Algumas coisas são recorrentes na vida de quem frequenta restaurantes de São Paulo: sair decepcionado com a comida de estabelecimentos sofisticados, ter de se contentar com pratos feitos para postar nas redes sociais e constatar que, mesmo quando a parte principal da refeição é boa, a sobremesa deixa a desejar.
Tudo isso faz do AE! Cozinha um achado precioso. Ali, ótimos preparos são servidos em um salão sem pompa. A apresentação é de bom gosto, e a sobremesa é daquelas que fazem você querer voltar ao restaurante assim que possível, mesmo morando do outro lado da cidade.
Entre as opções de entrada para compartilhar, destaque para a charcutaria (R$ 52). É uma surpresa sentir o sabor suave das finas fatias de mortadela e presunto royale (ambos preparados na casa) que chegam à mesa acompanhados de pão de fermentação natural e picles de cenourinha e pepino, também produzidos ali.
O tortelli de burrata é boa pedida. Com limão-siciliano, tomate-cereja e manjericão (R$ 79), o prato brilha. A massa, produzida ali mesmo, é delicadíssima e envolve um recheio fresco e cremoso. Dá vontade de levar para casa.
Servido sobre uma massa crocante que parece de pastel, o taco de tartare de atum (R$ 39) dá uma escorregada. O sabor intenso e salgado da bottarga que compõe a receita toma conta do paladar e rouba a cena do protagonista. Ao atum, faltava frescor na noite da visita.
A redenção chegou logo, anunciada pelos aromas do cupim braseado com purê de mandioquinha (R$ 95). Na boca, a carne desmancha e revela um toque de defumação que remete ao churrasco americano.
O purê brinca com o sabor da manteiga noisette —aquela que durante o preparo adquire aroma de avelã— e contrasta a textura aveludada com a crocância da farofinha de castanha-do-pará.
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A carta de vinhos tem opções acessíveis. Um merlot de R$ 120 acompanhou muito bem os dois pratos principais e a sobremesa. Sim, se você for pedir a torta basca de gorgonzola (R$ 39), vale preservar uma taça para acompanhá-la.
Essa torta de queijo é servida com doce de leite e crumble cítrico. Sutil e equilibrada, é uma sobremesa que leva a refeição —que já tinha sido adorável— para um nível acima. Não deixe de passar a colher pelas duas pequeninas e translúcidas gotas de gel de limão.
O doce de leite da casa recebe uma versão em musse para acompanhar o pudim com calda de caramelo, toffee de café, crumble cítrico e chantili de cachaça (R$ 35). A criação das sobremesas é da confeiteira formada na Espanha Walkyria Fagundes.
Seu companheiro e sócio, o chef Ygor Lopes, comanda a cozinha aberta —vale aproveitar para espiar a brigada em ação. O ritual dos cozinheiros, de provar cada preparo antes do empratamento, é parte central de uma coreografia vista apenas em restaurantes que prezam pela excelência.
Fonte.:Folha de São Paulo