O desejo de engravidar envolve sonhos, expectativas e, muitas vezes, muita pressão. O que poucos sabem é que fatores emocionais como ansiedade, estresse e frustração podem afetar diretamente a fertilidade.
Para entender por que cuidar da mente também é parte do tratamento, conversamos com o ginecologista Dani Ejzenberg, especialista em Reprodução Assistida e médico da Nilo Frantz – Clínica de Medicina Reprodutiva.
Dr. Dani, por que falar de saúde emocional é tão importante quando o assunto é fertilidade?
Porque o emocional influencia o físico. Estudos mostram que até 30% dos casais com infertilidade apresentam sintomas de ansiedade, e até 80% relatam sintomas depressivos.
Isso interfere não só na fertilidade em si, mas também na qualidade da vida sexual e na convivência do casal. O caminho para engravidar pode ser desgastante, e a mente precisa estar bem para o corpo funcionar em equilíbrio.
A ansiedade pode realmente atrapalhar as chances de engravidar?
Sem dúvida. A ansiedade desregula o eixo hormonal, impactando diretamente a ovulação e até a produção de espermatozoides. E há também o efeito indireto: a cobrança, a frustração e a culpa geram tensão, que pode levar à evasão de relações sexuais nos períodos férteis.
Ou seja, o estresse vira um círculo vicioso.
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Há estratégias que ajudam a reduzir essa pressão durante a tentativa de gravidez?
Sim. Um bom começo é evitar contar para muita gente que estão tentando engravidar. Isso reduz a cobrança externa. Além disso, manter o foco na relação e não só no objetivo ajuda a aliviar a tensão.
Atividades físicas, alimentação equilibrada, momentos de relaxamento e o acompanhamento psicológico fazem diferença. E claro, se a gestação não ocorre, buscar ajuda especializada no tempo certo é fundamental.
Quando é o momento de procurar essa ajuda especializada?
Para mulheres com menos de 35 anos, depois de um ano de tentativas. Acima dessa idade, após seis meses. E vale lembrar que o ideal é planejar a gravidez antes dos 35 anos, pois a fertilidade feminina começa a cair com mais força a partir daí.
O mesmo vale para os homens, com uma queda mais lenta, que começa por volta dos 45 a 50 anos.
E quanto ao uso de medicamentos como antidepressivos ou ansiolíticos? Eles podem interferir na fertilidade?
Sim, alguns medicamentos podem interferir, por isso precisam ser acompanhados de perto por um médico. Mas isso não significa que a pessoa deva interromper o tratamento sozinha.
O acompanhamento conjunto entre o psiquiatra e o especialista em reprodução é essencial para avaliar riscos e benefícios e garantir o equilíbrio entre saúde mental e fertilidade.
Que mensagem o senhor deixaria para quem está enfrentando esse desafio?
A jornada da fertilidade nem sempre é linear. Às vezes, é longa, emocionalmente exigente e cheia de incertezas. Mas cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo.
Com apoio, acolhimento e um olhar integral para a saúde, esse caminho pode ser muito mais leve e cheio de esperança.
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*Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health
Fonte.:Saúde Abril