O culto ao corpo acompanha a História. No universo masculino, a valorização do físico está associada às ideias de liderança, poder e virilidade.
Nesse contexto, a testosterona — principal hormônio masculino que tem sua ação acontecendo em quase todos os órgãos e funções do corpo — acaba ganhando um protagonismo desproporcional, exagerado e, por vezes, perigoso.
Os seus efeitos biológicos são conhecidos desde a antiguidade, mesmo antes de identificar a testosterona como o agente ativo.
A produção desse hormônio no homem ocorre principalmente nos testículos. E embora seja contínua ao longo da vida, os seus níveis tendem a diminuir com o envelhecimento.
Além da idade, sabemos hoje que fatores como obesidade, sedentarismo, diabetes e hipertensão também aceleram essa queda. E quando os seus níveis ficam abaixo do normal, surge o hipogonadismo, uma condição que pode causar cansaço, irritabilidade, baixa libido, dificuldades de ereção, perda de massa muscular e desânimo.
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Nesses casos, a reposição de testosterona é um tratamento médico indicado, com o objetivo de restabelecer os níveis hormonais e melhorar a qualidade de vida do paciente.
O tratamento deve sempre ser baseado em exames e sintomas, e feito sob supervisão médica. Não se trata de “melhorar o que já está normal”, mas de corrigir uma deficiência real.
Entretanto, cresce o número de pessoas que, em busca de melhora da performance física e sexual, emagrecimento e ganho de massa muscular e até uma suposta prevenção do envelhecimento, fazem uso indevido da testosterona, sem indicação comprovada, em doses acima do normal, e sem acompanhamento correto. Neste cenário ela pode trazer sérios riscos à saúde.
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Abuso de testosterona
O termo é usado para definir o uso não prescrito, muitas vezes, com o objetivo de ganho muscular e estético. A adesão exagerada à testosterona e seus derivados sintéticos — os esteroides anabolizantes androgênicos era mais restrita a atletas no passado.
Hoje, há jovens não esportistas, que buscam emagrecimento e corpos mais musculosos de forma rápida, recorrendo muitas vezes a produtos ilegais, comprados pela internet ou em academias, sem controle de qualidade ou de dosagem.
Comumente esses hormônios são usados em “ciclos”, com combinações de substâncias (“stacking”), guiados por informações científicas de qualidade duvidosa.
As consequências podem ser graves. A curto prazo, surgem problemas como acne, retenção de líquidos, aumento da pressão, alterações genitais e ginecomastia. Homens podem ter atrofia testicular e infertilidade. Enquanto as mulheres estão sujeitas a alterações permanentes na voz e nos genitais.
A longo prazo, os riscos aumentam: doenças cardiovasculares, problemas hepáticos, tumores e desequilíbrios hormonais que podem ser irreversíveis. Além disso, o impacto psicológico inclui agressividade, depressão e até dependência.
Existem formas saudáveis e eficazes de mudar o corpo, aumentar o desempenho e corrigir os níveis hormonais com acompanhamento médico, nutricional e físico adequados. Consulte sempre um especialista e opte por caminhos seguros e baseados em evidência científica.
*Marcelo Cabrini é urologista, formado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), especialista em medicina sexual pelo Johns Hopkins Hospital, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo.
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Fonte.:Saúde Abril