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- Author, Redação
- Role, BBC News Mundo
Entre as grandes economias da América Latina, o Peru, México e o Brasil (nesta ordem) foram os países que verificaram o maior aumento dos investimentos estrangeiros diretos em 2024, em comparação com o ano anterior.
“Os investidores têm maior confiança nestes países”, declarou à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC) a professora Mine Doyran, da Escola de Negócios da Universidade da Cidade de Nova York (CUNY, na sigla em inglês), nos Estados Unidos.
“Eles observam condições favoráveis para fazer negócios, potencial de crescimento e um ambiente mais estável”, explica ela.
Por outro lado, a redução do fluxo de capital vindo do exterior costuma ser um sinal de preocupação sobre a estabilidade econômica, o ambiente político ou as perspectivas de crescimento de um país.
É claro que sempre existem nuances. Não se trata apenas de analisar o quanto aumentou ou diminuiu o volume de investimento estrangeiro.
Existe uma questão ainda mais importante que os valores, que é o tipo de investimento.
Na América Latina, os investimentos estrangeiros diretos (IED) cresceram em 2024 em 7,1%, em relação ao ano anterior. Ao todo, foram investidos US$ 189 bilhões (cerca de R$ 1 trilhão), equivalentes a 2,8% do Produto Interno Bruto da região).
Mas, ao mesmo tempo em que os IED aumentaram, a entrada de novos investidores na região permaneceu estagnada.
Isso se explica, basicamente, porque os IED incluem vários itens em uma mesma cesta.
‘Maior confiança’
De um lado, os números refletem a chegada de capital novo do exterior, o que é conhecido tecnicamente como aporte de capital. Mas eles também incluem os reinvestimentos de lucros de empresas estrangeiras no mesmo país.
E, por fim, os IED também consideram os empréstimos feitos entre as companhias.
O que aconteceu na América Latina em 2024, segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), é que o aumento dos investimentos estrangeiros se deveu ao reinvestimento de fundos por empresas internacionais que já operavam na região, não ao ingresso de novas companhias multinacionais.
E a estagnação da entrada de novos investidores “reflete o baixo interesse de novas empresas em ingressar na região”, segundo Doyran.
Por isso, analisando o panorama como um todo, a professora afirma que os dados de IED “são boas e más notícias ao mesmo tempo”: as empresas instaladas na região reinvestiram seus lucros em vez de levá-los embora, mas não houve entrada de capital novo.
Entre as maiores economias da região, três países registraram o maior aumento dos investimentos estrangeiros diretos: Peru (57%), México (48%) e Brasil (14%).

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O que estes dados dizem sobre a economia dos três países?
Doyran explica que, basicamente, os dados sugerem que os investidores “possuem mais confiança” nestas nações.
Ela destaca que este é um ponto importante, pois os investimentos nestes países representam compromissos comerciais de longo prazo. Ou seja, os investidores observam condições favoráveis para fazer negócios, potencial de crescimento e estabilidade política e econômica no horizonte.
Os investimentos no Brasil e no México
O Brasil foi o terceiro país latino-americano com maior aumento de investimentos estrangeiros em 2024.
A entrada de capital estrangeiro aumentou em 14%, atingindo US$ 71 bilhões (cerca de R$ 391 bilhões), principalmente devido ao reinvestimento de lucros das empresas já presentes no país.
O setor industrial foi o que mais atraiu investimentos estrangeiros em 2024, principalmente em relação aos derivados de petróleo, biocombustíveis e coque, utilizado principalmente na indústria siderúrgica.
Para Doyran, “é bom que os investimentos no setor industrial aumentem no Brasil e no México”.
A professora explica que este é um sinal positivo, pois as indústrias normalmente criam mais empregos, que podem gerar maior valor agregado aos produtos.

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O México ocupa o segundo lugar da lista. O aumento dos IED foi de 48%, atingindo US$ 45,3 milhões (cerca de R$ 249,4 milhões), o valor mais alto desde 2013.
Parte do aumento dos investimentos estrangeiros no México, segundo os especialistas, está relacionado com o nearshoring — a prática de relocação de empresas para perto do mercado americano, em meio às tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China.
Além disso, os investidores estrangeiros mantiveram sua confiança no ambiente comercial mexicano.
Dados da Cepal indicam que a maior parte do aumento dos IED no México se deveu ao reinvestimento de lucros das empresas que já operam no país, seguido pelos empréstimos entre as companhias.
O setor industrial foi o que mais impulsionou os investimentos estrangeiros no México no ano passado. E os Estados Unidos continuaram sendo a principal fonte de entradas de IED no país, com um aumento de 23% em relação ao ano anterior, seguidos pelo Japão e pela Alemanha.
Atualmente, existe um certo nível de incerteza sobre os planos de investimentos americanos no México, frente à política do presidente Donald Trump de impor tarifas de importação sobre os automóveis, aço, alumínio, peças metálicas e tomates produzidos no país.
Mas, apesar das incertezas, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou o crescimento econômico mexicano para este ano em 0,2% — uma estimativa mais positiva do que a contração da economia prevista anteriormente.
O caso do Peru
O país latino-americano que registrou o maior aumento dos investimentos estrangeiros diretos em 2024 foi o Peru. E o seu caso é bastante singular.
Diferentemente da tendência regional, o maior impulsionador do aumento dos investimentos estrangeiros no país foram os aportes de capital, ou seja, a chegada de novos fundos do exterior. Já o reinvestimento de lucros e os empréstimos entre os bancos diminuíram.
O Peru é conhecido como um dos grandes destinatários de investimentos estrangeiros, segundo Doyran, por ser uma das economias mais abertas da região — especialmente em áreas como a mineração, a infraestrutura e a energia, que contam com menos regulamentações do que outros países.
Outro fator que contribuiu para o aumento de 57% dos IED (que chegaram em 2024 a US$ 6,8 bilhões, ou cerca de R$ 37,4 bilhões) foi a recuperação da mineração e dos preços globais das matérias-primas.
Em 2024, o Peru anunciou três megaprojetos: a construção e operação de uma nova rodovia no contorno de Lima, o desenvolvimento de uma fábrica de produção de amoníaco verde alimentada por energia solar, na região de Arequipa, no sul do país, e a expansão da mina de cobre e zinco de Antamina, nos Andes peruanos — o anúncio mais importante do setor de metais desde 2019.
No outro lado do ranking, os países onde os IED mais baixaram em 2024 foram a Argentina (-53%), o Chile (-32%) e a Colômbia (-15%).
Na América Central, os investimentos estrangeiros aumentaram em todos os países. Um destaque foi o Panamá, que registrou crescimento de 36%.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL