
Crédito, Getty Images
- Author, Luiz Fernando Toledo
- Role, Da BBC News Brasil, em Londres
Os presidentes da China, Xi Jinping, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conversaram por telefone nesta segunda-feira (11/8) e reafirmaram o alinhamento político e econômico entre os dois países.
A ligação veio depois de Lula ter declarado, em entrevista à agência de notícias Reuters, que pretendia buscar líderes do Brics para discutir uma possibilidade de resposta conjunta ao tarifaço de 50% imposto por Donald Trump aos produtos brasileiros.
Na semana passada, Trump anunciou mais 25% de tarifas sobre a Índia, outro membro do Brics, por comprar petróleo da Rússia.
O governo americano também ameaça com “possível imposição de tarifas semelhantes a outros países que importam, direta ou indiretamente, petróleo da Federação Russa”. Esse é o caso do Brasil.
O bloco de países emergentes tem incomodado o presidente americano, que o chama de “grupo de países que são anti-Estados Unidos”.
Xi Jinping afirmou na ligação com Lula que a China “está pronta para trabalhar com o Brasil para dar o exemplo de unidade e autossuficiência entre os principais países do sul global”, segundo a agência estatal chinesa Xinhua.
Afirmou, ainda, que os laços entre os países estão “em seu melhor momento histórico”, com “um futuro compartilhado e o alinhamento das estratégias de desenvolvimento dos dois países tendo um bom início e progredindo sem percalços”, de acordo com a agência.
Xi também disse que “a China apoia o povo brasileiro na defesa de sua soberania nacional e apoia o Brasil na salvaguarda de seus direitos e interesses legítimos”, ainda segundo a agência chinesa.
A ligação também foi mencionada por Lula, em publicação na rede social X.
O presidente brasileiro afirmou que eles trocaram impressões sobre a atual conjuntura internacional e os recentes esforços pela paz entre Rússia e Ucrânia e que concordaram sobre o papel do G20 e do Brics “na defesa do multilateralismo.”
A declaração final da cúpula do Brics, realizada em julho no Rio de Janeiro, condenou os ataques de Israel e Estados Unidos ao Irã, sem citar diretamente os agressores, evitando tensões com o presidente Trump.
Lula disse ainda que os países se comprometeram a “ampliar o escopo da cooperação para setores como saúde, petróleo e gás, economia digital e satélites” e que querem continuar identificando “novas oportunidades de negócios entre as duas economias.”
Afirmou também que a China estará representada em Belém para a COP30 por “delegação de alto nível” e que o país vai trabalhar com o Brasil para o sucesso da conferência.
Lula disse à Reuters que não ligou para a Casa Branca para negociar as tarifas de 50% sobre o Brasil porque Trump não demonstrou interesse em fazer acordos.
“Um presidente da República não pode ficar se humilhando para o outro. Eu respeito todo mundo. Eu exijo respeito comigo”, disse.
“No dia em que minha intuição disser que Trump está disposto a conversar, não vou hesitar em ligar para ele”, disse Lula em entrevista em Brasília. “Mas hoje minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar.”
Ele também comentou a justificativa de Trump de aplicar as tarifas ao Brasil devido ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na carta em que anunciou a taxa extra, o americano disse que há “caça às bruxas” contra seu aliado brasileiro.
“Não é uma intromissão pequena, é o presidente da República dos Estados Unidos achando que pode ditar regras a um país soberano como o Brasil. Não é admissível (que) os Estados Unidos ou outro país, grande ou pequeno, resolvam dar um pitaco na nossa soberania”, disse Lula.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL