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30 de dezembro de 2025

O ronco de Bolsonaro: o que o caso do político diz sobre a apneia do sono

O ronco de Bolsonaro: o que o caso do político diz sobre a apneia do sono

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Na entrevista coletiva concedida na segunda-feira, 29, a equipe médica do ex-presidente Jair Bolsonaro trouxe à tona um diagnóstico que chama a atenção não apenas pela figura pública envolvida, mas principalmente pelo que representa para milhões de brasileiros: a apneia obstrutiva do sono, e em grau grave.

Segundo os médicos, Bolsonaro foi submetido a um exame chamado polissonografia, considerado o padrão-ouro para avaliar distúrbios do sono. O resultado impressionou: cerca de 50 paradas respiratórias por hora durante o sono.

Em termos médicos, isso configura uma apneia grave, com impacto direto na oxigenação do sangue, no coração, no cérebro e na pressão arterial. Diante disso, a equipe indicou o uso de CPAP, ao menos neste período inicial.

Mas o que tudo isso significa? E por que esse diagnóstico merece tanta atenção?

Muito além do ronco

A apneia obstrutiva do sono é uma condição em que a via aérea se fecha repetidamente durante o sono. A pessoa tenta respirar, mas o ar não passa. Isso provoca quedas de oxigênio no sangue, microdespertares frequentes e um sono fragmentado — mesmo que o sujeito não perceba.

Essas pausas respiratórias, que costumam vir acompanhadas de ruídos, podem durar segundos ou até mais de um minuto e se repetir dezenas de vezes por hora. No caso de Bolsonaro, os cerca de 50 eventos por hora indicam que o corpo passou praticamente a noite inteira lutando para respirar.

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Os sintomas mais comuns de apneia incluem ronco alto, sonolência excessiva durante o dia, cansaço, dores de cabeça ao acordar, lapsos de memória e dificuldade de concentração. Em muitos casos, o paciente só descobre o problema após uma investigação médica — como aconteceu agora, e de forma pública.

Estimativas indicam que cerca de um terço dos brasileiros adultos pode ter apneia do sono em algum grau — aproximadamente 33% da população adulta apresenta sinais ou critérios que levantam essa possibilidade.

Como se faz o diagnóstico?

A polissonografia é um exame feito durante uma noite inteira, em ambiente monitorado. Ela avalia respiração, batimentos cardíacos, níveis de oxigênio, movimentos do tórax, posição do corpo e até a atividade cerebral.

É esse exame que permite contar quantas vezes a pessoa para de respirar por hora — o chamado índice de apneia-hipopneia. Quanto maior o número, mais grave é o distúrbio. Valores acima de 30 eventos por hora já caracterizam apneia grave. Infelizmente, trata-se de um exame pouco solicitado pelos médicos de uma maneira geral. Uma pena, pois ele também nos orienta sobre o tratamento, que pode envolver de aparelhos bucais ao CPAP.

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CPAP: ar contínuo para manter a vida respirando

O CPAP é um aparelho que fornece ar sob pressão contínua por meio de uma máscara durante o sono. Pode parecer desconfortável à primeira vista, mas sua função é simples e poderosa: impedir que a garganta feche, mantendo a passagem de ar aberta a noite toda.

Com o uso do CPAP, as pausas respiratórias praticamente desaparecem, o oxigênio se normaliza e o sono se torna profundo e reparador. Para muitos pacientes, o impacto é imediato: mais disposição, menos sonolência e melhora significativa da qualidade de vida.

Vale destacar que recentemente houve a aprovação de tirzepatida, de nome comercial de Mounjaro (um medicamento conhecido pelo seu potencial no controle do peso corporal e do diabetes) para tratamento de síndrome de apneia do sono em pessoas com obesidade.

Vida sob pressão

Um ponto importante destacado pelos médicos do ex-presidente é a relação entre a apneia do sono e os picos de pressão arterial. Essa ligação é bem conhecida na medicina.

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Cada vez que a respiração para, o organismo entra em estado de alerta. Há liberação de adrenalina, aumento da frequência cardíaca e elevação da pressão arterial. Quando isso acontece dezenas de vezes por noite, noite após noite, o resultado é uma hipertensão difícil de controlar.

Não por acaso, pacientes com apneia grave têm maior risco de infarto, AVC, arritmias cardíacas e insuficiência cardíaca. A boa notícia é que tratar a apneia frequentemente melhora o controle da pressão, reduzindo a necessidade de múltiplos medicamentos.

Um problema enorme — e pouco diagnosticado

Apesar de tudo isso, a apneia do sono segue sendo subdiagnosticada no Brasil e no mundo. Estima-se que a maioria das pessoas com apneia não saiba que tem a doença (e muito menos os médicos). Muitos convivem anos com cansaço, hipertensão resistente e risco cardiovascular elevado sem jamais investigar o sono.

A exposição do caso de Bolsonaro tem um efeito positivo: joga luz sobre um problema comum, sério e tratável. Dormir bem não é luxo — é parte essencial da saúde.

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O episódio reforça uma mensagem clara: tratar a apneia do sono não é apenas parar de roncar. É proteger o coração, o cérebro e os vasos sanguíneos. Em muitos casos, é justamente o tratamento do sono que destrava o controle da hipertensão.

Se há algo de bom nessa história, é o alerta. O sono fala — e, quando ele é interrompido dezenas de vezes por hora, o corpo cobra a conta.

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Fonte.:Saúde Abril

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