10:27 PM
24 de abril de 2025

América Norte pode estar sofrendo erosão e afundando aos poucos

América Norte pode estar sofrendo erosão e afundando aos poucos

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Um estudo recente, publicado na revista Nature Geoscience, revelou um fenômeno por enquanto imperceptível, mas que representa um risco para a estabilidade geológica da América do Norte: uma porção da base rochosa profunda que sustenta o continente está se desprendendo lentamente e afundando em direção ao manto terrestre.

Esse “gotejamento” de rochas em direção à camada intermediária superquente da Terra, entre a crosta e o núcleo, está criando uma estrutura parecida com um funil, concentrada sobre uma região do Centro-Oeste dos EUA. O fenômeno está puxando as rochas antigas do bloco continental em sentido horizontal, antes que despenquem para o interior quente do planeta.

Essas rochas antigas são, na verdade, o que os geólogos chamam de cráton, um gigantesco bloco continental, composto por rochas graníticas estáveis e rígidas, que perduram por bilhões de anos, constituindo uma base sólida para todas as terras continentais. Diferentemente das placas oceânicas, empurradas para baixo e recicladas, os blocos continentais resistem devido à sua menor densidade e maior espessura (até 200 km).

Usando dados de terremotos para entender o fenômeno

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Figura do estudo mostrando os gotejamentos de rocha. (Fonte: Junlin Hua et al., Nature Geoscience, 2025/Divulgação)

Apesar de extremamente sólido, o cráton não é imutável, pois repousa sobre a chamada astenosfera, uma camada do manto superior com comportamento viscoso, capaz de fluir ao longo de grandes escalas de tempo. Isso significa que essa base aparentemente inabalável não está livre de processos que podem, eventualmente, afetar a sua integridade.

Para testar suas hipóteses, os autores utilizaram um novo modelo tomográfico sísmico de forma de onda completa para a América do Norte, com base em dados coletados pelo projeto EarthScope. O modelo computacional trouxe à tona detalhes inéditos sobre os processos geológicos que ocorrem na crosta e no manto, debaixo do cráton conhecido como Escudo Canadense.

Em um comunicado, o coautor Thorsten Becker, professor da Universidade do Texas em Austin, explica que o método permitiu focar na zona entre o manto profundo e a litosfera mais rasa, em busca de pistas sobre o que está ocorrendo. Isso é importante “se quisermos compreender como um planeta evoluiu ao longo do tempo. Isso ajuda a entender como os continentes são formados, como são quebrados e como são reciclados”, diz o geofísico.

O que os cientistas descobriram sobre o afundamento do cráton?

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Uma placa tectônica pode estar erodindo o cráton norte-americano aos poucos. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

O novo modelo sísmico permitiu, pela primeira, visualizar com riqueza de detalhes o tal “gotejamento” do cráton, ou seja, partes da base continental se soltando e afundando em direção ao manto. Os cientistas estão ligando esse processo à antiga Placa de Farallon, que começou a mergulhar sob o continente há cerca de 200 milhões de anos, mas ainda continua influenciando a região, mesmo a 600 quilômetros de distância do cráton.

Mapeada sismicamente pela primeira vez na década de 1990, essa placa pode estar provocando uma erosão subterrânea, ao liberar agentes químicos que enfraquecem a base do cráton. O modelo revelou que esse afinamento da base ocorre não apenas no local, mas se estende por uma faixa ampla da América do Norte.

As simulações computacionais confirmaram as suspeitas. Quando a Placa de Farallon era incluída nos modelos, o cráton começava a “pingar”, mas, quando ela era retirada da simulação, o processo parava. “Pode parecer exagero, mas os sinais estão ali, surgindo e sumindo em padrões que fazem todo sentido”, concluiu Thorsten Becker.

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Fonte.: TecMundo

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