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25 de abril de 2025

Cearense ganha reforma na cozinha após dois infartos – 10/02/2025 – Folha Social+

Cearense ganha reforma na cozinha após dois infartos – 10/02/2025 – Folha Social+

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Aos 33 anos, a cearense Cristiane Gonçalves sofreu dois infartos. As veias entupidas a deixavam cansada para varrer o chão de cimento grosso da cozinha, onde seus filhos brincavam.

Ao deixar a cidade de Jaguaribe (CE), em 2016, a família trocou a roça e dez anos de emprego sem registro por uma vida nova em Araçariguama (SP), para onde vieram apenas com as roupas e a filha de 4 anos.

Em 2022, ela conseguiu uma cirurgia, pelo SUS, e também uma reforma na casa em que morava há três anos, depois de dividir dois cômodos com dez pessoas e viver em um quarto com paredes de bambu.

“Não tinha pintura e a fiação era solta. Teve uma vez que meu menino disse assim: ‘mãe, por que a nossa casa é tão feia?'”, afirma Cristiane, 36.

A cozinha ganhou revestimento, janelas e portas novas com o Reforma que Transforma, programa criado em 2022 pela Gerdau que beneficiou 2.550 pessoas em mais de 780 reformas no ano passado. Para 2025, são esperadas pelo menos outras 750 nos territórios onde a siderúrgica atua.

A proposta é de investir, em dez anos, R$ 40 milhões em melhoria habitacional no país. Para isso, a Gerdau conta com parceria da Vivenda, negócio social que gerencia reformas habitacionais populares em um Brasil de 28 milhões de moradias impróprias.

“A vida da gente é de bastante luta”, diz a cearense. “Tem coisas que vêm para desanimar, mas a reforma foi um empurrão, porque depois a gente fez o banheiro, o quarto e a garagem.”

Em depoimento à Folha, aos 8 meses de uma gravidez de risco, Cristiane narra sua trajetória da “casa na fazenda do patrão” à moradia digna, onde aguarda seu terceiro filho.

“Para a gente que é mulher, só tem emprego de doméstica em Jaguaribe. Quando consegue uma formação, vai ser professora. Meu marido, o Celiano, fez até a sexta série. Trabalhava com agricultura, com gado e leite. Então a gente morava em uma casinha na fazenda do patrão.

Foram dez anos e ninguém assinou a carteira dele. Não tinha férias, décimo terceiro, era só aquele dinheiro do mês. Daí o irmão dele, que morava em São Paulo, chamou para tentar a vida lá. Quando a gente casa, é para acompanhar o marido, né?

Era 2016. Viemos nós, minha menina de 4 anos e as malas de roupa. A patroa não teve condição de pagar os dez anos, então comprou as passagens para a gente ir de avião.

O destino era a cidade de Araçariguama, no interior de São Paulo. Eu não achei estranho porque vim acostumada com fazenda e roça. Mas o difícil mesmo foi ficar com dez pessoas em dois cômodos. Era apertado.

Passamos 15 dias dormindo fora da casa. Não tinha parede, era só um telhadinho. Daí os homens trouxeram bambu, que tinham cortado no fundo do terreno, e a gente fez um quarto de bambu. Vivemos cinco meses nesse ‘cômodozinho’.

O Celiano fazia bicos para a gente viver. Roçava um mato, fazia uma cerca. E aí ele arrumou emprego em um frigorífico. Com carteira assinada.

E logo depois, graças a Deus, consegui serviço de auxiliar de cozinha na Pernambucanas. Eu nunca tinha trabalhado com tanta gente em uma empresa desse tamanho. Foi difícil adaptar e eu falo que até brigar eu chorei muito.

Foram três anos e meio lá. Tive meu menino nesse período. Entrava às 5h30. As crianças ficavam com o pai e, depois, com uma moça que cuidava deles.

Comecei lavando prato, depois fui cortar verdura, escolher feijão. E daí virei cozinheira. A gente pôde alugar uma casinha. E, em 2019, a gente veio para essa que é nossa.

Não tinha pintura e a fiação era solta. O piso era de cimento bem grosso e as crianças não podiam brincar no chão. Teve uma vez que meu menino disse assim: ‘mãe, por que a nossa casa é tão feia?’. Eu explicava que a gente estava arrumando aos pouquinhos.

Mas as coisas pioraram. Em 2022, sofri um infarto e não consegui vaga para o cateterismo. Segui a vida, mas sentia muito cansaço. Era duro manter aquele cimento limpo.

Oito meses depois, em 2023, tive mais um infarto. Dessa vez consegui o exame e viram quatro veias entupidas. Coloquei três stents no coração e me afastaram do serviço.

Foi durante esse período que me inscrevi no Reforma que Transforma da Gerdau. A arquiteta veio, pediu para escolher o cômodo que queríamos mexer e não tive dúvida: a cozinha, que é onde mais passo meu tempo.

Em quinze dias colocaram piso, trocaram janela, porta, fizeram instalação elétrica. Ficou só minha antiga pia mesmo, que ganhei e pedi para deixar. Tudo do jeito que eu queria. Agora varreu, passou pano, tá tudo limpinho.

Foi um empurrão, sabe? Porque depois a gente fez o banheiro, o quarto e a garagem. É um projeto que não cuida só da casa, mas também do bem-estar da gente.

Não pretendo voltar para Jaguaribe, pois aqui tem saúde, educação e emprego. Meus meninos já sabem ler, o bairro é bom.

E agora estou com 8 meses de gravidez. Logo vem mais uma menina. Estou me cuidando. Ganhei roupinhas, mas berço e carrinho não tenho, não. É como brincam no Ceará: se tem uma rede já está bom.

A vida da gente é de bastante luta. Tem coisas que vêm para desanimar, mas boto Deus em primeiro lugar e o tempo providencia o resto.”



Fonte.:Folha de S.Paulo

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