do embarque), ela é uma tarifa award —mas essa opção só aparece para voos com antecedência mínima de 60 dias.

Mas o melhor jeito de identificar uma tarifa award é mesmo o preço, sempre bem menor que a média.

Há alguns sites especializados em encontrar a disponibilidade das tarifas award, como o ExpertFlyer, o SeatsAero e o SeatSpy —todos pagos, com assinaturas a partir de US$ 5 ou R$ 28 por mês. Eles também permitem criar alertas de voos em datas específicas.

Quem não quiser perder tempo com tantas buscas pode assinar grupos de alertas de sites brasileiros especializados, que enviam os melhores achados mastigadinhos por Whatsapp. No Passageiro de Primeira e no Pontos para Voar, essas assinaturas custam a partir de R$ 30 por mês. Ainda assim, é importante ser ágil na emissão, já que essas tarifas esgotam rapidamente.

Vale a pena acumular milhas por muito tempo?

Em um mercado dinâmico como a aviação, onde preços e regras de utilização mudam o tempo todo, milheiros mais experientes recomendam a adoção da estratégia “earn and burn” (ganhe e queime, em inglês), que consiste em não demorar muito para resgatar suas milhas —apenas o suficiente para aproveitar boas promoções de bonificação e resgate. A ideia é mitigar riscos como vencimento ou desvalorização das milhas, flutuações de preços e eventuais deságios nas transferências entre programas.