7:06 PM
31 de dezembro de 2025

Fim de ano e saúde mental: por que a exaustão faz a gente comer diferente?

Fim de ano e saúde mental: por que a exaustão faz a gente comer diferente?

PUBLICIDADE



São quase 22h, você ainda não jantou, a cabeça está cheia de prazos, confraternizações, boletos e grupos de WhatsApp bombando. Você abre a geladeira “só pra beliscar”, pega alguma coisa rápida, come em pé, mal mastiga.

Quando percebe, comeu muito mais do que planejava — e, ainda assim, não se sente exatamente satisfeita, nem fisicamente nem emocionalmente.

No fim do ano, muita gente vive a mesma sensação: a cabeça girando com prazos, compromissos, cobranças e expectativas, o corpo cansado, a mente acelerada — e uma relação com a comida que muda sem pedir permissão. É comer rápido, sem respirar, sem mastigar, sem notar a saciedade, como se o ato de comer fosse apenas mais uma tarefa do dia.

O que o estresse e o cansaço fazem com o apetite

Esse padrão tem explicação. A soma de estresse, cansaço, múltiplas demandas e pouco tempo ativa vias fisiológicas que alteram tanto o apetite quanto a forma como percebemos fome, prazer e saciedade.

O aumento do cortisol desorganiza o eixo que regula a fome, favorecendo maior liberação de grelina, hormônio que estimula o apetite e intensifica a busca por alimentos que trazem conforto rápido.

Ao mesmo tempo, a sinalização da leptina, que avisa ao cérebro que já estamos satisfeitos, fica menos eficiente. O corpo passa a pedir energia mesmo sem tanta necessidade física, e a mente busca alívio nas opções mais palatáveis.

Continua após a publicidade

Com o cérebro exausto, áreas responsáveis por planejamento, autocontrole e tomada de decisão ficam sobrecarregadas, enquanto regiões ligadas a impulso e recompensa ganham força.

Comer deixa de ser uma escolha consciente e vira um automatismo: mastigar pouco, comer rápido, pegar o que estiver à mão. E alimentos calóricos passam a parecer ainda mais sedutores, porque o sistema de dopamina responde de forma mais intensa quando estamos cansados ou emocionalmente exaustos.

+Leia também: Por que você deve comer com atenção plena

Por que dormir mal piora a relação com a comida

A falta de sono, tão comum nessa época, agrava tudo: aumenta a ingestão de energia total, intensifica a fome hedônica (a vontade de comer por prazer, não por necessidade) e eleva a preferência por doces, frituras e alimentos crocantes.

Com a rotina quebrada e o corpo sem tempo para descansar, o cérebro valoriza ainda mais qualquer fonte de gratificação imediata.

Continua após a publicidade

No trabalho, a sobrecarga também pesa, o que leva a mais lanches não planejados, mais fast food e mais episódios de comer emocional. A comida passa a ocupar o lugar das pausas que não fizemos, do descanso que adiamos, do reconhecimento que não recebemos.

Pequenas porções de alimentos doces podem até reduzir temporariamente a resposta fisiológica ao estresse — e por isso muita gente sente que “merece” um doce depois de um dia pesado.

Esse é o coração do comer emocional: usar a comida para regular sentimentos difíceis quando faltam outras formas de conforto. O problema não é buscar prazer ao comer, pois isso é humano. O problema é quando a comida vira praticamente a única estratégia de alívio em uma vida acelerada.

Mas há um ponto crucial: não é sobre controlar o prato. É sobre cuidar de quem segura o prato. Se o seu fim de ano tem sido assim: corrido, cansativo, comendo rápido, mastigando pouco, sem sentir saciedade nem prazer duradouro; a solução não está em mais culpa, mais planilha de calorias ou mais regras rígidas.

Continua após a publicidade

A ciência tem mostrado que o caminho é outro: reconstruir a relação com o próprio corpo, com o descanso e com a comida, com mais consciência e gentileza. E existem caminhos práticos, gentis e possíveis para isso.

Estratégias que realmente ajudam (e não envolvem culpa)

  • Pausas mínimas, efeitos máximos. Antes de comer, pare por 1 a 3 minutos. Respire fundo, solte o celular, perceba seu nível de fome. Essa pausa reduz o automatismo e aumenta a consciência;
  • Transforme a refeição em descanso, não em tarefa. Sente-se para comer, mesmo que seja algo simples. Mastigue devagar, note textura e sabor. A mastigação lenta melhora sinais de saciedade;
  • Proteger o sono vale mais do que controlar o menu. Trinta minutos extras de sono podem reduzir fome hedônica e diminuir o impulso por alimentos muito palatáveis. Rotinas de desaceleração ajudam: luz mais baixa, menos telas, rituais calmantes antes de dormir;
  • Tenha outras fontes de prazer além da comida. Liste pequenas ações que tragam conforto rápido: banho quente, música, caminhada curta, alongamento, mensagem para alguém querido. Assim, a comida deixa de ser o único “botão de alívio”;
  • Nomeie a emoção antes de abrir a geladeira. Pergunte-se: “O que eu estou sentindo agora?” Cansaço, frustração e solidão podem se disfarçar de fome. Reconhecer a emoção ajuda a escolher melhor como cuidar dela;
  • Busque apoio profissional quando for preciso. Se comer tem sido fonte de sofrimento, descontrole ou culpa recorrente, profissionais de nutrição com foco em comportamento e especialistas em saúde mental podem ajudar a reconstruir uma relação mais leve com a comida.

No fim das contas, o que altera nossa alimentação no fim de ano não é a ceia em si, e sim a exaustão acumulada. E talvez o maior gesto de saúde que você possa fazer agora não seja cortar alimentos, mas se recolocar na lista de prioridades: descansar mais, comer com mais presença e se tratar com mais gentileza. É isso que faz diferença de verdade.

Compartilhe essa matéria via:

Continua após a publicidade

 

 



Fonte.:Saúde Abril

Leia mais

Rolar para cima