Às vésperas do Agosto Laranja, mês de conscientização sobre a esclerose múltipla, uma boa notícia para as pessoas afetadas pela condição.
Um dos maiores desafios no convívio com a doença são os surtos ou ataques agudos, caracterizados pela piora ou aparecimento de novos sintomas (veja abaixo). A resolução do problema varia caso a caso, podendo acontecer espontaneamente ou com o uso de medicamentos.
Pensando em estratégias de monitoramento do agravo, cientistas desenvolveram uma nova tecnologia, aprovada recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Sob a tutela da Siemens Healthineers, empresa com foco em tecnologia médica, surge o primeiro exame de sangue para monitoramento da esclerose múltipla a ser aprovado pela agência.
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Através do ensaio de Cadeia Leve de Neurofilamento (NfL), profissionais médicos são capazes de prever surtos da doença com até dois meses de antecedência em relação ao aparecimento dos sintomas clínicos.
O movimento representa um avanço significativo, considerando que esse monitoramento só era possível mediante a realização de um exame de ressonância magnética.
Outra vantagem é que a estratégia contribui para suprir demandas dos laboratórios de diagnóstico, que precisavam encaminhar amostras para fora do Brasil, tornando o exame mais demorado.
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Como funciona o exame
Os neurônios, importantes estruturas do sistema nervoso, contam com uma ampla diversidade de proteínas, com diferentes ações. Uma delas é o neurofilamento — guarde esse nome.
Processos de neurodegeneração, que são ocasionados tanto por doenças neurológicas como pelo envelhecimento natural do corpo, promovem a liberação dessa proteína no sangue e no líquido cefalorraquidiano (fluido que circula pelo cérebro e pela medula espinhal).
Contudo, o neurofilamento é liberado em diferentes contextos. Por isso, ele não é considerado pela medicina um biomarcador específico par ao diagnóstico de qualquer condição.
Porém, diversos estudos têm demonstrado uma eficácia dessa proteína específica para o acompanhamento de dois pontos da esclerose múltipla: a atividade inflamatória e neurodegenerativa. Esse avanço científico ajuda a estimar o risco de novas crises e a monitorar respostas ao tratamento.
“Biomarcador é uma característica objetiva, que serve como um indicador de processos biológicos normais, processos patogênicos ou respostas farmacológicas a uma intervenção terapêutica”, explica o médico patologista clínico Gustavo Bruniera, coordenador médico do Laboratório Clínico do Einstein Hospital Israelita.
“O neurofilamento de cadeia leve é um biomarcador de grande contribuição no manejo da esclerose múltipla. Permite avaliar o grau de inflamação, acompanhar a resposta ao tratamento e, a partir da evolução dos níveis, identificar, por exemplo, o momento mais adequado para trocar a medicação”, explica Bruniera.
Os testes automatizados, como esse, são de alta sensibilidade. “Então conseguem analisar o neurofilamento, mesmo que sua disponibilidade no sangue seja muito menor do que no líquido cefalorraquidiano”, acrescenta Hélida Silva, gerente de Assuntos Médicos da Siemens Healthineers na América Latina, em nota.
O Laboratório Clínico do Einstein será o primeiro no Brasil a executar o exame, que até então era coletado no país e enviado pelos laboratórios para análise no exterior. Neste momento, a unidade atua no processo de implementação da tecnologia, sem prazo para início das atividades.
Os resultados do novo teste são disponibilizados em menos de uma hora.
Os pesquisadores estimam que, com a adoção da nova metodologia, a emissão dos laudos seja ofertada aos pacientes em um prazo de 24 horas a 3 dias. A conquista representa um avanço expressivo em relação ao tempo necessário, por exemplo, para a realização da ressonância magnética, que mencionamos anteriormente.
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De quanto em quanto tempo fazer?
As recomendações presentes em estudos internacionais apontam que a avaliação seja feita a cada seis meses. Contudo, vale frisar que esse prazo pode variar de acordo com a análise individual de cada paciente.
A performance do ensaio desenvolvido pela Siemens Healthineers foi avaliada em um estudo clínico com a participação de 570 pacientes adultos com a doença, com idades entre 18 e 55 anos.
As amostras de sangue foram coletadas juntamente com exames de ressonância magnética, e os pacientes foram acompanhados por dois anos.
O surto na esclerose múltipla
Doença neurológica inflamatória, autoimune e degenerativa, a esclerose múltipla afeta o sistema nervoso central. Os impactos principais envolvem a destruição da bainha de mielina, estrutura que protege os neurônios e permite a condução dos impulsos nervosos de maneira adequada.
Em geral, a doença, que tem aumentado no mundo, atinge adultos jovens, entre 20 e 40 anos. Durante os surtos, os indivíduos acometidos podem apresentar uma variedade de sintomas.
Os principais são: perda visual, diminuição ou paralisia de movimentos dos membros, sensação de dormência ou formigamento, disfunções da coordenação e do equilíbrio, inflamação da medula espinhal, além de alterações de aprendizado e do comportamento.
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Fonte.:Saúde Abril