A energia produzida pelo agronegócio, especialmente a partir da biomassa da cana-de-açúcar, é responsável por 29% da oferta nacional de energia, de acordo com um estudo produzido pelo observatório de bioeconomia da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Considerando toda a energia disponível em 2023, o estudo mostra que a participação do agronegócio na produção de energia no Brasil, que inclui tanto a geração de eletricidade a partir de matérias-primas agrícolas quanto o uso de biocombustíveis em substituição aos combustíveis fósseis, avançou de forma significativa, já que em 1970 representava 9,7%.
O estudo leva em conta toda a energia que é utilizada pelos diferentes setores econômicos —incluindo dos domicílios, indústria e setor de transportes, por exemplo— e contempla não só a energia elétrica, mas também a dos combustíveis e a chamada energia primária, segundo o coordenador do núcleo de bioenergia do observatório da FGV, Luciano Rodrigues.
“Quando queimo lenha, ela não é convertida em energia elétrica e combustível, mas foi gerada energia no processo, para tocar uma indústria. A matriz energética contempla todo tipo de energia que é gerada no país”, disse.
Estão incluídos no cálculo da bioenergia vinculada ao agro a biomassa da cana-de-açúcar —a principal delas—, lenha e carvão vegetal, óleos vegetais, lixívia (resíduo da indústria de papel e celulose), biogás e outras biomassas, como a do milho.
Sozinha, a biomassa de cana representa 16,87% da bioenergia vinculada ao agro, seguida pela lenha e carvão vegetal, com 5,20%.
O estudo identificou primeiro todos os setores de energias ligadas ao agro, tanto primárias quanto secundárias, e desagregou os dados, quando necessário. O biometano foi um dos casos de separação: há o percentual correspondente ao gás gerado a partir de dejetos de suínos e outra parte que é proveniente de aterros sanitários, sem vínculo com as atividades agrícolas.
O mesmo cenário se aplica à lenha, que tem parcela consumida pela silvicultura, atividade do agro, e outra parcela, legal ou ilegal, de exploração de vegetação natural, sem elo com a agropecuária.
“Identificamos toda a energia que vem exclusivamente do agro. Estamos falando da energia da cana-de-açúcar, que gera bioeletricidade e etanol, da soja, que gera biodiesel, do milho, que gera etanol, da madeira, indústria de papel e celulose, e outras.”
A análise no estudo teve como base dados do Balanço Energético Nacional, da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
Quando analisadas somente as fontes de energia renováveis, o levantamento mostra que a participação do agronegócio chega a 60%. Sem essa contribuição, a matriz de energia renovável cairia de 49% para 20%, perto dos 15% de média global.
O peso da biomassa da cana, que no passado era descartada nas usinas, deverá crescer nas próximas duas décadas, já que o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), em Piracicaba (a 160 km de São Paulo), desenvolve um pacote tecnológico que pretende dobrar a produtividade das lavouras de cana-de-açúcar até 2040.
Além de novas variedades de cana —desenvolvidas com base em seleção genômica, inteligência artificial e edição gênica—, investimentos têm sido feitos para combater a broca-da-cana, praga responsável por perdas de até R$ 8 bilhões por ano, e para a implantação de um novo sistema de plantio que usa sementes sintéticas de cana.
Folha Mercado
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“Hoje estamos com uma área estabilizada em 10 milhões de hectares de cana, mas com potencial de crescimento da produtividade muito grande. A transgenia na soja tem duas décadas, e na cana muito menos tempo do que isso, então há um espaço grande para expansão”, disse Rodrigues.
Fonte.:Folha de S.Paulo