9:05 AM
31 de dezembro de 2025

Por que Drauzio Varella não tem boas lembranças da São Silvestre

Por que Drauzio Varella não tem boas lembranças da São Silvestre

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Drauzio Varella não guarda boas recordações da Corrida Internacional de São Silvestre. Aos 82 anos, o médico e maratonista já participou duas vezes da mais tradicional corrida de rua da América Latina, que completa 100 anos nesta quarta-feira, dia 31.

“São Silvestre é uma prova de 15 quilômetros. Qualquer garoto de 20 e poucos anos treina dois meses e corre a São Silvestre”, explica. “Na hora da largada, é cotovelada para todo lado”.

Na última vez que correu a São Silvestre, um participante pisou no pé dele ainda na Paulista. Conclusão: o tênis saiu do calcanhar. Para não morrer pisoteado ali mesmo, evitou interromper a corrida para ajeitar o calçado.

Pediu ajuda ao primeiro atleta que passou… “Eu parecia um saci ajeitando o tênis”, recorda. “Numa maratona, isso não acontece – só por acidente. Ninguém se mete a correr 42 quilômetros de uma hora para outra. Não há improviso”.

+Leia também: A hora e a vez da corrida, o esporte que promete mudar a sua vida

O desafio que começou aos 50 anos

Drauzio começou a correr maratonas em 1993, no auge dos 50 anos. Um ano antes, esbarrou, por acaso, em um antigo colega de turma do Liceu Pasteur.

Quando soube que o amigo de infância estava prestes a completar 50 anos, o tal sujeito comentou: “Idade em que tem início a decadência do homem…”. Foi ali que Drauzio propôs um desafio a si mesmo: correr a Maratona de Nova York, em novembro do ano seguinte. Será que conseguiria?

A primeira providência foi acordar cedo para treinar: 5h. Se deixasse para correr no Minhocão, em São Paulo, no final do dia, não conseguiria. “Se você não tem uma meta, fica difícil fazer exercício”, admite.

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“Como faz para levantar da cama e treinar 30 quilômetros? Se não tiver uma maratona para correr, não levanta. A maratona obriga você a ter disciplina”. Ele também gosta de subir as escadas dos 16 andares do prédio onde mora.

Maratonas pelo mundo e recordes pessoais

Drauzio não só participou da Maratona de Nova York de 1993, como completou a prova em quatro horas e um minuto. Gostou tanto que repetiu a experiência outras 25 vezes.

Em 2022, aos 79 anos, ganhou a Six Star Medal (“Medalha Seis Estrelas”), concedida aos maratonistas que completaram as seis maiores maratonas do mundo: Nova York, Chicago, Boston, Berlim, Tóquio e Londres. Seu melhor tempo: três horas e trinta e oito minutos, em 1994.

Apuros e dores na pista

Dessas maratonas, passou perrengue em duas ocasiões. Certa vez, sentiu “uma pequena opressão” no peito nos metros finais da Maratona de Nova York. “Quando diminuí o passo, melhorou na hora. Mas fiquei um pouco assustado”, confessa.

Noutra ocasião, uma sinusite obrigou o atleta a respirar pela boca. Resultado: ficou com a boca ressecada. “O pior é que só tinha água a cada 5 quilômetros. Foi uma maratona bem desagradável”, relata.

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No Brasil, Drauzio não se esquece da Maratona de Blumenau, em 1995. A certa altura, foi interceptado por uma ambulância. “Tudo bem com você?”, gritou o paramédico. “Sim”, respondeu ele. “Tudo bem mesmo?”, insistiu o rapaz.

Terminar a prova foi fácil; difícil mesmo foi entrar no ônibus. Subir a escadaria da Penha, de joelhos, teria sido menos doloroso. “Só não chorei por vergonha”, confessa o atleta. “A dor na musculatura era insuportável”.

Duas decisões que mudaram uma vida

No mais autobiográfico de seus 20 livros, O Exercício da Incerteza (Companhia das Letras, 2022) – Clique para comprar, Drauzio afirma que duas decisões mudaram sua vida: parar de fumar aos 36 anos e começar a correr maratonas aos 50.

“Parar de fumar foi a mais difícil e a mais importante das decisões que tomei. Se eu não tivesse parado, não estaria aqui hoje. O cigarro destrói a pessoa. Se não tivesse fumado por 19 anos, talvez tivesse hoje mais fôlego para correr”.

Manual de sobrevivência para futuros maratonistas

Para quem deseja começar a correr maratonas, Drauzio lista três conselhos.

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  • Passar antes no médico, principalmente se houver casos de infarto ou de AVC na família;
  • Respeitar a genética, pois nem todo mundo nasceu para ser maratonista;
  • Evitar exageros na largada e planejar toda a prova.

“Todo ano eu faço isso. É obrigatório”, diz sobre os exames médicos. “Às vezes, acho que minha cardiologista pede exames demais. Mas, não discuto. Faço o que ela acha necessário”.

“Eu jamais seria nadador. Sabe por quê? Porque não gosto de nadar. Quando tinha sete anos, quase me afoguei em um rio. Se não fosse um primo de 12 anos, teria morrido”, relata.

Para ser um bom maratonista, o atleta precisa ser magro, ter menos de 1,80 de altura, corpo esguio e musculatura alongada. “Peso 70 quilos e meço 1,83. Minha perna parece um cabo de vassoura. Isso não resolve meus problemas, mas me torna mais apto para enfrentá-los”.

Quando parar também é sabedoria

Este ano, pela primeira vez, Drauzio não conseguiu completar uma maratona. Foi em Berlim, no dia 21 de setembro. Por volta do quilômetro 25, sentiu uma fisgada na coxa. Reduziu a velocidade, a dor passou. Adiante, voltou mais forte. Começou a andar, melhorou.

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Mas, piorou em seguida. No quilômetro 30, bebeu água e fez alongamento. Pouco adiantou. “Desistir não é demérito nenhum. Exige bom senso. Chega uma hora em que você precisa parar”, reflete.

Livros e documentário sobre a experiência

Para saber mais sobre o assunto, o médico e maratonista Drauzio Varella já escreveu um livro, Correr – O Exercício, a Cidade e o Desafio da Maratona (Companhia das Letras, 2015), e protagonizou um documentário, A Vida É Uma Maratona: Os Novos Limites da Longevidade, escrito por Jeff Peixoto e Paula Padilha, e dirigido por Jeff Peixoto, Michel Souza e Thais Roque.

O documentário está disponível no YouTube. Confira abaixo:

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Fonte.:Saúde Abril

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